Correio braziliense, n. 20459, 27/05/2019. Economia, p. 7

 

Fique atento aos preços

Thais Moura

27/05/2019

 

 

Viagem » Cancelamento das operações da Avianca pela Anac deve abrir uma nova onda de aumento de passagens aéreas. Portanto, quem pretende viajar a lazer no meio do ano precisa correr para não deixar tudo para a última hora

Quem pretende viajar nas próximas férias e ainda não comprou as passagens, é melhor se apressar. Isso porque, com a suspensão dos voos da Avianca Brasil pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os preços de passagens aéreas das companhias concorrentes — Gol, Latam e Azul  — tendem a ter novos aumentos além do que já subiram desde abril, quando a Aviaca entrou em recuperação judicial e cancelou mais de 2 mil voos.

Um levantamento feito pela empresa especializada em busca de passagens Kayak no início de maio mostra que a alta média nos preços foi de 14%. Brasília foi um dos destinos que mais encareceram, tendo um aumento de aproximadamente 70% nos preços, segundo o estudo. “Com os cancelamentos, a oferta de voos nacionais diminui e os preços aumentam. É a lei da oferta e da demanda. Além disso, o volume total de buscas no site aumentou 40% após os primeiros cancelamentos”, explica Eduardo Fleury, líder de operações da Kayak no Brasil.

Devido à forte variação dos preços, diversos brasileiros enfrentam dificuldades para financiar suas viagens de férias. Alguns até desistiram de sair da cidade no meio do ano. É o caso da servidora pública Adriana Silva, de 38 anos. “Eu planejava viajar em julho com meus dois filhos, mas tive que desistir, porque os preços das passagens estão altíssimos. Estou sem reajuste salarial há dois anos, a mensalidade da escola dos meus filhos aumentou em 10%, e os planos de saúde, em 20%”, desabafa. Ela pretendia passar as férias no Nordeste.

Já Matheus Natan, fotógrafo, designer e estudante de 18 anos, planejava ir para Curitiba e, em seguida, para o Rio de Janeiro, mas está repensando a viagem devido aos valores proibitivos. “Desde o início de abril, eu vinha pesquisando os preços. Tudo estava por R$ 449. Acabei não comprando na época por conta de alguns imprevistos com meu cartão. Então, aconteceu tudo isso com a Avianca e, quando pesquisei de novo, o valor dos mesmos trechos e voos já tinha subido para R$ 580”, relata o jovem, que cuida de um blog sobre viagens.

Apaixonado por conhecer novos arredores, Matheus diz que economiza em seus passeios de diversas formas: pesquisando com pelo menos três meses de antecedência, utilizando milhas e usando sites de comparação de preços de passagens, como Voopter e SkyScanner.

Francileide Marinho, estudante de comunicação de 24 anos, é outra que foi prejudicada pelos aumentos nos preços. De dois em dois meses, a jovem se encontra com o namorado, que mora em Salvador. Porém, como o preço médio das passagens saiu em torno de R$ 800, terá que extrapolar seu orçamento para aproveitar as férias. “Sempre pago em torno de R$ 500 nas passagens, ida e volta. Ainda não comprei, estou pesquisando todo dia os preços, mas o menor que encontrei foi na faixa de R$ 800, pela Gol”, conta Francileide, que utiliza aplicativos de celular, como Passagens Imperdíveis e Melhores Destinos para obter descontos.

Planejamento

Ainda é possível viajar nas férias sem ficar endividado. Especialistas orientam que, para evitar gastos além dos desejados, é importante fazer um planejamento, como definir, com antecedência, todos os custos com passagens, hospedagem, alimentação e passeios.

O professor de Finanças Ricardo Rocha estabelece três fases para o preparo de uma viagem econômica. O primeiro é a avaliação de prós e contras do destino e escolher o que está mais em conta. No segundo passo, é preciso decidir os dias da estadia e fazer uma ampla pesquisa sobre o custo da hospedagem e do transporte. Já a terceira fase do planejamento se baseia no cálculo mínimo dos gastos diários, incluindo compras desejadas e alimentação.

“O ideal é ter reservas de 30% acima do orçamento estabelecido para a viagem, porque é muito provável ocorrerem gastos adicionais. Além disso, sugiro que toda a programação financeira comece com 12 meses de antecedência, para ter a possibilidade de guardar parte dos recursos mensalmente”, sugere Rocha.

70%

Aumento aproximado nos bilhetes de Brasília, segundo pesquisa da Kayak