O Estado de São Paulo, n. 45850, 30/04/2019. Economia, p. B7

 

Bolsonaro pede queda de juros rurais no BB

 

 

 

Gustavo Porto

30/04/2019

 

 

Presidente disse que iria fazer orações por taxas menores; executivo do banco sugere que foi uma ‘brincadeira’ e porta-voz descarta intervenção

O presidente Jair Bolsonaro pediu ontem ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para que reduza os juros dos financiamentos aos produtores rurais. Ele fez o apelo ao anunciar R$ 1 bilhão em recursos para o seguro rural, durante evento do setor, em Ribeirão Preto (SP).

“Eu apenas apelo, Rubem (Novaes), me permite fazer uma brincadeira aqui. Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista você parecer ser um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais. Tenho certeza de que as nossas orações tocarão seu coração”, disse Bolsonaro, que foi aplaudido pela plateia.

As ações do Banco do Brasil fecharam com leve alta de 0,04%. Os papéis da companhia chegaram a operar em queda após a fala do Bolsonaro. À noite, o porta-voz da República, Otávio Rêgo Barros, disse que o presidente “não quer” e “não vai intervir” em qualquer aspecto relacionado à política de juros de bancos estatais. “Obviamente que o presidente não quer e não intervirá em aspectos relacionados a juros nos bancos que estão, em tese, sob o guarda-chuva do governo”, respondeu sobre a fala do presidente.

A ex-presidente Dilma Rousseff foi criticada por economistas e pelo mercado por obrigar os bancos públicos a liderarem a “cruzada de redução dos juros”, em 2012. Na época, o governo dizia que era preciso aproximar os juros e os spreads dos bancos a “padrões internacionais”. Após a queda forçada, as instituições oficiais voltaram a acelerar as taxas para níveis próximos aos dos privados.

 

‘Brincadeira’. “A imprensa está perdendo o senso de humor. Revejam o tom da fala do presidente”, disse o presidente do Banco do Brasil ao Estado. Segundo ele, nos empréstimos com taxas livres, a instituição cobra os menores juros do mercado. Nas linhas com taxas subsidiadas pelo Tesouro Nacional, o custo é o mesmo entre os bancos.

No mesmo evento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou que o governo vai colocar à disposição um adicional de R$ 500 milhões para a linha de financiamento de máquinas agrícolas do programa Moderfrota. O montante vale ainda para o Plano Safra 2018/19, que termina em junho. “Depois de muita conversa, cálculos, contas, conseguimos raspar o tacho do Plano Safra que termina em junho, o Moderfrota terá mais R$ 500 milhões. É pouco, mas já tínhamos realocado R$ 1 bilhão. Os produtores gastaram o dinheiro todo antes do tempo”, disse Tereza na abertura do evento.

“Em minha opinião, R$ 500 milhões não dão para essa tarde”, afirmou também ontem, o diretor de agronegócios do Santander, Carlos Aguiar. / COLABOROU AMANDA PUPO