Correio braziliense, n. 20457, 25/05/2019. Economia, p. 6

 

Quase 130 mil novas vagas formais em abril

Hamilton Ferrari

25/05/2019

 

 

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) surpreendeu positivamente os economistas e mostrou que o Brasil criou 129.601 postos de trabalhos em abril. A expectativa dos analistas era de que fossem gerados cerca de 80 mil empregos. Ou seja, cerca de 50 mil a menos do que foi concretizado. A divulgação dá um certo alívio ao Palácio do Planalto, em meio a tantos indicadores negativos na economia. “É o melhor resultado dos últimos seis anos para o mês. Ainda estamos longe do ideal, mas no caminho certo!”, escreveu o presidente Jair Bolsonaro no Twitter.
Em abril, foram 1,374 milhão de contratações, contra 1,245 milhão de demissões. O mês é, tradicionalmente, positivo para o mercado de trabalho, tanto é que foi o terceiro ano consecutivo de resultado no azul. Segundo analistas, o indicador é uma boa notícia, mesmo com a sazonalidade do mês, mas é bem difícil falar em aquecimento maior da economia. No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, foram abertas 313.835 vagas, resultado abaixo do saldo positivo de 336.855 postos de igual período do ano passado.
O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, destacou que as contratações foram 12% maiores em comparação com o ano passado. “Diversos setores tiveram bom desempenho, como o de serviços hospitalares e agropecuária, por exemplo. Das 27 unidades da Federação, 23 tiveram desempenho positivo. O que também é motivo para comemoração”, defendeu o secretário. “Não há como se pensar num desempenho do mercado de trabalho dissociado dos aspectos da economia brasileira de maneira geral. É possível se prever um aumento do emprego nos próximos meses, mais em linha com as expectativas de crescimento do país, que, por sua vez, estão alinhadas com os investimentos e aprovações das reformas”, ponderou Dalcolmo.
Apesar da perspectiva mais positiva, a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, defendeu que os índices de confiança estão fracos e os indicadores de comércio, serviço e produção industrial também não agradam. “Em algum momento, essa desaceleração baterá novamente no Caged”, ressalta. “O PIB não é afetado diretamente pelo Caged e, sim, pela massa salarial e projetamos uma massa crescendo bem pouco este ano”, acrescentou.
Estoque
O salário médio de admissão nos empregos com carteira assinada teve queda real de 1,32% em abril em comparação com o mesmo mês do ano passado, chegando a R$ 1.584,51. Apesar disso, houve alta de 0,45% em comparação com março.
A recuperação do mercado de trabalho foi puxada pelos setores de serviços, que criou 66.290 postos formais, e pela indústria de transformação, que gerou 20.479 empregos. O segmento de serviços hospitalares registrou 20.589 contratações. O estoque de empregos chegou a 38,5 milhões, segundo o Caged. Todas as regiões do país tiveram um desempenho positivo. O Sudeste, com 81.106 contratações, foi a que mais gerou empregos. Seguido de Nordeste (15.593), Centro-Oeste (15.240), Sul (14.570) e Norte (3.092).
Além disso, o Ministério da Economia defendeu que a reforma trabalhista tem contribuído para a geração de empregos formais. Ao todo, foram criados 5.422 vagas de trabalho intermitente e 2.827 de trabalho em regime de tempo parcial. Segundo Dalcolmo, a reforma trabalhista habilitou a geração de novos empregos. “Não mexeu em nenhum direito dos trabalhadores e, sim, na segurança jurídica. Melhorou o ambiente de negócios, mas a economia brasileira precisa retomar o caminho do crescimento, baseado numa situação fiscal mais sólida e resolvida para que o mercado de trabalho também reaja da mesma maneira”, defendeu.
Flexibilidade
Para Solange, o resultado é significativo. “Não pelo número, que ainda é baixo, mas pelo começo de um processo que se intensificará nos próximos meses e anos. A reforma trabalhista deixa o mercado de trabalho mais flexível, eficiente e assim contribui positivamente para o PIB de médio prazo. É uma reforma que aumenta a produtividade, tendo efeitos de médio e longo prazos na economia”, argumentou a economista.
De acordo com o economista-chefe da PCA Capital, Pedro Coelho Afonso, abril teve bons resultados no mercado de trabalho em reflexos de uma economia muito reprimida. “Mas isso não indica uma melhora efetiva. Não há nenhuma medida implementada, nem pelo último governo ou atual, que tenha impacto na geração de empregos. Estamos engasgados com a reforma da Previdência”, disse.
Afonso entende que, quanto mais tempo o Brasil demora para aprovar a proposta que altera as regras de aposentadorias e pensões, pior será o ritmo de recuperação do mercado. “O texto será aprovado. O problema é quando e como. Estamos com um governo que demonstra bastante conflitos e temos insegurança jurídica e política. Isso tudo atrapalha investimentos”, explicou.