Título: Brasil só passa o Paraguai em PIB
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2012, Economia, p. 14

País ocupará o penúltimo lugar no ranking de crescimento da América Latina em 2012NotíciaGráfico

A Cepal — comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) de pesquisa econômica e social para a América Latina e o Caribe — revisou para baixo as estimativas de crescimento na região, sobretudo do Brasil e da Argentina. O relatório anual divulgado ontem em Santiago do Chile, sede do órgão, previu uma expansão em 2012 de 1,6% para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas em um ano) brasileiro, a mesma anunciada na semana passada pelo Banco Central. No estudo preliminar, apresentado em junho, a alta prevista era de 2,7%. A Argentina, por sua vez, deverá fechar o ano com crescimento de 2%, ante 3,5% da previsão anterior, segundo a Cepal.

Com isso, o desempenho da economia brasileira será o segundo pior da América Latina neste ano, maior apenas que o do Paraguai, com estimativa de retração de 2%. Se incluir o Caribe, o pibinho do Brasil só ficaria à frente de cinco países em uma lista de 33. "Estamos preocupados com os dados brasileiros e argentinos, que refletem o impacto do atual estágio da crise iniciada em 2008, com sérias perdas no comércio exterior", comentou secretária-executiva da Cepal, Alicia Barcéna.

"O Brasil experimentou um processo de desaceleração mais forte que os demais países durante o último semestre de 2011, somente no início do segundo semestre de 2012, começou-se a notar alguns sintomas de reativação. Na Argentina, a diminuição foi mais marcada durante o primeiro semestre de 2012", diz o relatório. A Cepal prevê que a economia da América Latina e do Caribe avance 4% no próximo ano e 3,2% neste ano.

Alicia vê com esperança as políticas públicas voltadas ao estímulo ao investimento direto e ao desenvolvimento do mercado doméstico. Lembra que a América Latina, ao contrário de Europa e Estados Unidos, ainda tem espaço fiscal para enfrentar a desacelaração. Para os economistas da Cepal, a estagnação da zona do euro e a tímida recuperação norte-americana afetaram duramente as exportações da região e adiaram a retomada econômica do segundo semestre deste ano para 2013. Ela acrescenta que a recuperação esperada para o próximo ano será também "precária", se considerar que os Estados Unidos terão de encarar um forte ajuste fiscal logo em janeiro.

O consumo tem sido o principal impulsor da expansão regional, em razão do comportamento positivo no mercado de trabalho, com nível de ocupação e de salários ainda em alta, assim como no caso do crédito. Sobre inflação, o relatório indica que foi mantida a tendência de queda verificada até junho.

» Pesquisadores

A falta de coordenação entre os países na busca de saídas para a crise econômica está abrindo espaço para novos conflitos comerciais e até reacendendo velhas tensões geopolíticas. Fatores como extensão territorial, população e poder militar deverão, cada vez mais, pesar na retomada da atividade em mercados emergentes e desenvolvidos. A avaliação é do reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina, que preside ao longo desta semana encontro com pesquisadores de 23 países para debater a crise global e seus efeitos sobre a América Latina.