O Estado de São Paulo, n. 45909, 28/06/2019. Política, p. A12

 

PF prende assessor e dois ex-auxiliares do ministro do Turismo

Leonardo Augusto

28/06/2019

 

 

Prisões são parte de investigação sobre uso de candidaturas-laranjas do PSL-MG, presidido por Marcelo Álvaro à época

Ministro. Marcelo Álvaro Antonio presidiu PSL em 2018

A Polícia Federal prendeu ontem um assessor especial do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL), e dois coordenadores da campanha dele a deputado federal por Minas Gerais no ano passado. As prisões ocorreram na segunda fase da Operação Sufrágio Ostentação, que apura um suposto esquema de candidatas-laranjas nas eleições de 2018 com o objetivo de acessar fundos eleitorais destinados exclusivamente a campanha de mulheres.

Os presos foram Mateus von Rondon, assessor especial do ministro; Roberto Soares, conhecido como Robertinho; e Haissander Souza de Paula, ambos coordenadores da campanha de Álvaro Antônio em Minas. As prisões foram efetuadas em Brasília e Minas. Até a noite de ontem, Rondon não havia sido afastado do cargo.

Segundo as investigações, uma empresa de Rondon aparece como destinatária de recursos nas prestações de contas de pelo menos três candidaturas suspeitas de terem sido usadas como laranja pelo PSL de Minas, que à época era presidido pelo hoje ministro do Turismo. A empresa foi fechada em janeiro de 2019. Juntas, as três candidatas repassaram R$ 27,5 mil à empresa de Randon, e não chegaram a ter 2 mil votos. Em depoimentos, as três negam participam no suposto esquema.

Conforme as investigações, era Soares quem indicava as empresas que receberiam os recursos das candidatas. Uma das candidatas a deputada estadual pelo PSL no ano passado, Cleuzenir Barbosa, disse que foi pressionada para que serviços de campanha fossem contratados nas empresas que o grupo indicava. Segundo a PF, uma gráfica utilizada no suposto esquema não funcionava, à época da campanha, há mais de dois anos. A empresa, segundo a PF, era de Reginaldo Donizete Soares, irmão de Roberto.

Custo. A PF apurou que a relação custo por voto entre as mulheres que teriam sido usadas no esquema era maior que entre os eleitos. O custo médio entre os que venceram era de R$ 10 por voto, enquanto o das candidatas do PSL era de R$ 300.

Por enquanto as investigações se concentram na possibilidade de crime de falsidade ideológica, que pode resultar em até cinco anos de prisão. Até o momento, cerca de 40 pessoas já foram ouvidas pela PF. O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) também abriu investigação para apurar o suposto esquema de candidaturas-laranja do PSL. Sob a alegação de que o processo corre em sigilo, o promotor responsável pelo caso, Fernando Abreu, não fala sobre a ação.

Em nota, o diretório estadual do PSL de Minas afirmou que “as pessoas citadas não integram o diretório nem a executiva do PSL Estadual de Minas Gerais”. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Rondon, Roberto Soares e Haisssander.

O diretório nacional do PSL afirmou ver a investigação como “seletiva” para atingir Bolsonaro. “Todos os partidos políticos do Brasil tiveram candidatas cujo resultado nas urnas foi aquém da expectativa”, diz o partido em nota. “Só podemos classificar essa como uma investigação seletiva, com o objetivo de atingir o partido ao qual o Presidente da República é filiado, embora ele não tenha nada a ver com isso. Todas as contas de campanha do PSL foram aprovadas pelo TSE e tudo foi feito dentro da legalidade.”

Em nota, o Ministério do Turismo afirmou que “é importante esclarecer que não há qualquer relação entre a investigação da PF e as funções desempenhadas pelo assessor especial Mateus Von Rondon no Ministério do Turismo”. “O órgão aguarda mais informações para se pronunciar sobre o caso.”