Título: Em BH, Dilma volta às origens
Autor: Mello, Alessandra ; Camargos, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Política, p. 7

Presidente defende a candidatura de Patrus Ananias em comício no Barreiro, na capital mineira, onde distribuiu panfletos a trabalhadores durante a ditadura, na década de 1960. Participação foi decidida um dia antes do evento

A presidente Dilma Rousseff defendeu a candidatura de seu correligionário para prefeito de Belo Horizonte, Patrus Ananias, em comício realizado ontem, na Praça da Febem, no Barreiro, região oeste da cidade. Em discurso que durou 25 minutos, ela atacou adversários, sem citá-los nominalmente, e respondeu às críticas que recebeu durante a campanha eleitoral na capital. “Nunca antes na história do nosso estado a política foi tão pequena quanto esses que me chamam de estrangeira por não ser do partido deles. Sei que eles são mineiros. Respeito todos eles”, afirmou Dilma.

A resposta da presidente foi endereçada a uma declaração do senador Aécio Neves (PSDB-MG), na segunda-feira, quando o tucano participou de evento de campanha de Marcio Lacerda (PSB). Aécio disse: “A população conhece muito melhor do que qualquer estrangeiro que vem aqui às vésperas da eleição dizer vote nesta ou naquela direção”. Dilma destacou que nasceu, aprendeu a andar, a falar, estudou e lutou contra a ditadura militar em Belo Horizonte. “Como sou estrangeira, se eu saí daqui porque lutava contra a ditadura? Não saí para passear. Não saí daqui para ir à praia”, afirmou a presidente.

De acordo com a Polícia Militar, cerca de 2,5 mil pessoas estavam na praça. Os organizadores estimaram um número maior, pois muitas pessoas ficaram do lado de fora da cerca e não passaram pela revista da segurança para entrar no local.

No início do discurso, Dilma lembrou da época que ia ao Barreiro para distribuir panfletos aos trabalhadores da Mannesmann (hoje V&M Tubes). “Olha para vocês verem como estou velha. Sabe quando fazíamos isso? Em 1968”, disse a presidente, conversando com a plateia. Dilma militava no Comando de Libertação Nacional (Colina). “Naquela época, tinha inflação alta e o salário do trabalhador não era reajustado. Era proibido brigar por isso”, recordou.

Dilma disse estar feliz por retornar ao local principalmente em um comício de “dois brasileiros decentes”, Patrus e seu vice, Aloísio Vasconcellos (PMDB). Durante o evento, organizado em cima da hora — a presidente decidiu fazer campanha na capital mineira na tarde de terça — Dilma destacou a participação de Patrus na execução do programa Bolsa Família e disse que o ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome é uma pessoa especial: “Um homem de trabalho que tem compromissos com todos, especialmente com os mais necessitados”.

Logo depois do discurso, a assessoria de comunicação de Aécio Neves divulgou nota rebatendo as críticas da presidente: “É lamentável ver que, até hoje, a presidente Dilma precisa gastar a maior parte do seu tempo tentando convencer os mineiros de que ela é mineira de fato. Ser mineiro vai muito além da Certidão de Nascimento. É preciso ter uma alma generosa e compromisso verdadeiro com o estado. É injustificável que depois de 10 anos de governo do PT, questões essenciais para Minas, como os royalties do minério, o Anel Rodoviário, a BR-381 e o metrô ainda não tenham tido solução. Infelizmente, nesse caso, sou forçado a concordar com o ex-presidente Lula. Como ele já disse: ‘A gente tem uma gaúcha governando este país...’”

“Como sou estrangeira, se eu saí daqui porque lutava contra a ditadura? Não saí para passear. Não saí daqui para ir à praia” Dilma Rousseff, presidente da República