Título: Na terra de Delúbio, torcida pela absolvição
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2012, Política, p. 4

Em plena disputa eleitoral, moradores e políticos de Buriti Alegre saem em defesa do ex-tesoureiro do PT

Buriti Alegre (GO) — Estivessem no lugar dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), políticos e boa parte dos moradores de Buriti Alegre já teriam batido o malhete pela absolvição do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Na terra natal do petista, situação e oposição divergem em quase tudo, menos numa defesa tão ferrenha do réu que é capaz de negar até os crimes que ele próprio assumiu. "O Delúbio não fez caixa 1, nem 2, nem 3. O mensalão não existiu. Isso é intriga", resume o presidente da Câmara Municipal, Roberto Ferreira (PP), adversário do PT.

Na cidade de 9 mil habitantes, distante 390km de Brasília, argumentos racionais se misturam aos afetivos no debate sobre o julgamento em curso no Supremo, às vésperas de analisar a participação do ex-tesoureiro no esquema. Por lá, ele é visto como um soldado do PT, amigo de Lula, que aceitou ir para o sacrifício para salvar a carreira política do ex-presidente. Mas o que mais pesa a seu favor, na visão dos conterrâneos, é ser filho de seu Catonho e dona Jamira, casal de trabalhadores popular na cidade, que ganha a vida na ordenha e no plantio.

"A família dele é extremamente humilde e sofre demais com o assunto. É muito querida na cidade e, por isso, muita gente evita tocar no tema", relata o prefeito João Alfredo (PT). A simplicidade dos pais se tornou, para o prefeito, um elemento de defesa. "Eles trabalham duro na roça. Se fosse seu pai, você deixaria passar por isso?", questiona, sustentando a ideia de que Delúbio não enriqueceu com o esquema e "obedeceu" a ordens de seus superiores. Alinhado com os advogados, Alfredo confirma o caixa dois, mas nega a compra de votos: "Para que pagar por votos da própria base? Não faz sentido".

O prefeito teve Delúbio como principal padrinho de campanha em 2004. Presença constante em eventos, o ex-tesoureiro chegou a garantir um showmício da cantora Wanessa Camargo. Hoje, mantém-se neutro na disputa depois de indicar candidato que desistiu do pleito. Opositor do PT, o candidato a prefeito Marco Aurélio (DEM) não só ignora o mensalão como arma contra seus concorrentes, como também faz coro por Delúbio. "Ele é muito gente boa. Não posso falar se é inocente ou culpado, mas torço para que seja absolvido", diz.

Delúbio deixou Buriti Alegre em 1972, aos 15 anos, para estudar em Goiânia, onde se tornou professor de matemática. Segundo os moradores, vez ou outra, aparece no município, no sul de Goiás, para visitar os pais. Não foi lá desde o início do julgamento, tendo sido visto pela última vez no Dia das Mães. Quando aparece, gosta de se refugiar na casa da família na zona rural, a cerca de 15km do centro da cidade.

O "quase candidato" de Delúbio nas eleições deste ano, Gilberto Inácio, diz que o ex-tesoureiro do PT também passeia pelas ruas da cidade, sempre conversando com os moradores. "A cidade o adora. Se ele disputasse a prefeitura, seria eleito. Eu, pelo menos, votaria nele", garante. Dono de um hotel, ele explica o motivo de ter desistido de concorrer. "Não gosto de política. Não recomendo que ninguém se envolva com isso. Prefiro continuar ganhando meu dinheiro honestamente", afirma.

Candidato à reeleição, o vereador Elcimar (PT) diz que tem conversado com Delúbio por e-mail e telefone. "Estamos com a esperança de que ele não seja preso. Ele se mostra tranquilo, mas não fala sobre o assunto. Quando conversamos, é sobre política local. Ele sempre quer saber como está a campanha", comenta Elcimar, acrescentando que os únicos dois candidatos estão "embolados" na disputa.