O globo, n. 31354, 11/06/2019. Opinião, p. 3
O julgamento da Lava-Jato
José Casado
11/06/2019
Nada será como antes no Judiciário, no Ministério Público e, sobretudo, na Operação Lava-Jato.
É, no mínimo, imprudente relativizar as revelações (não desmentidas) dos repórteres Rafael Martins, Leandro Demori, Alexandre de Santi, Victor Pougy e Glenn Greenwald sobre a cooperação entre o ex-juiz Sergio Moro, ministro da Justiça, e os procuradores da Lava-Jato em Curitiba.
Está se abrindo um novo ciclo na liquefação política brasileira, o da exposição de iniciativas que corrompem a confiança em todo o sistema judicial. Só não vê quem não quer.
Avança-se numa reversão de expectativas sobre a credibilidade do Judiciário e do Ministério Público. Já era perceptível nas propostas de CPI Lava-Toga e de impeachment de juízes de tribunais superiores.
Descrições da cooperação entre o juiz Moro e procuradores condimentam esse processo. De um lado, induzem a um tipo de reflexão individual: ninguém gostaria de ser julgado por um juiz aliado da parte adversária. De outro, reforça a vitimização de Lula, condenado e preso por corrupção.
Por ironia da história, instituições que durante cinco anos atuaram para atenuar a contaminação do Executivo e do Legislativo começam a ser expostas como contaminadas, e passíveis de desconfiança.
Assiste-se ao início de um julgamento da Operação Lava-Jato e, também, de todo o sistema formatado pela Constituição na organização e separação dos Poderes. O modelo que está aí faliu, como se vê nas coreografias de juízes, promotores, procuradores e advogados, ou de ministros de tribunais superiores nos bastidores do governo e do Legislativo.
Vai ser preciso reinventar, reorganizar os Poderes. Pode ser tarefa política adiável, mas é inevitável.