O Estado de São Paulo, n. 45873, 23/05/2019. Política, p. A10

 

Atos no domingo expõem 'racha' na direita

José Fucs

23/05/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Manifestações pró-governo ampliam divisão entre grupos nas redes sociais e parlamentares do PSL que apoiam o presidente Jair Bolsonaro

As manifestações do dia 26, convocadas por simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, estão provocando um racha na grande frente de direita que apoia o ex-capitão – um balaio que reúne militares, liberais, evangélicos, “lavajatistas”, antipetistas desgarrados e cidadãos comuns fartos da corrupção e da falta de segurança no País.

O racha, insinuado com os ataques do escritor Olavo de Carvalho e de seus pupilos a militares que fazem parte do governo e aos ex-ministros Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Ricardo Vélez Rodríguez, da Educação, agora ganhou novas dimensões.

De um lado estão os que apoiam as manifestações, como os grupos mais radicais do “frentão” pró-Bolsonaro e a ala ligada a Olavo, com a qual se identificam Eduardo e Carlos Bolsonaro, filhos do presidente. A turma tem também apoio de boa parte da bancada do PSL no Congresso, inclusive o deputado Alexandre Frota (SP), desafeto dos olavistas.

Do outro lado estão parlamentares do PSL que não integram a brigada olavista, como os deputados federais Luciano Bivar (PE), presidente do partido, e Joice Hasselmann (SP), líder do governo no Congresso, além da deputada estadual Janaina Paschoal (SP). Fazem parte do grupo, ainda, o partido Novo e movimentos e personalidades que apoiaram o presidente nas eleições, mas não participam do governo, como o MBL e o Vem Pra Rua, o músico Lobão e o presidente do Instituto Mises Brasil, de orientação ultraliberal, Hélio Beltrão.

Capitulação. A discórdia se deve não só à realização como à pauta das manifestações. Os que se opõem aos atos consideram a convocação extemporânea, num momento em que o governo depende do Congresso para aprovar a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, entre outras medidas. “Não vamos conseguir aliados atacando quem pode votar conosco nos textos que são importantes para o governo”, disse Joice. “A hora é de preservar a relação do governo com o Parlamento.”

Quem apoia as manifestações parece acreditar que só pressionando os parlamentares as propostas do governo serão aprovadas. Muitos são contra qualquer tipo de negociação ou capitulação com o Congresso. Parecem fazer pouco caso dos demais Poderes e acreditar que o Congresso e o Judiciário têm menos legitimidade do que o presidente e por isso devem se curvar à sua vontade. “É hora de lembrar que os brasileiros escolheram pôr o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, afirmou Filipe Martins, pupilo de Olavo e assessor internacional da Presidência, no Twitter.

Foi a possível inclusão de bandeiras autoritárias na pauta das manifestações, porém, que selou o racha, afastando de vez apoiadores mais moderados do governo. Diante do que consideram “podridão do sistema”, os mais radicais queriam a inclusão do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal na pauta.

Mas a repercussão negativa levou nomes influentes do “bolsolavismo” nas redes a limá-las da agenda. Ao final, ficaram quatro pontos: aprovação da reforma da Previdência; aprovação do pacote anticrime de Moro; aprovação da MP 870, da reforma administrativa; criação da CPI Lava Toga. A questão é que as feridas criadas pelas divergências podem ser difíceis de cicatrizar.

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PSDB-SP quer expulsar diriginte que fez ato anti-Bolsonaro

Pedro Venceslau

23/05/2019

 

 

O diretório municipal do PSDB pediu a expulsão do sociólogo Fernando Guimarães após ele liderar a formação de um grupo suprapartidário de oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Anteontem, o Estado revelou que representantes de dez partidos – entre eles PSDB, PDT, PT, PSOL, PCdoB e Cidadania – se reuniram para organizar o lançamento do movimento “Direitos Já, Fórum pela Democracia”.

A iniciativa gerou uma forte reação de tucanos. “O Diretório Municipal do PSDB (Partido da Social Democracia) de São Paulo informa que não compactua com a postura de Fernando Guimarães Rodrigues ao assumir sua posição pessoal como a do partido”, disse a nota oficial do diretório paulistano do PSDB.

Segundo o texto, a postura do sociólogo, que lidera a corrente tucana Esquerda Para Valer, infringe artigos do estatuto da sigla. “Assim, o caso será encaminhado ao Conselho de Ética.”

Questionado se a regra seria aplicada a outros tucanos que apoiam o movimento, como o ex-senador José Aníbal, o ex-ministro da Justiça José Gregori, o ex-governador Alberto Goldman e o senador José Serra (SP), que vão se reunir com o “Fórum pela Democracia” no dia 26, o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, foi taxativo. “Não dá para eles saírem tomando decisões partidárias sem consultar o corpo dirigente do PSDB. A regra vai ser para todos. Eles que têm de se policiar”, disse.

Ao Estado, Fernando Guimarães criticou a decisão da sigla. “Um partido que tem democracia no nome não pode cercear a participação de seus militantes em um movimento que tem como único propósito a defesa dos valores da Constituição.”

Integrantes do grupo saíram em defesa de Guimarães. “Isso causa perplexidade. São novos e estranhos tempos no PSDB”, afirmou o advogado petista Marco Aurélio Carvalho, que organizou o movimento junto com Guimarães.