O Estado de São Paulo, n. 45909, 28/06/2019. Política, p. A10

 

Militar preso com cocaína em avião devia condomínio

Breno Pires

28/06/2019

 

 

Manoel Silva Rodrigues, que transportou cocaína em avião da FAB, foi processado por débito de R$ 1,3 mil com imóvel

Taguatinga. Condomínio onde militar tem apartamento

Preso na Espanha com 39 kg de cocaína em voo da Força Aérea Brasileira (FAB), o segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues não demonstra ter uma vida de ostentação e devia, até o início do mês, inclusive o condomínio. Pagou o débito, de R$ 1.381,25, referentes a três parcelas do condomínio de um apartamento em Taguatinga, depois de ter sido cobrado judicialmente. Ontem, a Aeronáutica informou que a investigação sobre tráfico de drogas correrá sob sigilo.

Rodrigues, que é comissário de bordo, fazia parte da comitiva de 21 militares que acompanha a viagem de Bolsonaro ao Japão, onde participará da reunião do G-20. O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em que estava o militar é usado como reserva da aeronave presidencial e, portanto, esta comitiva não fazia parte do mesmo voo que transportou o presidente. A droga foi encontrada em sua bagagem ao desembarcar em Sevilha, na Espanha, primeira etapa da viagem.

O imóvel de Rodrigues fica num condomínio com piscina e salão de festa, a cerca de 30 km do Palácio do Planalto. O apartamento está ocupado, mas os funcionários do prédio não disseram se o sargento vive no local e também se recusaram a interfonar, a pedido da reportagem.

O preço de uma propriedade no condomínio varia de R$ 150 mil a 210 mil (há opções de 2 e 3 quartos), e alugueis vão de R$ 1 mil a R$ 1,6 mil, de acordo com condôminos ouvidos pelo Estado. Nenhum deles disse conhecer o militar.

Conforme informações do Portal da Transparência, Rodrigues recebe, atualmente, salário bruto de R$ 7.298,10. Segundo estimativas de preços disponíveis em relatório do Escritório para Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (Unodoc), os 39 kg de cocaína encontrados na mala do sargento poderiam render cerca de R$ 5,8 milhões.

Além do imóvel em Taguatinga, o sargento seria proprietário de um apartamento na Asa Sul, em Brasília, onde hoje vivem a ex-mulher e dois filhos. Segundo vizinhos, ele já não mora no local há cerca de dois anos. Segundo moradores do prédio, Rodrigues é uma pessoa simples, calada, que não aparenta sinais exteriores de riqueza e costuma andar de moto, não com carrões importados. Eles se disseram surpresos com a notícia da prisão por tráfico de drogas. Uma moradora arriscou que o segundo-sargento poderia ter caído em “tentação”. O vice-presidente Hamilton Mourão o chamou de “mula qualificada”. Abordada pela reportagem na tarde de ontem, a ex-mulher do militar não quis comentar o assunto.

Sigilo. O Comando da Aeronáutica se recusou a informar se Rodrigues foi submetido a alguma vistoria antes de embarcar no avião oficial. Em entrevista a jornalistas convocada pelo Ministério da Defesa, o porta-voz da FAB, major-aviador Daniel Rodrigues Oliveira, afirmou apenas que a praxe é que tripulantes sejam revistados.

“O fato em si é objeto da investigação e corre sob sigilo. Existe um controle dos tripulantes e das bagagens”, afirmou Oliveira, acrescentando que a vistoria inclui “raio-X e tudo aquilo que seja necessário”. Ele, no entanto, não especificou quais medidas são essas.

‘Live’. Bolsonaro também voltou ao assunto ontem ao afirmar, em sua live semanal, que o militar pagará um “preço alto”. “Se estivesse no nosso avião seria uma falha nossa, mas no meu avião até minha bagagem é revistada. Ninguém pergunta se deve revistar minha bagagem, sabe que tem de revistar e ponto final”, disse o presidente. “Na primeira viagem nossa, ele deu azar, ‘créu’. É melhor ‘já ir’ se acostumando. Porque conosco é assim”, avisou./ COLABOROU TEO CURY

‘Controle’

“O fato em si é objeto da investigação e corre sob sigilo. Existe um controle dos tripulantes e das bagagens.”

Daniel Rodrigues Oliveira

MAJOR-AVIADOR, PORTA-VOZ DA FORÇA ÁREA BRASILEIRA (FAB), SOBRE O PROCEDIMENTO ANTES DO EMBARQUE EM AVIÃO OFICIAL

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Weintraub compara Lula e Dilma à droga em jato da FAB

28/06/2019

 

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, virou ontem alvo de críticas no Twitter por causa de publicação em que ele cita os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele comparou os petistas aos 39kg de cocaína apreendidos em avião da FAB que acompanhava a comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que está no Japão para o encontro do G-20. “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”, escreveu o ministro.

Candidato à Presidência derrotado em 2018, João Amoêdo (Novo) reagiu: “Ministro, não tenha compromisso com o erro, peça desculpas”. Marina Silva (Rede) escreveu que “o Brasil precisa de mais educação e não menos”. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, disse que o ministro “será acionado judicialmente pelas injúrias lançadas contra Dilma Rousseff e Lula”.

Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, saiu em defesa do ministro. Ele compartilhou a publicação de Weintraub e comentou: “E na vez que o Fidel Castro morreu! Recorde no voo para Cuba!”