O Estado de São Paulo, n. 45851, 01/05/2019. Economia, p. B6

 

Bolsonaro volta a criticar juros de bancos públicos

 

 

 

Felipe Frazão

Lorenna Rodrigues

01/05/2019

 

 

Presidente afirma que ‘não tem o poder de interferir em muita coisa’ e reclama pelo segundo dia seguido que taxas da Caixa e do BB estão altas

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Crítica. Presidente duvida de taxa de desemprego do IBGE

 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer críticas às taxas cobradas pelos bancos públicos no País. Em evento no Palácio do Planalto, disse que o nível do custo do crédito é alto na comparação com a taxa básica. “A taxa de juros, levando-se em conta a taxa Selic, está um pouquinho longe, está um pouquinho defasada”, afirmou Bolsonaro.

“Acho que o Pedro Guimarães (presidente da Caixa Econômica Federal) concorda. Se o juro está muito alto, você não vai pegar na Caixa, nem em banco nenhum, vai aplicar no mercado, comprar um papel, até porque, a chance de dar errado e perder dinheiro é infinitamente menor do que aplicar no campo. Afinal de contas, o campo tem variáveis muito mais imperfeitas ou menos sujeitas a variações do que o banco. Tem a temperatura, tem São Pedro...”

Bolsonaro disse que não interfere nos bancos públicos, apenas dá “sugestões”, que podem ou não ser cumpridas. “Não tenho o poder de interferir em muita coisa e nem quero. Apenas dou sugestões. E sugestões são como conselho, cada um cumpre se achar que deve cumprir”, disse o presidente durante evento de assinatura da Medida Provisória da Liberdade Econômica, no Planalto.

Anteontem, ao participar de um evento em Ribeirão Preto (SP), Bolsonaro se dirigiu ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e apelou ao “patriotismo” para pedir a redução dos juros. Disse esperar, ainda, que Novaes atendesse as orações por ser cristão. “Ontem, eu apelei para o presidente do Banco do Brasil, para seu espírito patriótico, conservador, cristão, que atenda os ruralistas no tocante à taxa de juros. Faltou complementar, e sem a complementação fui massacrado por grande parte mídia. Não posso esquecer nada, tenho de ser mais do que perfeito, tenho de ser sublime, se não tudo dá errado”, disse ontem.

O presidente também fez uma piada com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem apelidou de Posto Ipiranga. “Quisera nós termos um Posto Ipiranga à tua disposição, até porque o preço da gasolina é você que ia colocar nele”, disse Bolsonaro, que chegou a barrar um reajuste no combustível promovido pela Petrobrás.

 

Desemprego. Citando tema que deve abordar no pronunciamento em cadeia nacional de TV por ocasião do Dia do Trabalho, hoje, Bolsonaro questionou novamente dados de desemprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e falou sobre a preparação para garantia de empregos na quarta revolução industrial.

“Se fala em 12 milhões de desempregados. Sim, eu acho que é muito mais do que isso. Desculpa o IBGE, mas é muito mais do que isso. E não vou polemizar novamente”, afirmou o presidente. “Estamos na quarta revolução industrial, com inteligência artificial. Como está a formação do homem e da mulher do futuro? O que escolas técnicas e faculdades têm feito para que realmente nós possamos ter mercado de trabalho para essa quantidade enorme de pessoas que temos no Brasil?”