O Estado de São Paulo, n.45824, 04/04/2019. Economia, p. B1

 

Guedes deixa CCJ escoltado depois de sessão marcada por bate-boca 

Adriana Fernandes 

Idiana Tomazelli 

Lorenna Rodrigues 

04/04/2019

 

 

A audiência pública do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) terminou em confusão e foi um prenúncio das dificuldades que a aprovação da proposta deverá enfrentar. Antes do bate-boca, os parlamentares já haviam deixado claro os pontos de maior resistência, entre eles a introdução do regime de capitalização e as mudanças no benefício assistencial para idosos miseráveis (BPC).

“Quem acha que a reforma da Previdência não é necessária, é caso de internamento”, disse Guedes.

A sessão foi tensa, dominada pela oposição e teve de ser encerrada, com Guedes saindo escoltado, após bate-boca com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR). O filho do ex-ministro José Dirceu acusou o ministro de ser “tchutchuca” com os mais privilegiados e “tigrão” com os mais pobres. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu depois da sessão. “Chamar um ministro de ‘tchutchuca’ é um absurdo”, afirmou ao Estado. “É péssimo para a Câmara. Paulo Guedes tem dialogado com respeito com o Parlamento”. Ele rebateu a afirmação de alguns parlamentares de que a reforma pode ter morrido com essa confusão na largada. “Claro que não, vamos avançar.”

Congressistas da oposição chegaram duas horas antes do início da sessão para serem os primeiros a falar. Por cinco horas, o ministro ficou exposto aos ataques. Numa clara falta de articulação, só por volta das 19h, os deputados aliados começaram a sair em apoio a Guedes.

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) circulou no plenário da CCJ, mas não saiu em defesa pública do ministro. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), não apareceu.

Após o bate-boca, o próprio presidente e outros integrantes do governo foram às redes sociais tentar reverter a situação e disseram que a “esquerda” saiu prejudicada.

Capitalização. Guedes defendeu com veemência o modelo de capitalização. “O Brasil jamais terá uma previdência como a do Chile”, disse. No regime, o trabalhador contribui para uma conta individual, cujos recursos depois bancarão a própria aposentadoria. A ideia do governo é que a capitalização substitua gradualmente o atual modelo, da repartição, no qual quem contribui paga os benefícios de quem já está aposentado.

Já no caso do BPC e da aposentadoria rural, Guedes admitiu a retirada do texto desses dois itens. Também sugeriu que o novo modelo do BPC seja opcional. Segundo ele, se o Congresso retirar os dois pontos, a economia cai de R$ 1,16 trilhão na próxima década para R$ 960 bilhões./ ADRIANA FERNANDES, IDIANA TOMAZELLI, LORENNA RODRIGUES E RENATO ONOFRE