O Estado de São Paulo, n. 45909, 28/06/2019. Política, p. A8

 

DEM já não sabe se Onyx fica no cargo

Vera Rosa

Renata Agostini

28/06/2019

 

 

Proximidade do ministro com Alcolumbre e Maia incomoda Jair Bolsonaro, para quem chefe da Casa Civil está fazendo ‘jogo’ do Legislativo

A proximidade do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), incomoda o presidente Jair Bolsonaro. Mesmo após esvaziar o poder de Onyx, que perdeu o comando da articulação política com o Congresso, Bolsonaro ainda se queixa, nos bastidores, de que o ministro está fazendo o “jogo” do Legislativo, dando a impressão de que o governo cedeu ao toma lá, dá cá. Agora, nem mesmo a cúpula do DEM arrisca dizer se Onyx sobreviverá no cargo.

Em conversas reservadas, o presidente tem dito que não se pode ceder a tudo o que deputados e senadores querem para o governo não virar refém da “velha política”. No sábado, Bolsonaro chegou a afirmar que o Congresso tem cada vez mais “superpoderes” e quer deixá-lo como “rainha da Inglaterra”, que reina, mas não governa.

Quem conversou com Onyx, nos últimos dias, encontrou um ministro abatido. A interlocutores, o titular da Casa Civil disse, porém, que o seu foco é “única e exclusivamente” a votação da reforma da Previdência. Questionado pelo Estado se está por um fio no governo, ele respondeu: “Claro que não. Isso é uma baita bobagem.”

No fim de semana, Onyx esteve na fazenda do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Amigos dos dois disseram que o ministro foi se aconselhar com Caiado e saber se deveria pedir demissão. O governador negou, porém, ter sugerido a Onyx que se antecipasse a uma possível decisão do presidente.

“Nunca teve essa conversa. Especulações foram feitas, mas eu disse a ele que não desse ouvido a falações de quem não tem nenhuma história ao lado do presidente”, afirmou Caiado ao Estado. “Ele foi o único político que, um ano e meio antes da campanha, rompeu com a Executiva do nosso partido e foi apoiar Bolsonaro. Sair por quê?”

O Estado apurou que Bolsonaro não gostou do fato de Onyx ter sido fiador de um acordo pelo qual cada parlamentar deverá receber R$ 40 milhões até 2020 em emendas e recursos extra orçamentários. Pelo acerto, o governo promete liberar R$ 10 milhões para quem votar a favor da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara e outros R$ 10 milhões após a aprovação da proposta no plenário.

Se tudo correr conforme o script combinado, os deputados receberão, ainda, mais R$ 20 milhões para obras nos seus redutos eleitorais em 2020, ano de disputas municipais. A oferta apresentada por Onyx também beneficia deputados novatos, que não teriam direito a emendas.

Bolsonaro transferiu a articulação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo há apenas nove dias, mas as mudanças no núcleo duro da equipe ainda não terminaram. A tarefa de negociação do Palácio do Planalto com o Congresso caberá, agora, ao general Luiz Eduardo Ramos, que assumirá a Secretaria de Governo em julho, no lugar de Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido recentemente.

A Casa Civil também perdeu a Secretaria de Assuntos Jurídicos, que faz a análise de decretos e projetos de lei. Embora Onyx tenha ficado com o comando do Programa de Parcerias de Investimentos, na prática o PPI é tocado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Há rumores de que o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), aliado de Bolsonaro, pode assumir a cadeira de Onyx. Outro nome lembrado é o do secretário especial da Previdência, Rogério Marinho (PSDB), mas o presidente não quer mexer com ele antes da votação final das mudanças na aposentadoria, prevista para o segundo semestre.

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'Comportamento de gangues'

Ricardo Galhardo 

Mateus Fagundes

28/06/2019

 

 

Ex-ministro da Secretaria de Governo, o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz disse ontem que “irresponsáveis estão vivendo momentos de glória” ao propagar notícias falsas na internet. A declaração foi dada em congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Santos Cruz citou a divulgação de mensagem, segundo ele falsa, na qual faria críticas ao presidente Jair Bolsonaro e elogios ao vice Hamilton Mourão. A mensagem, usada para desgastá-lo junto ao presidente, de acordo com ele, revelaria o “comportamento de gangue” das hordas que usam as redes para tumultuar o processo político. Ainda segundo ele, “o fanatismo, ao tentar se comportar ideologicamente, tira qualquer capacidade de análise”. “Em seis meses de governo, o que vi de dinheiro ser desperdiçado pelo ralo...”, disse o general, sem dar detalhes.

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Insatisfação com governo aumenta, aponta Ibope

Daniel Weterman

28/06/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

Daniel Weterman / BRASÍLIA

A avaliação positiva (ótimo/bom) do governo Jair Bolsonaro passou de 35% em abril para 32% em junho, a menor desde o início da gestão, mostrou pesquisa Ibope divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Já a avaliação negativa (ruim/péssimo) subiu de 27% para 32% no mesmo período. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.

Desde o início do governo, em janeiro, o porcentual dos que consideram o governo ótimo/bom caiu 17 pontos, de 49% para os atuais 32%. A avaliação negativa subiu 21 pontos nos cinco meses, de 11% para 32%.

Outras duas perguntas confirmam a percepção de que a insatisfação com o governo aumentou. Uma diz respeito ao índice de pessoas que desaprovam a maneira de Bolsonaro governar, que subiu de 40% em abril para 48% em junho. E, pela primeira vez, o porcentual de entrevistados que afirmam não confiar no presidente (51%) supera o dos que confiam (46%).

Questionado sobre a pesquisa, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ironizou. “Pelos números do Ibope, o presidente jamais seria Bolsonaro.”

Áreas. A Educação foi a área que mais pesou na queda da avaliação do governo. O porcentual de pessoas que desaprovam a atuação no setor aumentou de 44% para 54%. A aprovação caiu de 51% para 42%.

Para o gerente executivo de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, o bloqueio orçamentário nas universidades federais e as manifestações de rua contra o governo influenciaram a percepção das pessoas. “Uma das coisas que mais pesaram foi essa discussão em relação a verbas para educação trazida para as manifestações, que acabam chegando mais forte nos ouvidos da população”, afirmou Fonseca.