O Estado de São Paulo, n.45849 , 29/04/2019. Política, p. A8

 

Presidente divulga vídeo de aluna que filmou professora

Mariana Haubert e 

Renata Agostini

 

 

 

Bolsonaro usa filme para defender o Escola Sem Partido; para ministro, estudantes ‘têm o direito de filmar’

 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o projeto Escola Sem Partido, que combate uma suposta doutrinação política e ideológica que seria praticada por professores em sala de aula. Ontem pela manhã, ele publicou em suas redes sociais um vídeo no qual uma aluna de cursinho questiona as opiniões de uma educadora sobre o escritor Olavo de Carvalho, considerado o “guru” dos Bolsonaro. Ao comentar o filme, o presidente afirmou que “professor tem que ensinar e não doutrinar”.

Horas depois, ao chegar ao apartamento do filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que ontem comemorou aniversário, Bolsonaro disse que não pode existir apenas um lado nas salas de aula. “Nós queremos a escola sem partidos ou, se tiver partidos, que tenha os dois lados. Não pode é ter um lado só na escola, isso leva ao que não queremos”, declarou, sem dar detalhes.

Para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, filmar professores em sala de aula é um direito dos alunos. Ele disse que ainda irá analisar o conteúdo dos vídeos compartilhados pelo presidente e o filho para saber se alguma irregularidade foi cometida pelos educadores.

“Não incentivo ninguém a filmar uma conversa na rua, mas as pessoas têm o direito de filmar. Isso é liberdade individual de cada um. Vou olhar os casos com calma. Não faremos nada de supetão”, afirmou Weintraub ao Estado.

O vídeo mostra uma aluna confrontando uma professora de gramática depois de ela afirmar que Olavo de Carvalho é “uma anta porque mete o pau em tudo”. A estudante, então, avisa que filmou a aula e afirma ter perdido 25 minutos ouvindo opiniões político-partidárias e não aprendendo gramática. “Não estou pagando cursinho para isso”, reclama, informando ainda que vai procurar o diretor da instituição, que não teve o nome revelado.

O vídeo compartilhado ontem pelo presidente foi publicado originalmente nos perfis do Escola Sem Partido no Facebook e também no Twitter, canais constantemente usados para citar professores que estariam expondo suas opiniões políticas. Depois da divulgação por Bolsonaro, os participantes do projeto afirmaram em rede social que “confiam” no trabalho do presidente: “Confiamos em seu governo para pôr fim a esses abusos”.

 

Repercussão. Parlamentar mais votada em 2018, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) parabenizou Bolsonaro nas redes. “Todo apoio ao presidente (por publicar o vídeo da aluna) e à aluna, que educadamente exigiu o básico: aula! Os professores podem se manifestar, mas os alunos também podem! Só o que pedimos são escolas plurais. Nada além disso!”

Já Manuela D’Avila (PCdoBRS), que foi candidata a vicepresidente na chapa do petista Fernando Haddad, afirmou que Bolsonaro, “ao invés de acolher professores, os hostiliza”. E que, “ao invés de estimular respeito, incita ódio”. / 

 

’Doutrinação’

“Nós queremos a escola sem partidos ou, se tiver partidos, que tenha os dois lados. Não pode é ter um lado só na escola, isso leva ao que não queremos”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA