O globo, n. 31348, 05/06/2019. País, p. 12
PGR quer cancelar delação da Hypermarcas
Aguirre Talento
05/06/2019
Para Procuradoria-Geral da República, ex-diretor da empresa omitiu informações dos investigadores; Nelson Mello relatou ter pago propina a senadores do MDB, mas sem saber quem seriam exatamente os beneficiários
A Procuradoria-Geral da República ( PGR ) pediu o cancelamento do acordo de delação premiada do ex-diretor da Hypermarcas (atual Hypera Pharma) Nelson Mello, após detectar que ele omitiu informações dos investigadores. É o segundo caso na Lava-Jato de solicitação de rescisão de uma colaboração —o primeiro foi dos executivos da J&F, que ainda está sob análise do Supremo Tribunal Federal ( STF ).
O pedido de rescisão foi enviado pela procuradora geral da República, Raquel Dodge, ao STF, que precisa homologar o rompimento do acordo. Caso isso ocorra, Nelson Mello perderá os benefícios, podendo ser preso pelos possíveis crimes que cometeu, como o de corrupção. Dodge pede que as provas entregues no acordo permaneçam válidas.
Mello era diretor de relações institucionais da empresa e relatou ter pagado propina a senadores do MDB por intermédio do lobista Milton Lyra, mas sem saber exatamente quem seriam os beneficiários.
Em seu depoimento, ele afirmou que os pagamentos teriam ocorrido sem o conhecimento do dono da Hypermarcas, João Alves de Queiroz Filho, o Júnior.
Outros delatores, porém, entregaram provas à PGR que tiveram relacionamento direto com Júnior. O doleiro Lúcio Funaro, por exemplo, um dos operadores dos pagamentos da Hypermarcas a políticos, tinha fotos de encontros sociais com Júnior.
Para a PGR, Nelson Mello descumpriu o compromisso de dizer a verdade, apresentou informações falsas e omitiu fatos relevantes praticados por ele. Entre os pontos mencionados para a rescisão está o fato de ele dizer desconhecer os reais beneficiários dos pagamentos de propina destinados aos senadores do MDB. A PGR também aponta que ele deixou de entregar provas de suas acusações.
Após as primeiras suspeitas de omissão, a Polícia Federal fez operação de busca e apreensão, a pedido da PGR, em abril do ano passado, na residência de Nelson Mello, atrás de provas que confirmassem essas suspeitas. A operação chegou a ser batizada de “Tira Teima” —uma referência às dúvidas que a delação havia suscitado.
Mudança de nome
A Hypermarcas decidiu mudar de nome em fevereiro do ano passado, para o atual Hypera Pharma —após o desgaste de imagem provocado pela delação de Nelson Mello. No comunicado que oficializou a mudança, a empresa disse que passou a ter o foco de atuar somente no segmento farmacêutico, do qual ela é detentora de diversas marcas. Procurada, a defesa de Nelson Mello afirmou que só se manifestaria sobre o assunto nos autos do processo.
Em nota, a Hypera Pharma afirmou que está colaborando com as autoridades e que “elegeu um comitê independente, em junho de 2018, para avaliar os fatos relacionados ao seu ex-diretor de Relações Institucionais”.