O Estado de São Paulo, n. 45881, 31/05/2019. Economia, p. B4

 

No ano, PIB pode ficar abaixo de 1,0%

Vinicius Neder

Daniela Amorim

Denise Luna

Altamiro Silva Junior

Caio Rinaldi

Francisco Carlos de Assis

Thaís Barcellos

Lorenna Rodrigues

Eduardo Rodrigues

31/05/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Em meio a um cenário de incertezas, a economia brasileira encolheu 0,2% entre janeiro e março na comparação com o quarto trimestre de 2018, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como os dados iniciais do segundo trimestre seguem ruins, as projeções agora apontam para um crescimento em torno de 1% este ano, abaixo do avanço de 1,1% de 2018.

A queda do Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os produtos e serviços produzidos no País) foi a primeira desde o quarto trimestre de 2016, reforçando a lentidão da recuperação da economia. Segundo o IBGE, o nível da atividade do primeiro trimestre está 5,3% abaixo dos primeiros três meses de 2014, antes de o Brasil entrar na recessão terminada no fim de 2016 – é a recuperação mais “lenta e dolorosa” da história do País, disse o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Não está descartada uma segunda retração seguida no PIB, o que configuraria uma “recessão técnica”, no jargão de analistas. “Independentemente de ser tecnicamente uma recessão, é um país que não cresce”, disse o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.

Para baixo. O desempenho do primeiro trimestre levou a novas revisões para baixo na estimativa para o ano, como fizeram os bancos americanos Citi e JP Morgan, que agora esperam avanço de apenas 0,9%. Pesquisa do Projeções Broadcast com 26 instituições financeiras, após a divulgação dos dados pelo IBGE, aponta para alta de apenas 1,0% no PIB de 2019, menos do que o 1,23% do mais recente Boletim Focus, levantamento do Banco Central (BC).

A falta de definição sobre a reforma da Previdência, e as decorrentes dúvidas sobre o rumo da economia, é o motivo mais citado por economistas para explicar a freada no PIB, ao lado de choques negativos que atingiram a economia no fim do ano passado e no início de 2019, como a crise econômica na Argentina e o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho (MG).

Na economia real, a incerteza se reflete na suspensão de projetos de investimento, ao mesmo tempo em que os governos, em crise fiscal, cortam os investimentos públicos. Por isso, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do total dos investimentos no PIB) se contraiu em 1,7% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2018, a segunda queda seguida. Nas contas do IBGE, o nível dos investimentos está 29% abaixo do pico, alcançado no segundo trimestre de 2013.

“Temos uma performance bastante fraca do investimento, a principal razão para a fraqueza da atividade econômica”, disse o economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco.

Famílias. O quadro só não foi pior graças ao consumo das famílias, que desacelerou no primeiro trimestre, mas ainda assim avançou (0,3% ante o trimestre imediatamente anterior e 1,3% em relação a 2018). São dois anos no positivo. “Quem está puxando o PIB para cima é o consumo das famílias”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

A pesquisadora citou o desempenho do PIB de serviços (alta de 0,2% ante o quarto trimestre de 2018 e 1,2% em relação a um ano antes) para explicar a análise, pois as atividades sensíveis à demanda das famílias ficaram no positivo, enquanto os serviços ligados à demanda empresarial, especialmente da indústria, tiveram desempenho pior.