O Estado de São Paulo, n.45875, 25/05/2019. Economia, p. B12

 

Agência reguladora aponta risco à segurança 

Luciana Dyniewicz

25/05/2019

 

 

Por questões de segurança, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu ontem, cautelarmente, todos os voos da Avianca Brasil, em uma medida que foi vista por analistas como o fim das operações da companhia. Com dívidas superiores a R$ 3,4 bilhões e em recuperação judicial desde dezembro, a empresa estava com uma média de 39 voos por dia – há um ano, esse número chegava a 280.

Em nota, o órgão regulador informou que os voos da companhia estão suspensos até que ela “comprove capacidade operacional para manter as operações com segurança”. A decisão da Anac foi tomada com base em informações prestadas pela própria Avianca à agência. A Anac não informou quais seriam os possíveis riscos.

Disputa. Com o cancelamento dos voos, volta o debate em torno do que acontecerá com os slots (autorizações de pouso e decolagem) da Avianca nos principais aeroportos do País, principalmente no de Congonhas, em São Paulo.

Os slots da Avianca são motivo de disputa entre as outras companhias aéreas e causaram até mesmo a saída da Azul da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

No início do processo de recuperação judicial, a Azul ofereceu US$ 105 milhões para ficar com a Unidade Produtiva Isolada (UPI), criada com os slots da Avianca, que deixaria de fora as dívidas. Às vésperas da assembleia de credores, Gol e Latam ofereceram, cada uma, US$ 35 milhões para ficar com uma parte desses slots, que passariam, então, a ser divididos em seis UPIs. O acordo das duas, porém, foi feito com a gestora Elliott, que detém 75% da dívida da Avianca, e tirou a Azul da jogada.

O leilão que concretizaria esse plano foi suspenso pela Justiça após questionamento de credores menores, o que paralisou o plano de recuperação.

Na semana passada, a Azul fez nova oferta. Dessa vez, de US$ 145 milhões. Mas a Avianca respondeu que a proposta “não é juridicamente viável”, pois não foi analisada nem aprovada em assembleia de credores.

Com o entrave no processo de recuperação, o já minguado caixa da companhia aérea foi se extinguindo. Desde fevereiro, a empresa operava com recursos que vinham sendo injetados por Azul, Latam e Gol, em troca de preferência no leilão de slots. Ao todo, as três colocaram US$ 39 milhões (cerca de R$ 155 milhões) na Avianca. Gol e Latam pagaram, antecipadamente, mais US$ 70 milhões para o Elliott.

Com a suspensão das operações da Avianca, a briga pelos slots tem novo capítulo. Pela regra, por não estarem em uso, eles deveriam ficar vagos até o início da temporada de verão, em 26 de outubro. Antes de cada temporada, a Anac redistribui entre as aéreas os slots vagos. A primeira a ter direito é uma entrante, seguida pelas que já atuam no aeroporto, tendo prioridade as mais pontuais.

Procurada, a Avianca Brasil informou em nota que tomou a iniciativa de suspender “temporariamente suas operações (...) com o propósito preservar os padrões de segurança e eficiência que sempre foram prioridades em sua operação”. A empresa afirmou ainda “estar focada em dar continuidade ao seu plano de recuperação”.

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United tira Efromovich da holding da Avianca

25/05/2019

 

 

Um dos donos da Avianca Brasil, Germán Efromovich sofreu um revés também na Colômbia ontem. Controlador da Avianca Holdings (segunda maior aérea da América Latina), ele perdeu todas suas cadeiras no conselho da companhia, após a United Airlines indicar um dos desafetos do empresário para tomar decisões em seu nome.

A decisão da companhia americana ocorreu após a Avianca divulgar, na quinta-feira, prejuízo de US$ 67,9 milhões no primeiro trimestre de 2019. A United havia feito, no ano passado, empréstimo de US$ 450 milhões para Efromovich que tinha como garantia as ações dele na Avianca. O contrato previa que, caso as ações se desvalorizassem, a United teria o direito de voto dos papéis de Efromovich – o que ocorreu ontem.

Assim, o empresário, que nasceu na Bolívia, mas fez carreira na Colômbia e no Brasil, continua como controlador, mas sem poder para decidir na companhia. Com o anúncio da mudança, as ações da Avianca em Nova York dispararam 28,57% e fecharam cotadas a US$ 3,96.

A United nomeou a empresa Kingsland (dona de 14,46% da Avianca) para exercer o direito de voto de Efromovich. Kingsland é controlada por Roberto Kriete, que também já foi dono da Taca, aérea vendida à Avianca em 2010.

Kriete, um milionário de El Salvador, trava na Justiça uma disputa contra Efromovich. Segundo a revista The Economist,a briga ocorre porque Kriete afirma que o empréstimo feito pela United tinha o objetivo auxiliar a operação da Avianca Brasil. Esse empréstimo, de acordo com Kriete, haveria permitido uma série de excessos na Avianca Holdings, como a encomenda de 50 aviões que não seriam necessários.

No Brasil, Efromovich é conhecido justamente por tomar decisões impetuosas e voltar de feiras do setor aéreo com encomendas que não condiziam com a realidade econômica do País.

Na quinta-feira, na divulgação dos resultados da Avianca, a empresa anunciou uma reestruturação que inclui a revisão da compra de 128 aeronaves para 111, o que representa uma economia de US$ 2,6 bilhões, e o corte de 16 rotas.

Ontem, a United divulgou que, com Kriete no comando, está disposta a investir mais US$ 250 milhões na empresa para que ela se reestruture./L.D.