O Estado de São Paulo, n. 45822, 02/04/2019. Economia, p. B1

 

Mercado já estima crescimento da economia abaixo de 2% neste ano

Luciana Dyniewicz

Maria Regina 

02/04/2019

 

 

 Recorte capturado

Ritmo. Economistas revisaram projeções influenciados por indicadores econômicos fracos e pela disputa entre Executivo e Legislativo, que tem dificultado a tramitação da reforma da Previdência; estimativas de avanço do PIB caíram de 2,53%, em janeiro, para 1,98%

Confiança. Nível da confiança empresarial caiu 2,7 pontos em março, atingindo a menor marca desde outubro de 2018

Indicadores econômicos decepcionantes no fim de 2018 e em janeiro, além da queda de braço entre Executivo e Legislativo adiando a tramitação da reforma da Previdência, levaram economistas a rever suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. Ontem, pela primeira vez desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, as estimativas de crescimento da economia ficaram abaixo dos 2%. Segundo o relatório Focus, feito pelo Banco Central com projeções de instituições financeira, a alta em 2019 deverá ser de 1,98%. No começo de janeiro, a estimativa era de 2,53%.

Mesmo bancos e consultorias que já estão com números menores para o PIB dizem que poderá haver novas revisões para baixo. Para o ex-presidente do Banco Central Afonso Celso Pastore, a tendência é que as projeções comecem a convergir para 1,5%. “O quarto trimestre de 2018 frustrou. Corrigindo a projeção de 2019 só por causa disso, o PIB viria para 2%. Acontece que o primeiro trimestre foi muito ruim e tem cheiro de crescimento nulo. Então é muito difícil crescer 2%”, disse.

A análise de Pastore leva em conta somente os indicadores econômicos e não as perspectivas para a Previdência. “A aprovação da reforma só criaria otimismo para ter efeito na economia no ano que vem. Para 2019, com ou sem reforma, o quadro é de crescimento muito baixo.”

O economista-chefe da Nécton Investimentos, André Perfeito, é mais pessimista que Pastore e já espera 1,1%. Caso esse número se confirme, o País crescerá pouco mais de 1% por três anos consecutivos – 2017, 2018 e 2019 –, que seguem dois anos de recessão.

De acordo com Perfeito, a expectativa de retomada dos investimentos neste ano tem sido frustrada e piorou após os ruídos políticos recentes, que colocaram em dúvida o avanço da reforma previdenciária. O economista se refere às trocas de críticas entre Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Conforme o debate entre Maia e Bolsonaro foi avançando, a confiança do empresariado foi se deteriorando. Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o nível da confiança empresarial caiu 2,7 pontos em março, atingindo a menor marca desde outubro de 2018. Dados de confiança dos setores da indústria, de serviços e do consumidor também apontam para uma perda de ímpeto.

Viés. Assim como a Nécton, o Banco Fator também está entre os mais pessimistas. A instituição começou o ano prevendo alta de 2,8% na economia, mas reviu para 1,7%. “No geral, tudo está pior do que no quarto trimestre do ano passado. Se há um viés, é negativo”, afirmou o economista-chefe do banco, José Francisco de Lima Gonçalves. Segundo ele, as expectativas dos empresários em patamar inferior ao do fim do ano passado indicam que o nível de investimentos será fraco em 2019, podendo recuar até 0,4%.

Para o economista Alex Augustini, da Austin Rating, a confiança – consequentemente o investimento – deve continuar caindo caso não haja uma mudança no cenário político. “A briga (entre Bolsonaro e Maia) mexeu com as expectativas de crescimento da economia. À medida que o tempo passa e não há encaminhamento da reforma, as expectativas se reduzem e o investimento vai minguando”, afirmou o economista, que “muito provavelmente” reduzirá sua estimativa atual, de 2,6% – uma das mais altas do mercado.

Para Fabio Ramos, economista do banco UBS, a aprovação da reforma previdenciária indicaria que o governo é capaz de se organizar e de discutir no Congresso outros pontos importantes para a economia, como a reforma tributária. “Isso faria o mercado externo apostar no Brasil.”

O UBS começou 2019 prevendo uma alta de 3% no PIB e já atualizou o número duas vezes. Agora, a estimativa é de 2,4%. “O cenário econômico do começo do ano era de uma aprovação rápida da Previdência. Agora, se percebeu que não é tão fácil. Há um conserto no nível de otimismo”, acrescentou Ramos./ COLABORARAM ANDRÉ ÍTALO ROCHA, ALTAMIRO SILVA JR, DANIEL WETERMAN e MATEUS FAGUNDES

Devagar

“A aprovação da reforma só criaria otimismo para ter efeito na economia em no ano que vem.”

Afonso Celso Pastore

EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

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Governo prevê superávit comercial de US$ 50 bi este ano

Idiana Tomazelli

02/04/2019

 

 

 Recorte capturado
Em março, saldo de US$ 4,99 bi foi o pior para o mês desde 2016; no trimestre, superávit foi de US$ 10,889 bilhões

O governo prevê um superávit de US$ 50,1 bilhões na balança comercial neste ano. Se confirmado, esse será o terceiro melhor resultado na série histórica, mas menor do que o saldo registrado no ano passado (US$ 58,7 bilhões). Foi a primeira vez que o Ministério da Economia projetou um número para a diferença entre as exportações e importações neste ano.

O Banco Central prevê um resultado inferior, de US$ 40 bilhões para este ano.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, espera que as vendas externas superem as importações em US$ 45 bilhões a US$ 46 bilhões em 2019. “Do lado das exportações vemos o câmbio mantendo sua depreciação no primeiro semestre, estimulando (os embarques). Do lado externo, a economia global crescendo menos e a crise argentina afetando as venda de manufaturados, em especial de automóveis, pesam contra”, afirma.

Já o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, afirmou que o governo tem como foco elevar a corrente de comércio com os demais países do mundo e rechaçou a visão de que a elevação das importações é uma “vilã” para a economia – percepção considerada obsoleta e atrasada pelo secretário.

“O atual governo tem uma visão mais moderna para comércio internacional, porque essa é uma das principais alavancas para crescimento da produtividade. Não é o saldo comercial que nos interessa, mas sim a corrente de comércio”, disse. Segundo ele, o saldo reflete condições macroeconômicas, enquanto o desempenho comercial é dado pela corrente. De acordo com as estimativas do governo, a corrente de comércio deve subir 4,9% neste ano na comparação com 2018.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já citou diversas vezes a necessidade de maior abertura na economia brasileira, com menor protecionismo.

No acumulado dos três primeiros meses deste ano, o saldo da balança ficou positivo em US$ 10,889 bilhões, queda de 11% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os principais compradores de produtos brasileiros no primeiro trimestre são China, Estados Unidos e Argentina.

Em março, especificamente, a balança registrou superávit de US$ 4,990 bilhões, o pior resultado para o mês desde 2016. O resultado do mês passado, na avaliação de Vale, é consequência do real mais desvalorizado e aumento nas exportações.

Oriente Médio. O anúncio de que o governo brasileiro vai abrir um escritório comercial em Jerusalém em aceno a Israel, que disputa o território com a Palestina, não deve surtir efeito na relação comercial com países árabes, prevê o governo. “Estou otimista que esse impacto, se ocorrer, será muito pouco significativo”, afirmou o secretário Lucas Ferraz.

Os palestinos já demonstraram descontentamento com a virada na postura do Brasil em relação a Jerusalém. Historicamente, a diplomacia brasileira preferiu a neutralidade para evitar tomar partido de qualquer uma das nações na disputa, mas desde que Bolsonaro anunciou a intenção de mover a embaixada o País vive sob o risco de retaliação dos árabes.

Ferraz disse que, com o anúncio do escritório comercial em Jerusalém, a Secretaria pode “eventualmente avaliar” o impacto disso nas exportações brasileiras para os árabes. “Evidente que temos preocupação com exportações e importações de todos os países, mas estou otimista que esse impacto, se ocorrer, será pouco significativo.”

No primeiro trimestre do ano, o Brasil exportou US$ 2,881 bilhões para o Oriente Médio, 5,4% do total de embarques. A média diária cresceu 19,3% em relação a igual período do ano passado. 

Visão moderna

“O atual governo tem uma visão mais moderna para comércio internacional.”

Lucas Ferraz

SECRETÁRIO DE COMÉRCIO EXTERIOR DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA