Título: Calote reduz lucro de bancos
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2012, Economia, p. 15

Com inadimplência, instituições tiveram redução de 3,6% nos ganhos, que somaram R$ 55,8 bilhões em 12 meses até junho

O aumento do calote nos primeiros seis meses do ano fez um estrago na rentabilidade das instituições financeiras. O lucro líquido dos bancos que atuam no país recuou 3,6% nos doze meses encerrados em junho deste ano, somando R$ 55,8 bilhões, informou ontem o Banco Central (BC). De acordo com o relatório de estabilidade financeira, que contém dados do primeiro semestre de 2012, em dezembro de 2011 o lucro líquido dos bancos em 12 meses alcançava R$ 59,4 bilhões.

Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, a queda do lucro foi provocada pelo aumento das despesas de provisão, consequência direta da elevação da inadimplência. Os créditos baixados como prejuízo pelas instituições financeiras alcançaram R$ 24,8 bilhões em junho. Com isso o índice de cobertura caiu de 1,8 em dezembro para 1,6 em junho. Índice de cobertura acima de um significa que os bancos têm recursos mais do que suficientes para cobrir os prejuízos. Mesmo com a queda, para cada um real baixado como prejuízo, as instituições financeiras possuem sessenta centavos a mais.

O Banco Central não está preocupado com o aumento da inadimplência e seus efeitos, até porque, segundo Meirelles, dados mais recentes já mostram tendência inversa, que deverá se acentuar ao longo do último trimestre do ano. "Houve queda de rentabilidade, mas o setor continuou rentável e com nível de provisionamento em patamares adequados", avaliou o diretor do BC. "O aumento da inadimplência é algo passageiro, transitório e circunstancial", afirmou.

Meirelles não vê relação entre a queda da rentabilidade dos bancos e a queda dos juros. Na sua opinião, não é por cobrar menos dos clientes nas operações de crédito que os bancos estão lucrando menos. "O aumento da inadimplência, que afetou a rentabilidade, está mais relacionado à questão da atividade" ponderou. De acordo com o diretor, com taxas mais baixas mais pessoas pegarão crédito.

O relatório do BC também comprova que, graças a uma política agressiva de queda das taxas de juros, os bancos públicos conquistaram um bom espaço do mercado de crédito. A participação deles subiu de 43,5% em dezembro de 2011 para 45% em junho deste ano. No mesmo período a participação dos bancos privados brasileiros no mercado de crédito baixou de 39,2% para 38%. A participação dos bancos estrangeiros que atuam no Brasil caiu de 17,3% para 17%.

Cartão de crédito As empresas de cartões estão com medo de que as mudanças em estudo para o setor, que vêm sendo defendidas pelos bancos, prejudique a evolução observada nos últimos anos. O estudo em discussão envolve a cobrança de juros a partir da compra — hoje o cliente que souber usar o cartão tem até 40 dias para pagar a fatura sem qualquer acréscimo — em troca de um prazo mais longo ou a criação de uma sobretaxa, a ser cobrada dos lojistas, na opção de venda parcelada sem juro.

Hoje, segundo os dados do setor, 70% dos financiamentos feitos com o dinheiro de plástico, o equivalente a R$ 86 bilhões, são na modalidade sem juro. Mas os bancos entendem que o carregamento desse crédito sem juros tem um custo elevado, já que envolve o risco de inadimplência dos consumidores.

Nas condições atuais, a Mastercard prevê que o mercado dos cartões de débito no Brasil deve dobrar de tamanho até 2016, alcançando R$ 493 bilhões.