Título: FMI oferece socorro
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Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Economia, p. 16
Diretora diz que Espanha pode ter auditoria e empréstimos da instituição. Economista prevê impasses em todo o mundo até 2018
O Fundo Monetário Internacional (FMI) está pronto para ajudar a Espanha de várias maneiras se o governo do país buscar ajuda, afirmou a diretora-gerente da instituição, Christine Lagarde, em entrevista ao jornal francês Le Figaro publicada ontem. “Se a Espanha quiser, podemos ajudar de diversas maneiras, por exemplo auditando e monitorando reformas negociadas com seus parceiros europeus sem o FMI participar do financiamento”, afirmou Lagarde. “Mas também podemos ter um papel em financiamento”, completou.
O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, disse que o ciclo de crise econômica mundial que teve início em 2008 poderá durar até 2018. “Ainda não é uma década perdida, mas provavelmente precisaremos de ao menos dez anos, a partir do princípio da crise, para que a economia mundial volte a ficar em bom estado”, afirmou Blanchard, que, como Christine Lagarde, é francês, em entrevista realizada em 18 de setembro e publicada ontem pelo site de notícias húngaro portfolio.hu.
Blanchard pediu mais solidariedade entre os países membros da Zona Euro e maior integração das políticas econômicas e orçamentárias europeias. Mas afirmou que o continente “seguirá adiante” e que “a moeda única terá êxito”. “A Europa não pode ficar onde está. E creio que ninguém quer ir para trás”, afirmou.
O economista-chefe do FMI afirmou também que a Alemanha terá que aceitar inflação maior e um fortalecimento real de seu poder de compra como parte da solução para os problemas da Europa. Na avaliação de Blanchard, um ajuste na Zona do Euro exige uma diminuição dos preços nos países endividados do sul do bloco e um aumento nos países do núcleo. Para que o Banco Central Europeu (BCE) mantenha a meta de inflação de 2% para o bloco como um todo, países do núcleo precisarão ter inflação maior que 2%. É uma proposta que tende a enfrentar muita resistência na Alemanha, onde a hiperinflação da década de 1920 ainda assombra o debate sobre as taxas de juros.
Apesar de o foco da crise estar na Europa, Blanchard ressaltou que os Estados Unidos têm um problema nas contas públicas a ser equacionado, assim como outros países desenvolvidos. “O Japão também está enfrentando um ajuste fiscal muito difícil, que levará décadas para resolver. A China provavelmente cuidou de seu ‘boom’ de ativos e tem um crescimento mais lento que antes, mas nós não projetamos nenhum pouso realmente duro”, acrescentou.
Sobre a crise da dívida, Blanchard afirmou que reduções do montante são inevitáveis, mas que devem ser feitas sem sufocar o crescimento, percorrendo um “caminho estreito entre as duas coisas”. “Se você faz de forma muito lenta, o mercado acha que você não é sério; se você faz muito rapidamente, mata a economia. Para cada país é preciso achar o caminho certo de consolidação”, ponderou.