O globo, n. 31358, 15/06/2019. País, p. 6

 

Governo de alta rotatividade

Gustavo Maia

Jussara Soares

15/06/2019

 

 

Bolsonaro anuncia demissão nos Correios; 2º escalão já tem 17 baixas

Juarez Aparecido Cunha será exonerado por se opor à privatização da empresa e ter tirado fotos com deputados do PT e do PSOL.

Um dia depois da saída de Carlos Alberto dos Santos Cruz, o terceiro ministro em menos de seis meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem, em um café com jornalistas, a decisão de demitir o presidente dos Correios, Juarez Aparecido de Paula Cunha. Segundo levantamento do GLOBO, é a 17ª demissão de um integrante do segundo escalão no atual governo. Deacordo com Bolsonaro, a exoneração de Cunha deve ser publicada nos próximos dias e se deve à recente ida do presidente da estatal à Câmara, a convite de partidos da oposição. Para o presidente, ele se comportou como um sindicalista na ocasião e posou para fotos com deputados do PT e do PSOL. Bolsonaro disse ainda que o fato de Cunha ter descartado a privatização dos Correios —já aventada publicamente pelo presidente —pesou para a decisão. General da reserva, assim como Santos Cruz, Cunha chegou ao cargo em novembro do ano passado. Bolsonaro já tinha sido eleito e deu aval à indicação, formalizada pelo então presidente Michel Temer. Cunha entrou

no Exército em 1969 e chegou a ser comandante Militar do Oeste, em Campo Grande (MS).

O evento que justificou a demissão ocorreu no dia 5 deste mês e foi promovido pelas comissões de Legislação Participativa e de Trabalho, Administração e Serviço Público. Em sua fala, o presidente da estatal afirmou que a privatização é “uma suposição”.

SUBSTITUIÇÕES

O número de 17 demissões no segundo escalão leva em conta os nomeados por Bolsonaro ou aqueles que tiveram aval do presidente na sua indicação no final do governo Temer. A maior quantidade de substituições (10) ocorreu no Ministério da Educação (MEC), que já teve também troca do titular. O primeiro ministro a assumir a pasta no governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, caiu após uma sequência de entreveros internos e paralisia do órgão. Uma guerra entre a ala ideológica, militares e quadros técnicos no ministério levou a uma sucessão de baixas.

Antes de ser demitido, Vélez Rodríguez exonerou seu próprio secretário-executivo, Luiz Tozi. O cargo foi assumido pelo militar Ricardo Machado Vieira, que saiu com a chegada do atual ministro, Abraham Weintraub. O novo titular da pasta exonerou cinco secretários setoriais trazidos por Vélez. No Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC, a situação é ainda mais caótica. Somente no governo Bolsonaro, houve três presidentes. O primeiro, Marcus Vinicius Rodrigues, foi demitido por Vélezapóssuspenderaavaliação da alfabetização este ano. O cargo ficou vago cerca de um mês, até que Elmer Vicenzi, delegado da Polícia Federal, assumiu, já na gestão de Weintraub. Mas não durou 20 dias , sendo substituído pelo atual presidente, Alexandre Lopes. O Inep é responsável pelos exames educacionais do país, como o Enem. Na Agência de Promoção das Exportações (Apex), do Ministério de Relações Exteriores, também já ocorreram duas trocas de presidente. Há ainda registros de trocas em cargos de segundo escalão em mais cinco ministérios: Direitos Humanos, Secretaria de Governo, Cidadania e Turismo. Na Casa Civil, essa semana, o ministro Onyx Lorenzoni exonerou um ex-deputado que cuidava da articulação política.