Título: Entre beijos e aplausos, Dilma rebate Serra
Autor: Seffrin, Felipe ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 02/10/2012, Política, p. 4

Ao lado de Lula e Haddad em São Paulo, a presidente alfinetou o adversário tucano e encheu o petista de elogios: "É um realizador de sonhos"

São Paulo e Brasília — Na primeira e única aparição em um comício no primeiro turno das eleições municipais, a presidente Dilma Rousseff fez o discurso mais longo da noite — 16 minutos —, distribuiu beijos e coraçõezinhos e respondeu ao candidato do PSDB, José Serra, que reclamou de ela estar "metendo o bico nas eleições de São Paulo" ao nomear Marta Suplicy para o Ministério da Cultura. "Estou aqui, metendo o bico nessa eleição, porque São Paulo é um fato e acontecimento, porque aqui vivem milhões de brasileiros. Não tem como dirigir o Brasil sem botar o bico em São Paulo", afirmou.

Diante de mais de 10 mil pessoas em um palco enfurnado na zona leste paulistana — na divisa entre Guayanazes e Itaquera — Dilma destacou que é muito importante escolher bem quem vai administrar São Paulo porque ela é uma das cidades mais importantes do mundo. "Morei aqui perto. São Paulo conheceu minha luta pela liberdade, contra a ditadura. Estive presa aqui no Presídio de Tiradentes. São Paulo faz parte da minha história e, por ter me acolhido, eu venho aqui hoje", acrescentou.

A presença de Dilma ao lado de Haddad e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi acertada no fim da semana passada. A presidente estava reticente em subir em palanques no primeiro turno, especialmente em cidades onde a base aliada tem mais de um candidato. Mas foi convencida por Lula e pelo PT de que sua presença seria fundamental para levar Haddad ao segundo turno — atualmente, ele está empatado tecnicamente com Serra no segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de voto.

Ela citou algumas realizações do petista no período em que foi ministro da Educação. Na semana passada, Haddad reuniu-se com alunos que se formaram no ProUni, inclusive alguns carentes, que estavam graduando-se em medicina. "Haddad é um realizador de sonhos", completou.

Dilma disse ainda que estava muito feliz por ter ao seu lado Haddad, os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Cultura, Marta Suplicy, mas, sobretudo, por dividir o palanque com Lula. "Nós sabemos que se tem um homem que fez a diferença nesse país foi o Lula. Um homem que todo mundo respeita e que está no coração de todos."

Lula falou um pouco menos que a presidente — 15 minutos — mas declarou já ter ganhado o dia com o discurso e a presença da presidente Dilma. "Acho extraordinária a coragem da nossa presidente de sair de Brasília e vir aqui na Zona Leste". Ele também atacou José Serra, dizendo que as pessoas não deveriam votar nele porque ele não quer ser prefeito. "Por que na última vez ele saiu da prefeitura com um ano e quatro meses?", questionou Lula.

O ex-presidente também fez uma comparação indireta entre Celso Russomanno e a prefeita de Natal, Micarla de Souza (PV-RN) que, a exemplo do candidato do PRB, também tinha um programa de televisão antes de ser eleita prefeita. "A gente tinha uma moça no Nordeste com um programa de maior audiência em Natal. Ela teve 75% dos votos e agora tem 95% de rejeição porque não conseguiu fazer nada". Para Lula, é preciso votar em candidatos que tenham consistência. "Quero ver essa gente que vende facilidades enfrentar a primeira enchente em São Paulo", declarou o ex-presidente.

"Não tem como dirigir o Brasil sem botar o bico em São Paulo" Dilma Rousseff, presidente da República

"Contra Haddad"

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, declarou ontem apoio a José Serra, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. "Povo de São Paulo! Gostaria de me omitir nesta eleição, mas não podemos deixar que Haddad, autor do kit gay, vá para o 2º turno. Vote em Serra!", escreveu o pastor, em seu Twitter. Malafaia também divulgou um vídeo de oito minutos em que declara o voto e defende o direito dos religiosos de declarar suas convicções políticas. "Eu vou apoiar Serra porque eu sou, em primeira mão, contra Haddad", disse o pastor, que disse não ser contra o PT. Haddad disse que os ataques são reflexo do seu crescimento nas pesquisas de opinião de voto.