O Estado de São Paulo, n. 45853, 03/05/2019. Economia, p. B3

 

Bancos divergem sobre economia que virá com reforma

Luciana Dyniewicz

03/05/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Com incertezas políticas, ‘poupança’ estimada varia de R$ 400 bi até R$ 990 bi, ou de 32% a 80% do R$ 1,2 trilhão esperado pelo governo

A incerteza política tem dificultado as projeções feitas por bancos e consultorias sobre a economia que será gerada pela reforma da Previdência nos próximos dez anos. Há desde estimativas que apontam para uma economia de R$ 400 bilhões – o que seria equivalente a apenas 32% do R$ 1,2 trilhão esperado pelo governo – até de R$ 990 bilhões (80%). Mesmo dentro das instituições financeiras, o intervalo de aposta é grande, dada a dificuldade de se prever o que acabará ficando de fora do texto final.

O Itaú Unibanco, por exemplo, projeta economia de R$ 670 bilhões a R$ 990 bilhões. A aprovação da proposta no plenário da Câmara dos Deputados é esperada pelo banco para agosto. “A margem é grande por causa da incerteza”, diz o economista da instituição Pedro Schneider.

Para Fabio Klein, economista da Tendências, há um empecilho extra, além da dificuldade de se prever o que sobrará do texto após a tramitação no Congresso: as projeções para vários indicadores econômicos, nos próximos dez anos.

A Tendências é uma das poucas a definir um número exato de economia esperada: R$ 640 bilhões. O viés, porém, é negativo. “Quando a proposta foi apresentada, o viés era positivo, o texto era mais forte do que o proposto pelo governo Temer. Mas a coisa mudou rapidamente”, diz ele. “Nem uma semana depois da apresentação, o presidente Jair Bolsonaro já falou que poderia reduzir a idade mínima para mulheres se aposentarem.”

Centrão. Na quarta-feira, em ato pelo Dia do Trabalho em São Paulo, o presidente licenciado da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD), disse que busca articular com o Centrão uma desidratação da reforma previdenciária para impedir a reeleição de Bolsonaro. Segundo ele, uma reforma com economia de R$ 800 bilhões favoreceria Bolsonaro ao garantir recursos para serem investidos nos próximos três anos. Paulinho da Força defendeu uma reforma de, no máximo, R$ 600 bilhões.

Um resultado como esse, no entanto, seria perigoso para o Brasil, segundo economistas. Para Tony Volpon, economista-chefe do UBS no Brasil, uma economia inferior a R$ 600 bilhões poderia significar uma trajetória explosiva na dívida brasileira. “O governo já está esperando alguma desidratação, mas estamos sustentando que, no final, teremos uma reforma robusta”, diz.

Positiva. O economista Lucas Vilela, do Credit Suisse, também aposta em uma economia significativa, de R$ 750 bilhões. “Ainda que perca força, uma reforma dessa teria economia maior do que a que estava em negociação no fim do governo Temer”, afirma. O primeiro texto apresentado pelo ex-presidente previa que o governo pouparia R$ 851 bilhões, em dez anos. Com as modificações que foram sendo acrescentadas, o valor no fim do ano passado era de R$ 553 bilhões.

O levantamento feito pelo Estado com 13 bancos e consultorias mostra que apenas dois deles (Itaú e Bradesco) acreditam na possibilidade de aprovação de uma reforma como a que Paulinho da Força pretende impedir. Por outro lado, quatro casas consultadas – os bancos Citi, MUFG e BNP Paribas, além da consultoria política Eurasia – têm um número inferior aos R$ 600 bilhões citados pelo político. Ainda de acordo com o levantamento feito pela reportagem, a MB Associados é a única a apostar na possibilidade de a reforma passar pelos deputados ainda neste primeiro semestre.

Apesar de não conseguir precisar as modificações que deverão aparecer na proposta aprovada pelo Congresso, a maioria dos bancos e consultorias concorda que a idade mínima, a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – pago a idosos pobres – sofrerão mudanças importantes, reduzindo a economia.

Desidratação

“Quando a proposta foi apresentada, o viés era positivo, o texto era mais forte do que o do governo Temer. Mas a coisa mudou rapidamente.”

Fabio Klein

ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS

PARA ENTENDER

Relação reforma-PIB

Uma reforma que gere uma economia de R$ 700 bilhões em dez anos permitirá que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 2,9% em 2020 e a uma média anual de 2,5% entre 2021 e 2029, segundo estudo do banco UBS. Caso o texto desidrate até a economia ficar em R$ 400 bilhões, o PIB no ano que vem deverá avançar 2% e a média anual ficará também nesse patamar.

O UBS fez ainda estimativas para a evolução da situação fiscal e da dívida do País. Com uma reforma nos moldes do projeto apresentado pelo governo Bolsonaro – com economia superior a R$ 1 trilhão –, o País terá superávit fiscal em 2022. Se o texto garantir R$ 700 bilhões de economia ou R$ 400 bilhões, o superávit ficará para 2024 e 2027, respectivamente.

No caso da dívida bruta, a probabilidade de ela ser inferior a 85% do PIB nos próximos dez anos é de 79% caso a reforma garanta uma economia de R$ 700 bilhões. Se a reforma ficar em R$ 400 bilhões, essa probabilidade cai para 44%. Hoje, a dívida bruta equivale a 77% do PIB, e um número mais baixo para essa relação pode ajudar o País a retomar o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco.

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Governo apura que tem 19 votos pró-reforma na comissão

Camila Turtelli

03/05/2019

 

 

Outros 13 deputados condicionam voto a favor a mudanças no texto; para aprovação, são necessários 25 votos

Acompanhamento do governo sobre a aprovação da reforma da Previdência na Comissão Especial mostra que a maioria concorda com a aprovação, desde que sejam feitas alterações no texto. Levantamento obtido pelo Estado aponta que há 19 membros da comissão favoráveis à reforma e 13 que condicionam o voto a mudanças como a retirada das regras da aposentadoria rural.

A Comissão Especial é formada por 49 deputados e são necessários 25 votos para aprovar a proposta. Pela pesquisa do governo, 7 deputados são contrários ao texto e 3 se dizem parcialmente contrários, enquanto 4 se mantêm neutros. O levantamento não leva em consideração as três cadeiras na comissão destinadas ao PSB que o partido ainda não preencheu.

O Placar da Previdência do Estado também aponta que 32 membros da Comissão Especial são favoráveis à aprovação da proposta, sendo que 16 deputados votam favoravelmente desde que o texto seja modificado – número maior do que o encontrado pelo governo.

Além da aposentadoria rural, os parlamentares questionam também o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos de baixa renda, a retirada da Constituição de regras de acesso aos benefícios e a introdução do regime de capitalização, no qual a aposentadoria é resultado do que cada trabalhador poupou individualmente ao longo da vida. Deputados também defendem retirar a vinculação das regras para Estados e municípios.

Ontem, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, afirmou que o governo vai defender a integralidade do texto, o que garante economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos. Marinho disse que a questão atualmente não é mais se a proposta será aprovada, o que para ele é tido como certo, mas sim qual será o “tamanho” da reforma.

Plantão de dúvida. Para tentar conquistar mais votos e esclarecer dúvidas, técnicos da equipe econômica passarão a dar plantão no Legislativo na próxima semana. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), criou o que ela chamou de “gabinete de inteligência” da Previdência. De acordo com a deputada, a ideia é manter sempre um técnico do Ministério da Economia à disposição dos parlamentares, em sua sala na Câmara. Serão três ou quatro especialistas que vão se revezar na função, disse, sempre com dados disponíveis, inclusive regionalizados. Interessados não precisarão marcar hora para serem atendidos. “Comigo, deputado não marca horário. Deputado entra e mete o pé na porta. Essa fase de marcar hora foi antes de mim”, afirmou.

O gabinete também vai produzir conteúdo sobre a reforma para que deputados e senadores usem em suas redes sociais. “Nessa batalha da Previdência, para quem está em cima do muro, a gente só vai vencer de fora para dentro. A ideia é engajar a população na reforma”, disse Joice.

Voto a voto

49

deputados compõem a Comissão Especial da reforma da Previdência; 7 já manifestaram ser contrários ao texto