O globo, n. 31348, 05/06/2019. País, p. 12

 

Jucá é denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro

Tiago Dantas

05/06/2019

 

 

Segundo MPF do Paraná, ele recebeu ao menos R$ 1 milhão em 2010 por negócios ilegais entre Transpetro e Galvão Engenharia

O Ministério Público Federal (MPF) do Paraná denunciou ontem o ex-senador e presidente nacional do MDB, Romero Jucá (RO), por corrupção e lavagem de dinheiro no esquema da Transpetro. Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, ele recebeu pelo menos R$ 1 milhão em 2010 por participação em negócios ilegais entre a subsidiária da Petrobras e a Galvão Engenharia. O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que se tornou delator, também foi denunciado.

Segundo a investigação, a Galvão Engenharia pagava 5% do valor de todos os contratos que tinha com a subsidiária da Petrobras a integrantes do MDB que compunham o núcleo de sustentação de Machado na presidência da estatal.

Em relação a Jucá, a Procuradoria afirma que a propina foi disfarçada por meio de doação eleitoral oficial de R$ 1 milhão ao diretório estadual do MDB de Roraima, em junho de 2010. O valor corresponde à porcentagem paga por quatro contratos e sete aditivos conquistados pela empresa de engenharia.

Além disso, segundo os investigadores, a propina servia para garantir que a Galvão continuasse sendo convidada para participar de licitações da Transpetro.

De acordo com a Lava-Jato, o dinheiro iria para a campanha de reeleição de Jucá ao Senado, além das campanhas do filho e de exesposa para o Legislativo.

“As investigações comprovaram ainda que a Galvão Engenharia não tinha qualquer interesse em Roraima que justificasse a realização da doação oficial, a não ser o direcionamento de propinas para Romero Jucá”, informou o MPF, por nota.

— A lavagem de ativos por meio doação oficial eleitoral é de intensa gravidade, pois, além de utilizar um mecanismo com aparência legítima para esquentar dinheiro ilícito, deturpa e desnivela o campo do jogo democrático — afirmou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Jucá, negou as acusações e colocou em descrédito as afirmações de Machado e criticou a “ânsia abusiva de poder” do Ministério Público. Em nota, Kakay afirmou que Machado não falava em nome do ex-senador e que não se pode dizer que Jucá o indicou para a Transpetro em troca de propina:

A defesa de Jucá diz ainda que Machado “já deu provas nos últimos tempos que sua palavra não tem nenhuma credibilidade”.

O advogado Antonio Sérgio Pitombo, que defende Machado, disse que a ação penal faz parte do processo de colaboração de seu cliente e que a denúncia não surpreende os advogados.