Título: Ministros usam viagens para fazer campanha
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2012, Política, p. 4

Integrantes do primeiro escalão aproveitam os deslocamentos oficiais para reforçar a candidatura de aliados. A maioria dos que se engajaram está de olho na disputa de 2014

A timidez da presidente Dilma Rousseff em participar de atos públicos de campanha contrasta com o entusiasmo com que seus subordinados na Esplanada dos Ministérios empenham-se para eleger aliados em todos os cantos do país. A maior parte dos ministros aproveitou agendas oficiais das respectivas pastas para esticar os compromissos em comícios, carreatas, caminhadas ou conversas sobre planos de administração. Buscam, com isso, pavimentar futuros passos políticos, já que muitos deles pretendem candidatar-se aos respectivos governos estaduais em 2014.

Os ministros receberam, ao todo, R$ 594 mil este ano para custear despesas com os deslocamentos de Brasília a outras cidades e ao exterior. Por um dia de expediente fora da capital federal, cada ministro pode receber até R$ 581. As diárias são concedidas a título de indenização por gastos extraordinários com pousada, alimentação e locomoção. A coincidência entre agendas oficiais e compromissos de campanha, contudo, não configura ilegalidade.

Para evitar questionamentos, alguns optam por tirar licença dos respectivos cargos. É o caso, por exemplo, do ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), que transfere o cargo a partir de hoje para o secretário-executivo, Paulo Paim. Mercadante, um dos possíveis pré-candidatos do PT ao governo de São Paulo, deixa de ser ministro até o domingo 7 de outubro para auxiliar na eleição de Fernando Haddad para a prefeitura da capital paulista. Até o momento, já gravou 843 mensagens de apoio a candidatos do partido.

Ele deve estender o périplo para outros municípios próximos. No fim de agosto, Mercadante esteve em Porto Alegre para participar de evento de lançamento de campanha institucional do Grupo RBS sobre educação. Aproveitou para se encontrar com o candidato do PT à prefeitura, Adão Villaverde. Eles debateram pontos do programa do candidato. O petista está bem distante dos dois líderes, Manuela D"Ávila (PCdoB) e José Fortunati (PDT) — este último, inclusive, tende a ser reeleito em primeiro turno.

Legislação Outro nome forte no PT para 2014 é o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Procurado pelo Correio para explicar suas agendas de campanha, tomou o cuidado de encaminhar uma nota oficial afirmando que, "quando demandado para participar de eventos político-partidários e eleitorais, obedece rigorosamente a legislação eleitoral, ou seja, age dentro dos limites do cargo que ocupa, sem prejuízo de sua função pública e sem uso de qualquer estrutura oficial". Para eventos oficiais, Padilha foi contemplado com R$ 32,9 mil em diárias.

O ministro da Saúde demonstrou, contudo, um fôlego impressionante para quem comanda uma pasta por demais complicada. Só em setembro, Padilha esteve em municípios dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Quem também de olho nas eleições estaduais de 2014 é a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela recebeu R$ 8 mil em diárias este ano. Em 16 de agosto, por exemplo, ela esteve em São Paulo para participar do prêmio As Melhores da Dinheiro 2012 e, no dia seguinte, foi a Chapecó (SC) cumprir agenda política em Abelardo Luz, no comitê central de campanha do atual prefeito Dilmar Fantinelli (PT), que disputa a reeleição.

Ideli percorreu praticamente todos os municípios catarinenses. Mas seu eixo principal de atuação é nas quatro principais cidades do estado: Florianópolis, Blumenau, Chapecó e Joinville. Nessa última, o candidato do PT está em apuros. O atual prefeito, Carlito Merss (PT), teve sua candidatura cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral por três votos a um. Ainda cabe recurso.

O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não será candidato a cargos eletivos daqui a dois anos. Nome importante na estrutura do staff palaciano de Dilma Rousseff e na burocracia partidária, ele jamais teve um mandato eletivo. Mesmo assim, arrumou as malas para ajudar petistas. Esteve, principalmente, na capital paulista, no ABC, em Jundiaí e em Franco da Rocha. Esticou também a agenda para Belo Horizonte — no último fim de semana, ele esteve no palanque de Patrus Ananias — e em outras cidades mineiras. Os petistas não admitem, mas o esforço é para frear o ímpeto dos candidatos apoiados pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Não são só os petistas que colocam o pé na estrada. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, também está engajado para ajudar o seu partido e os aliados do PCdoB. Ele viajou para São Luís para apoiar a campanha do candidato de Flávio Dino na disputa pela prefeitura da capital. Dino tirou férias da Embratur para tentar eleger Edivaldo Holanda Júnior (PTC) e derrotar o candidato da família Sarney, o petista Washington Luiz. A disputa, por enquanto, está sendo liderada pelo candidato do PSDB e atual prefeito, João Castelo.

"Quando demandado para participar de eventos político-partidários e eleitorais, (o ministro) obedece rigorosamente a legislação eleitoral, sem prejuízo de sua função pública e sem uso de qualquer estrutura oficial"

Alexandre Padilha, ministro da Saúde, em nota oficial

Análise da notícia Lula só foi "na boa"

Principal nome da história do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma atuação nas eleições municipais bem aquém daquela que ele mesmo imaginava ou pretendia. Em recuperação de um câncer de laringe, o petista viu-se obrigado a restringir ao máximo suas viagens ou gravações de mensagens de apoio aos candidatos do PT e aliados. Decidiu, então, "só ir na boa", resumindo suas aparições às cidades em que vislumbrava melhores condições de êxito. Apenas São Paulo ficou fora desse cálculo político. Lula cancelou todas as agendas políticas nos demais estados para dedicar-se, na reta final, a eleger os candidatos do PT no principal estado do país. O objetivo central é levar Fernando Haddad para o segundo turno das eleições para a prefeitura paulistana. Mas Campinas e algumas cidades do AB paulista também devem ser visitadas por ele. Para além das fronteiras paulistas, Lula deu sorte ao candidato do PT à prefeitura de Salvador, Nelson Pellegrino. Duas semanas após o comício que fizeram juntos, o petista apareceu pela primeira vez à frente do candidato do DEM, ACM Neto. O ex-presidente também esteve no palanque de Vanessa Grazziottin (PCdoB), que tenta derrotar o candidato do PSDB, Arthur Virgílio na disputa pela prefeitura de Manaus. As remotas chances de vitória afastaram Lula dos palanques de Wellington Dias (PT-PI) em Teresina e de Humberto Costa (PT-PE) em Recife. Os dois protestaram, mas o ex-presidente, alegando recomendações médicas, não se comoveu com os apelos. "Lula continua sendo um bom cabo eleitoral. Mas não basta um cabo eleitoral, é preciso um candidato que convença o eleitorado", afirmou o presidente do PT paulistano, Antônio Donato. (PTL)

Apoio oficial Ministros viajam para cumprir agenda oficial e também para ajudar campanhas de aliados. Confira as andanças de alguns ministros em cidades onde correligionários lutam pela prefeitura:

Ideli Salvatti (Relações Institucionais): Diárias: recebeu R$ 8 mil em diárias neste ano. Viagens: » 16 e 17 de agosto: São Paulo e Chapecó (SC). Em Santa Catarina, cumpriu agenda política em Abelardo Luz, no comitê central de campanha do atual prefeito Dilmar Fantinelli (PT), que disputa a reeleição. » 24 de agosto: Chapecó (SC). Participou de solenidade de entrega das chaves e inauguração de 472 moradias do Minha Casa Minha Vida .

Alexandre Padilha (Saúde): Diárias: recebeu R$ 32,9 mil em diárias neste ano Viagens: » Agosto: Uberaba (MG) e Campo Grande, por onde passou cumprindo missão oficial e também gravou vídeos em apoio aos candidatos do PT à prefeitura.

Aloizio Mercadante (Educação): Diárias: recebeu R$ 19,8 mil em diárias neste ano Viagem: » 28 de agosto: Porto Alegre. Lá, participou de evento de lançamento de campanha institucional do Grupo RBS sobre educação e aproveitou a passagem na capital para debater pontos do programa do candidato petista à prefeitura, Adão Villaverde.

Paulo Bernardo (Comunicações): Diárias: recebeu R$ 10,7 mil em diárias neste ano Viagens: » 6 de julho: Rancho Alegre (PR). Participou de lançamento de serviço 3G na cidade, onde candidato do PT disputa a prefeitura com um do PSDB.