Título: Cenário indefinido em São Paulo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2012, Política, p. 5

A cinco dias das eleições municipais em São Paulo, uma nova rodada da pesquisa Ibope jogou a disputa no nível da imponderabilidade. Antes líder absoluto e praticamente assegurado no segundo turno, o candidato do PRB, Celso Russomanno, despencou sete pontos percentuais em uma semana — está com 27% no levantamento, contra os 34% da semana passada. José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) aparecem empatados tecnicamente, com ligeira vantagem para o tucano: 19% a 18%. Em quarto lugar aparece o candidato do PMDB, Gabriel Chalita, que subiu de 7% para 10% nas intenções de voto.

O Ibope ouviu 1.204 pessoas entre 27 de setembro e 2 de outubro. A margem de erro máxima do levantamento é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o protocolo SP-1474/2012.

O resultado de Russomanno surpreendeu até mesmo os adversários. "Ele está desintegrando, perdendo um ponto percentual por dia", afirmou um estrategista da campanha de José Serra. A queda coincide, também, com a massificação de Serra e Haddad em fazer comícios na periferia da capital paulistana, como adiantou o Correio no fim de semana. Os petistas estiveram em São Miguel Paulista e em Cidade Tiradentes, no sábado, e em Guayanazes na segunda-feira, com a presença da presidente Dilma Rousseff. Os tucanos fizeram um grande comício na Vila Matilde, no domingo.

Todos esses eventos foram realizados na Zona Leste paulistana, região considerada a mais carente de São Paulo, com um eleitorado aproximado de 3,03 milhões de eleitores. Os marqueteiros de Serra e de Haddad avaliavam que o voto em Russomanno não estava consolidado o suficiente, deixando brechas para uma ação efetiva dos adversários.

Um dos coordenadores da campanha de Serra, o deputado Walter Feldmann (PSDB-SP), fez ao Correio uma análise que parecia delírio há três semanas: "Não me espantaria se os três chegarem na véspera da eleição empatados tecnicamente". Mais cauteloso, o petista Antonio Donato, presidente do Diretório Municipal paulistano e coordenador da campanha de Haddad, também identifica uma mudança de ventos na eleição paulistana. "Em todas as nossas pesquisas internas, era nítido que Russomanno cairia em algum momento. Não sei se a queda será suficiente para tirá-lo do segundo turno", completou.

Mensalão Embora animado com a entrada de Dilma na campanha municipal — o comício em Guayanazes na noite de segunda será usado no horário eleitoral de hoje —, o PT terá que se defender do uso maciço do mensalão nessa reta final da campanha. Não haverá tempo para a conclusão do julgamento do núcleo político, composto pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Mas a confirmação pelo Supremo Tribunal Federal de que houve compra de apoio político pelo governo de Lula será usado à exaustão. "Ou queremos governantes de mãos limpas ou vamos sempre ser governados pelos "bandoleiros da estrada"", declarou Feldmann, parafraseando o ministro Celso de Mello. Até mesmo o candidato do PRB, Celso Russomanno — partido que está na base de apoio da presidente Dilma Rousseff e que comanda o Ministério da Pesca — resolveu atacar o PT por causa do mensalão. "O Supremo está aí para provar que o PT é especialista em baixaria e mentira", afirmou.

"Cheque em branco" O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na tarde de ontem, de um minicomício em Santo Amaro, Zona Sul da capital paulista. Lula afirmou que só pensa na disputa de domingo: "Estou preocupado com a eleição", afirmou o ex-presidente. Ao defender a capacidade administrativa de Haddad, Lula, sem perceber, declarou sobre o pupilo o mesmo que afirmou em 2005 sobre Roberto Jefferson, meses antes de o petebista denunciar o mensalão. "Se eu puder dar um cheque em branco para ele (Haddad), eu dou, porque sei que não vai acontecer nada, ele vai devolver o meu cheque", disse.