Correio braziliense, n. 20454, 22/05/2019. Política, p. 4

 

Marinho defende Previdência

Hamilton Ferrari

Alessandra Azevedo

22/05/2019

 

 

Reformas » Parlamentares ganham mais nove dias para apresentar emendas, que já somam 16. Texto original é a base, diz secretário

O secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, defendeu a proposta do governo de reforma da Previdência dos ataques de parlamentares. Segundo ele, a proposta encaminhada pelo governo será fundamental para a retomada do crescimento e do emprego. Para ele, o Congresso não pode descartar o texto apresentado pela equipe econômica e fazer outro do zero. "Não é assim", criticou. "A matéria que foi apresentada pelo governo certamente vai servir de base para a discussão", afirmou ontem na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara.

O debate entre os parlamentares deve gerar modificações, como já sinalizou grande parte dos deputados da Comissão Especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 6, nomeada pelo Executivo como a "Nova Previdência". O secretário enfatizou que a idade mínima diminui a desigualdade entre os ricos e os mais pobres. "53% da população brasileira se aposenta com 65,5, anos no caso dos homens,  e com 61,5 anos, no caso das mulheres. O que nós estamos propondo é que os mais ricos tenham as mesmas condições que os mais pobres. Ou seja, dentro de um período de transição, as pessoas que têm maior poder aquisitivo, que se aposentam entre 55 e 56 anos, devem ter as mesmas condições e as mesmas regras de cálculo que os mais pobres", argumentou Marinho.

A presidente da Comissão, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), afirmou que os parlamentares da oposição estão dispostos a discutir a reforma da Previdência, mas que é preciso afastar alguns temas do texto, como as mudanças no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que é voltado para os trabalhadores da iniciativa privada, e a capitalização. "Nós vamos sentar na mesa e começar a discussão", disse. “Querer tirar R$ 715 bilhões em 10 anos do Regime Geral e, em 20 anos, R$ 3,449 trilhões é simplesmente absurdo”, criticou.

O texto do governo também foi criticado por tentar alterar as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a aposentadoria rural. Marinho justificou que, há seis anos, o Brasil não tem superavit primário. "O país se endivida para pagar custeio da máquina pública. Isso é tóxico", enfatizou. "Na hora que o cheque especial é usado para comprar comida no supermercado, é evidente que, em algum momento, o seu crédito vai se exaurir e quem empresta vai aumentar os juros. Vai rolando uma dívida que se torna impagável", acrescentou.

Segundo o secretário, quanto nais aumentar o deficit, menor será a capacidade de investimento do governo em saúde, educação, obras sociais e infraestrutura. "Isso é algo cartesiano, matemático, objetivo", argumentou. "O texto foi entregue ao parlamento, que tem capacidade, condição e legitimidade de se debruçar sobre ele para fazer as modificações que achar conveniente".

Marinho apresentou ainda argumentou sobre as mudanças na natureza dos empregos que, segundo ele, afetará a arrecadação, e prometeu que a equipe econômica vai divulgar um relatório, no próximo mês, sobre as características do trabalho do futuro.

Mais prazo

Atendendo a pedidos dos líderes dos partidos, o presidente da Comissão Especial, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), aumentou o prazo para apresentação de emendas à PEC. O prazo venceria na próxima quinta-feira, dia 23, mas foi prorrogado até o dia 30. Até agora, já foram apresentadas 16 emendas. Ele afirmou, porém, que está mantido o calendário, ou seja, o prazo para a apresentação do texto substitutivo será mantido em 15 de junho.

Ontem, a Comissão Especial recebeu especialistas para debater as mudanças propostas para o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e para o Abono Salarial.

O governo sugere que o BPC, que hoje é pago aos beneficiários (idosos e deficientes em situação de extrema pobreza) com 65 anos, passe para 70 anos. Em contrapartida, sugere que a partir dos 60 anos, os idosos nessa situação, com renda inferior a um quarto de salário mínimo, tenham acesso a um benefício de R$ 400,00.

Para a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Luciana de Barros Jaccoud, as mudanças podem aumentar a desigualdade entre idosos e deficientes e servir de impulso para a judicialização envolvendo o tema. "Teremos a ampliação da desigualdade com as mudanças propostas no BPC, sendo que justamente o BPC foi um dos pilares da redução da desigualdade no Brasil", afirmou.

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Correio debate hoje Reforma da Previdência

22/05/2019

 

 

 

 

O Correio reúne hoje vários dos principais atores que discutem a Reforma da Previdência, no seminário Por que a reforma é crucial para o futuro do país?, que contará com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Organizado com o Estado de Minas, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Sebrae, o evento ocorre em meio a acaloradas discussões entre os poderes Legislativo e Executivo em torno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 6/2019).

Também participam dos debates, o presidente da Comissão Especial, Marcelo Ramos (PR-AM), o relator da proposta, Samuel Moreira (PSDB-SP), a líder do governo no Congresso, Joice Haasselmann (PSL-SP) e a deputada federal Beatriz Kicis (PSL-DF). O secretário Especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, confirmou presença.

O Correio também convidou especialistas e representantes do setor produtivo para tratar dos impactos nas contas públicas e no crescimento do país. Entre os painelistas, estarão o vice-presidente executivo da CNI, Paulo Afonso Ferreira, a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, e o economista, doutor em ciência política e pesquisador Paulo Tafner.

"A CNA apoia a reforma da Previdência porque tem um compromisso com o Brasil. O país não pode esperar. Nós entendemos que a reforma é urgente e fundamental para o país crescer, gerar empregos, incentivar os investimentos públicos e privados e criar oportunidades para melhorar a vida de todos os brasileiros", diz o presidente da confederação, João Martins.

O Brasil está com deficit nas contas públicas desde 2016 e as previsões apontam para um possível superavit apenas entre 2022 e 2023. Se as estimativas se concretizarem, o país deve ficar nove anos no vermelho. As despesas previdenciárias são um fator determinante para o rombo nas contas. Há anos, os gastos com aposentadorias e pensões crescem mais do que os demais custeios do setor público.

As despesas obrigatórias representam 94% do orçamento federal, o que permite um espaço de apenas 6% para a ampliação do investimento em outras áreas, como a educação, a infraestrutura e a saúde, por exemplo. A Previdência responde por mais de 50% deste montante. Só neste ano, o país gastou R$ 750 bilhões, "o que é três vezes mais do que nós gastamos com educação, saúde e segurança pública, somados", comparou Guedes, em audiência pública na Câmara, na última quarta-feira. A "velha Previdência", segundo ele, está "condenada à explosão". (HF)

Programação

Seminário Previdência: por que a reforma é crucial para o futuro do país?

Data: 22 de maio de 2019 (hoje)

Horário: 9h às 13h30

Local: Auditório do Correio Braziliense (Brasília)

9h – Credenciamento e Wellcome Coffee

9h30 -  Abertura

» Paulo Guedes -— Ministro da Economia

10h - painel 1  A importância de um sistema mais justo

Abertura:

» Paulo Afonso Ferreira — Vice-Presidente Executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Mesa

» Marcelo Ramos — Presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência

» Joice Hasselmann — Deputada Federal

» Rogério Marinho  — Secretário Especial de Previdência Social

11h - painel 2  Crescimento, emprego e ajuste nas contas públicas

Abertura:

» Bruno Quick  — Diretor Técnico do Sebrae

Mesa:

» Fábio Giambiagi — Mestre em economia pela UFRJ e economista do BNDES

» Selene Nunes — Economista, contadora e Auditora Federal de Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional

» Pedro Nery — Consultor Legislativo do Senado Federal

» Renato Follador — Presidente do Fundo Paraná de Previdência

Multipatrocinada

12h- painel 3 - Como será o Brasil pós Previdência

Abertura:

» Roberto Brant — Presidente do Instituto CNA

Mesa:

» Solange Srour — Economista-chefe da ARX Investimentos

» Paulo Tafner — Economista, doutor em ciência política e pesquisador

da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE/USP)

» Beatriz Kicis — Deputada Federal

» Samuel Moreira — Deputado Federal e Relator da Reforma da Previdência

3h  -  Encerramento

» Rodrigo Maia — Presidente da Câmara dos Deputados