O Estado de São Paulo, n. 45845, 25/04/2019. Economia & Negócios, p. B1

 

Receio sobre Previdência e cenário externo fazem dólar encostar em R$ 4

 

 

 

 

Renée Pereira

Altamiro Silva Junior

25/04/2019

 

 

 

Em alta. A percepção de que a tramitação da reforma na Comissão Especial não será fácil e de que a proposta deve passar por desidratação pesou sobre o real; moeda americana terminou o dia cotada a R$ 3,99, o maior valor desde outubro do ano passado

Apesar da aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, na noite de terça-feira, o dólar não deu trégua ontem e fechou na maior cotação desde 1º de outubro de 2018. A moeda americana terminou o pregão cotada a R$ 3,99, com alta de 1,64%. A valorização é resultado tanto das incertezas em relação ao ambiente doméstico – com risco de desidratação da reforma da Previdência e fraco desempenho da atividade econômica – como do cenário externo.

Nos últimos dias, o dólar tem apresentado forte valorização em relação ao euro e às divisas emergentes. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes, atingiu o patamar mais alto em dois anos. Na Argentina, onde o quadro econômico e político também está conturbado, a moeda americana subiu 3% ontem, contaminando outros mercados da região, como a Colômbia.

O movimento é resultado de uma série de fatores, como indicadores fracos da Alemanha, mudança de direção do Banco Central do Canadá e renovados temores sobre os rumos do Brexit após a imprensa inglesa informar que as negociações entre conservadores e trabalhistas no Parlamento britânico estão próximas de um “colapso”.

Por aqui, a aprovação da reforma da Previdência na CCJ, que deveria dar algum alívio ao mercado, não conseguiu segurar o nervosismo dos investidores. “A vitória na CCJ, que é a parte mais fácil do processo, já era esperada. Mas, pela amostra que vimos, já ficou claro que o governo precisa aumentar a adesão dos deputados para aprovar a reforma”, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto.

Diante da dificuldade de articulação do governo no Congresso, a maioria dos economistas está refazendo seus cálculos em relação à economia com a reforma. “Tudo está convergindo para R$ 600 bilhões em vez de R$ 1 trilhão. O governo terá de mutilar a reforma para conseguir aprová-la”, afirma o economista, Paulo Gala, diretor da Fator Administração de Recursos.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro, em cadeia nacional, agradeceu o comprometimento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para aprovação da reforma na CCJ e afirmou que continua “a contar com o espírito patriótico dos parlamentares para aprovação da nova Previdência”.

 

Índices fracos. Os números ruins da economia brasileira também reforçaram o mau humor do mercado. A arrecadação federal e a geração de empregos no mês de março decepcionaram.

O Ibovespa, principal índice da B3, também acompanhou o pessimismo do investidor ontem e fechou em queda de 0,92%, em 95.045 pontos.