O globo, n. 31360, 17/06/2019. País, p. 6

 

Ataque político foge do padrão de hackers no Brasil, aponta estudo

Dimitrius Dantas

17/06/2019

 

 

Relatório de empresa americana mostra que cibercriminosos brasileiros priorizam dinheiro e têm influências estrangeiras

A invasão de meios eletrônicos para obtenção e divulgação de dados pessoais por motivações políticas, suspeita que envolve o vazamento de conversas do ministro da Justiça Sergio Moro e do coordenador da Lava-Jato Deltan Dallagnol , foge do padrão de atuação dos hackers no Brasil . Relatório publicado em abril deste ano pela Recorded Future , empresa americana especializada em segurança digital, aponta que os cibercriminosos brasileiros são vistos na comunidade internacional como “piratas”, isto é, um grupo com boa capacidade técnica e que prioriza ataques com fins financeiros.

Segundo o analista Ronaldo Vasconcellos, um dos autores do documento, ataques como os que atingiram o atual ministro da Justiça e procuradores da República representam uma ação quase inédita no Brasil. As investigações ainda não esclareceram se tentativas de invasão dos celulares, denunciadas por Moro e Dallagnol, foram perpetradas por uma pessoa ou um grupo, tampouco a nacionalidade dos envolvidos.

— É uma coisa nova. A questão é se isso foi feito por pessoas motivadas politicamente a expor o que achavam que estava errado, ou se foi uma operação apenas para causar instabilidade institucional — diz Vasconcellos.

Os raros casos de atuação política de hackers brasileiros costumavam se dar com os chamados “defacements”. A prática se assemelha a uma pichação: um site é invadido e, em seu lugar, é colocada uma página com textos críticos ou mensagens de cunho político.

No estudo, membros da Recorded Future acessaram grupos de WhatsApp e Telegram que reúnem hackers. Segundo o documento, os cibercriminosos brasileiros misturam elementos de hackers de outros países. Assim como os chineses, eles trocam experiências em aplicativos de mensagens, indicando uma organização pouco hierárquica.

Os hackers também usam os grupos para oferecer serviços, como as “telas fake”, kits que permitem a captura de dados bancários e de cartão de crédito das vítimas. Os preços variam de R$ 150 a R$ 250. A obtenção de dinheiro por meio de ataques cibernéticos aponta, segundo o relatório, uma semelhança com o modo de atuação de hackers russos.

De acordo com a Recorded Future, os hackers brasileiros se adaptam a partir das reações tanto da polícia como de seus alvos, sobretudo bancos. Com o crescimento da segurança do “internet banking” em computadores, por exemplo, eles passaram a focar em brechas de transações bancárias feitas pelo celular.