O Estado de São Paulo, n.45859, 09/05/2019. Economia, p. B5

 

Banco Paulista é novo alvo da Lava Jato 

Fausto Macedo 

Pepita Ortega 

Aline Bronzati 

09/05/2019

 

 

Operação. Policiais fizeram buscas em sede do Banco Paulista

A Operação Lava Jato deflagrou ontem nova fase para apurar a participação de executivos do Banco Paulista em operações que serviriam de fachada para lavar dinheiro do chamado “setor de operações estruturadas” do Grupo Odebrecht, responsável pelo pagamento de propinas. Segundo as investigações, entre 2009 e 2015, R$ 48 milhões foram lavados por meio da celebração de contratos falsos com o banco. A 61.ª fase da Lava Jato realizou 41 buscas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre e envolveu 170 policiais federais.

Segundo as investigações, três altos funcionários do Banco Paulista – presos na manhã de ontem – fraudavam operações para disfarçar o repasse de comissões pagas pela empreiteira. O Paulista – que também inclui a corretora Socopa – foi fundado em 1967, contabilizava 15,6 mil clientes em setembro do ano passado e trabalha sobretudo com câmbio. Em 2018, teve prejuízo de R$ 25,5 milhões, revertendo lucro de R$ 30,6 milhões em 2017, segundo o Banco Central. Ex-presidente da Bovespa nos anos 1990, o executivo Alvaro Augusto Vidigal comanda a instituição.

Segundo o Ministério Público Federal, os sócios do Banco Paulista receberiam comissão de 2% sobre os ingressos de valores de origem ilícita nas contas mantidas pelo Grupo Odebrecht na instituição de 2010 a 2016. Essas comissões eram depositadas em uma offshore, que distribuía os valores a outras instituições no exterior. O dinheiro era repatriado ao Brasil por meio de doleiros e do Banco Paulista, que fazia pagamentos em espécie a empresas de fachada.

Mais repasses. Segundo as investigações da Operação Disfarces de Mamom, são apurados repasses de R$ 280 milhões, realizados pelo banco entre 2010 e 2017, a dez empresas de fachada. Todas se autodenominavam assessorias financeiras e não teriam funcionários ou sede própria, além de emitirem notas fiscais sequenciais. O Banco Paulista era responsável pelo equivalente a 99% do faturamento dessas companhias.

Segundo o MPF, em apuração feita pelo Banco Central há dois anos sobre os contratos fictícios, o Banco Paulista alegou que os pagamentos seriam referentes a remunerações de uma operação denominada “Importação de Moeda Nacional”. Para a Procuradoria, a explicação não se baseou em documentos formais que provassem a relação com os clientes.

Outro lado. Procurada, a Odebrecht afirmou que tem colaborado com as autoridades para o “esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus exexecutivos”. O Banco Paulista não foi retornou os contatos. O BC também não se pronunciou.

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BC mantém juros básico em 6,5% pela nona vez consecutiva 

Eduardo  Rodrigues 

09/05/2019

 

 


 Recorte capturado

 

 

Decisão, unânime, era esperada pelo mercado, mas Copom aumentou o tom de preocupação com recuperação econômica

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, manter a Selic (a taxa básica de juros da economia) em 6,50% ao ano, a mais baixa da história. Essa foi a nona manutenção consecutiva da taxa nesse nível.

Apesar da decisão – que era amplamente esperada pelo mercado – o BC aumentou o tom de preocupação com o ritmo de recuperação da economia brasileira. Para alguns analistas, o fraco desempenho da atividade pode levar o Copom a reduzir os juros no futuro, mas o colegiado mais uma vez pregou “cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis”. No comunicado divulgado logo após a decisão, no começo da noite, o Copom destacou que o risco de uma inflação menor devido ao fraco desempenho econômico se elevou desde a última reunião, em março.

O Comitê também avaliou que os indicadores recentes da atividade econômica sugerem que a perda de dinamismo observada no final de 2018 teve continuidade no início deste ano.

No último Relatório Focus, publicado na segunda-feira, os economistas ouvidos semanalmente pelo BC reduziram a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 1,70% para apenas 1,49%. Já são dez semanas consecutivas de redução das estimativas dos analistas para o desempenho Patricia Pereira da atividade em 2019.

Ainda assim, o BC voltou a avaliar ser importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado, como a greve dos caminhoneiros, as incertezas do período eleitoral e a crise na Argentina.

Mas, diferentemente das comunicações anteriores, o BC desta vez destacou que deve esperar a “redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta”. “O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo”, completou o documento.

Neutralidade. Para a gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patricia Pereira, o Copom optou pela “neutralidade” ao manter a Selic em 6,50% ao ano. “Prefiro pensar que o Copom se manteve o mais neutro possível em relação à Selic, porque precisa de mais tempo para julgar os efeitos dos choques do ano passado na economia”, avaliou.

Segundo o economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos Brasil, Flávio Serrano, o que impede o BC de cortar juros no momento são as incertezas em relação à reforma da Previdência. “E esse risco se acentua num cenário adverso das economias emergentes se lá fora as coisas piorarem”, lembrou.

O BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado – que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro –, o BC alterou sua projeção para o IPCA em 2019 de 3,9% para 4,1%. No caso de 2020, a expectativa continuou em 3,8%.

No cenário de referência, em que o BC utilizou nos cálculos uma Selic fixa a 6,50% e um dólar a R$ 3,95, a projeção para o IPCA em 2019 passou de 4,1% para 4,3%. No caso de 2020, o índice projetado seguiu em 4,0%./ COLABORARAM JULIA LINDNER E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS