O Estado de São Paulo, n.45854, 04/05/2019. Política, p. A8

 

Boicote faz Bolsonaro cancelar viagem a NY

Julia Lindner 

Beatriz Bulla 

04/05/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro desistiu de viajar a Nova York para receber o prêmio Pessoa do Ano, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. O motivo do cancelamento foi a repercussão negativa da presença do presidente no evento, previsto para o próximo dia 14.

Em nota, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, admitiu que Bolsonaro cancelou a ida aos Estados Unidos por causa dos protestos de diversos grupos e do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que chegou a chamar Bolsonaro de “ser humano perigoso”.

“Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”, disse.

Ainda de acordo com o portavoz, diversos setores do governo foram consultados antes da tomada de decisão. “O presidente decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami.”

A homenagem ao presidente foi alvo de resistência nos EUA. A Câmara de Comércio teve dificuldade em conseguir um lugar para realizar o evento. Primeiro, o Museu de História Natural de Nova York se recusou a ser sede. Por fim, havia reservado um espaço em um hotel da rede Marriott, próximo à Times Square.

Ativistas de direitos LGBTQ e ligados às minorias passaram a pressionar empresas que patrocinam o evento a boicotar a premiação. A companhia aérea Delta e a consultoria Brain & Company deixaram de apoiar o evento. Novo ato é preparado para ocorrer no dia do prêmio.

A Câmara de Comércio afirmou, em nota, que soube da ausência de Bolsonaro “pelo escritório do presidente da República do Brasil”. Disse ainda que o Jantar de Gala “será realizado conforme o programado” e que “eventos paralelos serão realizados conforme o planejado”.

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Araújo vê presidente como Jesus 'rejeitado'

04/05/2019

 

 

Cerimônia. Ministro Ernesto Araújo lembrou os ‘sacrifícios’ da carreira dos diplomatas

Diante de um grupo de diplomatas recémformados pelo Instituto Rio Branco, o chanceler Ernesto Araújo chorou e comparou o presidente Jair Bolsonaro a Jesus Cristo.

Em referência ao presidente da República, que estava presente na cerimônia de formatura, Araújo citou trecho do Evangelho que diz que “a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. Em outra passagem do Novo Testamento, nos Atos dos Apóstolos, a “pedra angular” é comparada a Jesus. “Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se a pedra angular”, diz o trecho.

“De fato, a pedra que os órgãos de imprensa rejeitaram, que a mídia rejeitou, a pedra que os intelectuais rejeitaram; a pedra que tanto artistas rejeitaram, a pedra que tantos autoproclamados especialistas rejeitaram, essa pedra tornou-se a pedra angular do edifício, o edifício do novo Brasil”, disse Araújo.

Após o evento, o chanceler confirmou que pensou no presidente ao fazer a comparação. “Acho que se aplica ao que a gente viveu. Não é necessariamente só ele, mas a situação de qualquer pessoa que vive essa situação de ser certa maneira rejeitada e que se torna uma figura central. Acho que é importante a gente fazer esse tipo de reflexão”, disse ao ser questionado se comparou Bolsonaro a Jesus.

Choro. Araújo se emocionou diversas vezes ao longo do discurso. O chanceler chorou ao falar dos sacrifícios que os diplomatas precisam fazer pela carreira ao falar sobre sua família. Agradeceu o apoio da mulher, Maria Eduarda, e disse aos formandos que o apoio dos parentes será fundamental porque “nem tudo serão rosas”.

Os elogios a Bolsonaro não pararam na comparação com o Cristo. Em sua fala, o ministro de Relações Exteriores também afirmou que o governo luta por renovação e que Bolsonaro valoriza os diplomatas de maneira inédita.

“Nenhum presidente da República valorizou mais o papel do Itamaraty do que o senhor, nenhum teve visão mais clara sobre o papel da política externa para a transformação nacional”, enalteceu o chanceler, que faz parte da ala ideológica do governo e foi indicado ao cargo pelo escritor Olavo de Carvalho, considerado o guru dos bolsonaristas.

Araújo contou que, recentemente, Bolsonaro enviou a ele mensagem motivacional na qual dizia que “enquanto não faltar água no mar, não deixaremos de lutar”.

“Temos a oportunidade única de mudar o Brasil e transformá-lo em uma grande nação”./ J.L. e DANIEL WETERMAN