Título: Duelo final
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Mundo, p. 18

Hugo Chávez e o candidato opositor, Henrique Capriles, encerram a campanha em clima de desconfiança. Funcionários públicos denunciam "Carrastão" do governo para comício

O último dia de campanha para a eleição presidencial de domingo, na Venezuela, será marcado hoje pelo mesmo clima de desconfiança e ataques mútuos que permeou toda a disputa entre o presidente Hugo Chávez, que tenta mais um mandato depois de 13 anos no poder, e o desafiante Henrique Capriles Radonski. Uma das polêmicas envolve o comício que Chávez fará hoje em Caracas, onde espera um público de 500 mil pessoas. Funcionários públicos denunciaram ao jornal venezuelano El Nacional que terão ponto facultativo para comparecer ao ato. Segundo um dos trabalhadores, os chefes têm “lembrado” aos subordinados que eles têm emprego “graças ao governo”. “Quem não aceitar ou escapar da marcha corre o risco de ser transferido sem consulta ou de ter qualquer promoção barrada”, completou o autor da denúncia.

Capriles corroborou a versão na rede social Twitter, com base em mensagens que disse ter recebido de vários funcionários, e aproveitou para prometer uma atitude diferente. “Em nosso governo, nenhum empregado público será obrigado a usar a bandeira de um partido, nem a assistir a eventos políticos, nem a doar seu salário para financiar um partido”, escreveu. Respondendo a uma acusação do governo, segundo a qual a oposição estaria “preparando terreno” para alegar fraude, caso Chávez seja declarado vencedor, o candidato comprometeu-se a acatar o resultado oficial. “Sempre reconhecemos a voz do povo”, frisou.

Nas últimas pesquisas realizadas, a maioria dos institutos deu vitória para o chefe de Estado, com vantagem de 10 a 18 pontos percentuais. Apenas o Consultores 21 mostra Capriles como vencedor, 3,2 pontos à frente de Chávez.

No ritmo acelerado de percorrer dois estados por dia, os dois candidatos têm concentrado os esforços nos principais colégios eleitorais. Ontem, no penúltimo dia de campanha, o presidente foi a Maracay, no estado de Aragua. Como vinha repetindo nas últimas semanas, convidou uma vez mais a oposição a “preparar-se para a derrota”. Chávez, que entrou em campanha após submeter-se a tratamento para um câncer, garantiu ter saúde para mais seis anos de mandato e fez acenos à juventude, uma fatia de eleitorado em que a oposição tem ampliado seu apoio. “As crianças na Venezuela estão aprendendo a assumir-se como sujeitos da nova história”, afirmou o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) antes de seguir para a cidade de Valencia, em Carabobo, importante centro industrial.

Capriles, ex-governador do estado de Miranda, começou o dia em Guanare, no estado de Portuguesa. Pediu proteção à Virgem da Coromoto, padroeira do país, e comentou que a cidade é “a imagem do modelo fracassado que governa a nação, mas em breve será um exemplo da Venezuela que avança”. Discursou para produtores de arroz e de café e enumerou promessas não cumpridas por Chávez, como a construção de uma ferrovia para ligar Carabobo aos estados de Lara e Portuguesa. Em Zulia, estado petrolífero, manteve o discurso de vitorioso.

Jennifer Lynn McCoy, professora de ciências políticas da Universidade do Estado da Geórgia (EUA), ressalta que ambos os candidatos procuram demonstrar confiança na vitória e alimentar o receio de que o adversário não aceite a derrota. “As emoções estão muito intensas nessas eleições e não há como definir, a partir das pesquisas de opinião, quais serão os resultados de 7 de outubro”, alertou. Além da participação popular, McCoy espera que os episódios de violência que ocorreram ao longo da campanha não se repitam. “Se a votação for transparente e calma, eu imagino que os dois candidatos aceitarão o resultado.”

Sistema seguro

O dirigente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Vicente Díaz, assegurou ontem que o sistema de votação e apuração é seguro e disse ser impossível haver fraudes com as urnas eletrônicas. “O sistema está blindado por todos os lados. As máquinas têm autonomia e cada um dos partidos terá suas testemunhas nos centros de votação”, esclareceu ao canal Globovisión. Um dos institutos que vão monitorar as eleições é o Carter Center, mantido pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, que classificou o sistema venezuelano de votação e apuração como o melhor do mundo.

As crianças na Venezuela estão aprendendo a assumir-se como sujeitos da nova história” Hugo Chávez, presidente desde 1999 e candidato à reeleição

Em nosso governo, nenhum empregado público será obrigado a usar a bandeira de um partido, nem a assistir a eventos políticos, nem a doar seu salário para financiar um partido” Henrique Capriles, candidato da oposição à Presidência

Na cabeça Durante toda a campanha, Henrique Capriles tem usado um boné nas cores azul, verde e vermelho, com estrelas brancas e o escudo oficial da Venezuela — uma “releitura” da bandeira da República Bolivariana. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em agosto, proibiu o candidato opositor de distribuir exemplares do acessório para o público, nos comícios, mas a decisão parece não ter surtido efeito: Capriles seguiu até a reta final exibindo seu boné e jogando vários para seus eleitores, do alto dos carros de som que animam seus comícios. Como observou o jornal espanhol El Mundo, a Venezuela ficou dividida entre os que usam camisas vermelhas, o uniforme inconfundível dos chavistas, e os que desfilam com bonés tricolores pró-Capriles.