Correio braziliense, n. 20458, 26/05/2019. Política, p. 3

 

Congresso se exime de culpa

Bernardo Bittar

26/05/2019

 

 

Parlamentares acreditam que o Palácio do Planalto sairá perdendo com as manifestações programadas para hoje, independentemente do tamanho delas. Os atos foram convocados como resposta às forças que “impedem o presidente Jair Bolsonaro de governar”. Um dos alvos dos protestos será justamente o Congresso.Quinze senadores reunidos na casa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) discutiram o cenário político do país, antecipando-se aos acontecimentos da manifestação de hoje. Concluiu-se, segundo um dos parlamentares presentes ao encontro, que “a crise é intermitente e seguirá aos soluços”. Seja qual for o resultado dos atos marcados para este domingo, acreditam eles, a tendência é de que haja uma piora no ambiente entre o Planalto e o Congresso.

Impossível analisar o cenário sem esbarrar em duas possibilidades, disse um senador. A primeira delas é a eventual falta de quórum na Esplanada dos Ministérios, local da manifestação em Brasília, “e a possibilidade é grande”, salientou. A segunda, a dependência do Planalto sobre o apoio popular. “Se der caldo, o presidente pode começar a chamar as pessoas (manifestantes) a cada etapa do governo toda vez que encontrar uma dificuldade.”

Deputados do próprio partido do presidente, o PSL, mostram-se descontentes com o governo em relação às manifestações, ainda que alguns deixem as reclamações para conversas privadas.

Para o deputado Arthur Maia (DEM-BA), eventuais ataques ao Legislativo serão feitos “sem objeto”. “Não há o que falar. Se disserem que ser contra a Previdência é perseguição ao presidente, teremos de lembrar que Bolsonaro perseguiu Michel Temer ao ser contra a sua reforma”, lembrou o parlamentar, responsável pela relatoria do texto do então presidente sobre o tema, no ano passado. “Se (os manifestantes) acham que vão intimidar o Congresso, é um ledo engano. Aliás, quem precisa temer alguma reação é o Planalto. A manifestação vai dar a dimensão exata do tamanho do apoio do governo.”

O deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), por sua vez, afirmou que não é momento para ataques e explicou que a prioridade deveria ser tirar o Brasil “deste momento trágico”, com falta de emprego e descrença na classe política. “O Congresso precisa fazer seu papel, viabilizar todas as coisas de que o Brasil precisa. Mas não dá para colocarem no colo dos parlamentares os problemas que estão aí”, ressaltou. Sobre o mal-estar entre deputados e senadores e o Executivo, Ramalho contemporizou: “Tudo o que tem ido para o Congresso tem sido votado. Não precisa de conversinha. Precisamos de união”.

Crise “do outro lado”

Questionado sobre as atividades do Legislativo, o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), disse que “o Congresso cumpre seu papel”. Para o deputado, o que vai ditar o tom das respostas dos parlamentares será justamente a força da manifestação. “Falar de um, outro, colocando alguém como problema, é uma coisa, mas falar em fechar Congresso, em ataques à democracia, tem outro peso, e daremos uma resposta a contento.” Nas palavras de José Nelto, “a crise está do outro lado da rua”.