Título: Mais reação ao sequestro relâmpago
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Opinião, p. 16

A inversão do crescimento vertiginoso do número de sequestros relâmpagos no Distrito Federal foi anunciada em balanço da Secretaria de Segurança Pública no início do mês. Conforme os dados, por três semanas consecutivas, a média semanal, que chegara a 12, estava estabilizada em seis. Parte do sucesso caberia à atuação da Força Nacional de Segurança, que, desde 11 de setembro, faz barreiras nas principais vias de saída da capital da República.

Até então, os números apresentavam ascensão assustadora. Na comparação entre o primeiro semestre de 2011 e o mesmo período de 2012, houve aumento de 35,8% (de 341 para 463 casos). Em agosto último, o DF chegou a registrar quatro ocorrências em menos de 24 horas. Em 25 de setembro, os dados oficiais do mês já batiam em 24. Naquela data, a conta, desde o início do ano, passava de 550.

Apesar da redução recente, as ocorrências seguem altas e essa modalidade de crime já aterroriza o brasiliense para além das frias estatísticas. As vítimas deixaram de ser pessoas quase anônimas. Hoje, integram o rol a jornalista Eliane Catanhêde, abordada com o carro em movimento, fechado por outro durante a madrugada; a filha do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, empresária Deborah Christine Crivella, levada por bandidos da movimentada 408 Sul, em pleno horário de almoço; e o secretário de Assuntos de Comércio da União Europeia, diplomata italiano Marco Chirullo, feito refém na noite de terça-feira passada, também na 408.

O cidadão comum merece a mesma proteção que qualquer famoso ou autoridade. Mas quanto maior a repercussão de um crime dessa natureza, maior a sensação de insegurança. E Brasília — sede do governo federal, de representações diplomáticas e de organismos internacionais — vê sua imagem comprometida pela violência inclusive no exterior. Isso, a menos de um ano de sediar a Copa das Confederações e dois de receber jogos da Copa do Mundo.

Se não dá para pôr fim ao roubo com restrição de liberdade, cometido a toda hora e em todo lugar, que ao menos se acabe com a impunidade, tarefa dificultada pelas seguidas paralisações da Polícia Civil, cujas negociações salariais se radicalizaram a ponto de o movimento grevista prolongar-se por mais de um mês. Outros modos de ação necessários são o policiamento ostensivo e o trabalho de inteligência, com a identificação e prisão de quadrilhas especializadas.

A polícia aponta o roubo do veículo como objetivo principal dos criminosos, razão de 80% dos casos. Mas, não raro, as vítimas são obrigadas a fazer saques em caixas eletrônicos e a pagar gastos dos marginais com cartões de crédito e de débito ou cheques. Também têm levados dinheiro, celular, relógio, joias e outros objetos de valor que porventura portem, sob a mira de uma arma, muitas vezes, à mercê de drogados. Há rastros a seguir, receptores e atravessadores a serem presos, relações com o tráfico de entorpecentes a investigar. Bem preparada e remunerada, a polícia de Brasília não pode perder essa guerra.