O Estado de São Paulo, n.45859, 09/05/2019. Política, p. A10

 

Acordo do Planalto para recriar pastas incomoda líderes 

Vera Rosa 

09/05/2019

 

 

 Recorte capturado

Negociação para ocupar Cidades e Integração Nacional provoca racha no MDB e divide ainda mais potenciais aliados do governo

Comissão. Sérgio Moro (esq.) e o general Eduardo Villas Bôas (dir.) participam de audiência

A negociação do Planalto com a cúpula do Congresso para a indicação de políticos que possam ocupar os novos ministérios das Cidades e da Integração Nacional provocou um racha no MDB e dividiu ainda mais potenciais aliados do governo. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha cedido aos apelos para recriar as duas pastas e extinguir o Ministério do Desenvolvimento Regional, líderes de partidos do Centrão não gostaram de saber que os nomes dos titulares serão escolhidos pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM.

O governo deu sinais de que prefere um nome do MDB para Integração. Desde então, Alcolumbre foi procurado por vários parlamentares e há uma acirrada disputa no partido pela vaga. Uma ala quer emplacar o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que é relator da medida provisória sobre a reforma administrativa. Líder do governo no Senado, Bezerra Coelho já comandou a pasta no primeiro mandato da então presidente Dilma Rousseff, de 2011 a 2013. Na outra ponta há um grupo que articula a indicação da senadora Simone Tebet (MS). Ela renunciou à candidatura para apoiar Alcolumbre na eleição do comando da Casa contra Renan Calheiros (AL). O gesto foi visto com simpatia pelo Planalto. “O MDB não está pleiteando nem vai indicar ninguém”, disse o ex-senador Romero Jucá (RR), presidente do partido. “Não participaremos dessa discussão, que é conduzida pelo Davi.” O próprio Jucá, porém, enfrenta “fogo amigo” nas fileiras do partido. Em conversas reservadas, seus colegas dizem que ele “trabalha” para ser ministro, com o objetivo de obter foro privilegiado, uma vez que é alvo da Lava Jato. “Eu quero distância de ministério”, reagiu o ex-senador. “Isso não existe.”

O Estado apurou que Maia avalizou Alexandre Baldy (PP), atual secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, para Cidades, ministério que o exdeputado já comandou no governo Temer. Pressionado por seus pares, Alcolumbre afirmou, à noite, que não indicará o titular da Integração. “O que nós dissemos é que esse novo modelo estava travando muitas coisas, como o Minha Casa Minha Vida. Em virtude dessa sobreposição, Câmara e Senado sinalizaram a possibilidade de retomar o modelo antigo”, argumentou ele. Na tentativa de evitar mais desgastes, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que a intenção do Planalto é manter o atual ministro do Desenvolvimento, Gustavo Canuto, na Integração. Canuto é um técnico, sem filiação partidária. O Ministério da Economia informou que o impacto da recriação das pastas de Cidades e da Integração será compensado pela extinção de 17 cargos do grupo Direção e Assessoramento Superiores (DAS), que estão vagos.

Redesenho. A polêmica ocorre no rastro da discussão da Medida Provisória 870, que trata da reforma administrativa, com a redução de 29 para 22 ministérios. A votação foi adiada para hoje, depois que a sessão da comissão mista do Congresso para analisar o tema foi suspensa, escancarando a resistência dos parlamentares com o novo desenho da Esplanada. Além disso, o Centrão se juntou à oposição e quer devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à equipe econômica, retirando poderes do ministro da Justiça, Sérgio Moro. “Quer dizer que, se o Moro deixar de ser ministro, vai acabar o combate à corrupção no Brasil?”, provocou o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL). Se a MP não for aprovada até 3 de junho, a configuração da Esplanada volta a ser como era na gestão Temer. Baldy e o ex-ministro Gilberto Kassab são os nomes preferidos da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para assumir Cidades. Representantes dos prefeitos fizeram os nomes chegarem a Maia, responsável por negociar com o governo. O Minha Casa Minha Vida, considerado vitrine em gestões petistas, deve retornar para Cidades. “Lá atrás, tentamos explicar para o governo a complexidade dos assuntos que estavam se fundindo”, disse o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), presidente da FNP./ COLABORARAM RICARDO GALHARDO, RENATA AGOSTINI e DANIEL WETERMAN

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Na Câmara, Moro chama Villas Bôas de 'herói nacional'

Breno Pires 

09/05/2019

 

 

A audiência em uma comissão da Câmara com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ontem, foi palco de um desagravo ao ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas, após ataques feitos pelo escritor Olavo de Carvalho, considerado guru do bolsonarismo. “Gostaria de aderir às homenagens ao general Villas Bôas. Na minha opinião e de muitos, um herói nacional”, afirmou Moro, que qualificou o militar como “exemplo de homem público”.

O general da reserva, que hoje exerce o cargo de assessor especial do ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi o portavoz do descontentamento dos militares com os “olavistas” no governo no início da semana. Após chamar o escritor de “Trótski de direita”, disse, em entrevista ao Estado, que Olavo presta um “desserviço” ao País.

Em resposta, Olavo afirmou que oficiais militares escondiam-se atrás de um “doente preso a uma cadeira de rodas”, em referência a Villas Bôas, que sofre de uma doença degenerativa.

Ontem, o general voltou a criticar o guru do bolsonarismo. “Praticamente todas as crises que nós vivemos, desde que o presidente Bolsonaro assumiu o governo, têm a participação direta ou indireta de Olavo de Carvalho”, disse.

A presença na audiência com Moro foi uma deferência ao exjuiz da Lava Jato. O general participava de uma cerimônia alusiva à Segunda Guerra Mundial no plenário e decidiu comparecer à reunião para, em suas palavras, “prestigiar” o ministro e seu pacote anticrime. “Passei aqui simplesmente para prestigiar esse grande cidadão e excepcional ministro que tem feito um excelente trabalho”, afirmou.

Questionado se os elogios representam uma tomada de posição em defesa dos militares dentro do governo, Moro não comentou. Oito dos 22 ministros são militares. Dois ministros civis são ligados a Olavo – Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Abraham Weintraub, da Educação.