Título: Desvalorização de moeda causa protestos
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Mundo, p. 19

A crise da moeda iraniana explodiu nas ruas de Teerã, ontem, traduzida em conflitos entre cambistas e policiais, no primeiro episódio de violência seguido ao colapso do rial. Em uma semana, ele sofreu uma desvalorização recorde de 40 pontos percentuais em comparação ao dólar. A situação econômica já tinha levado o presidente Mahmud Ahmadinejad a se pronunciar oficialmente, na segunda-feira, quando responsabilizou pela crise inimigos externos e grupos rivais dentro do país. Analistas, por sua vez, ligam o desgaste econômico às sanções ocidentais aplicadas ao regime, intensificadas no último ano em meio à polêmica em torno do programa nuclear iraniano.

Na manhã de ontem, a polícia de Teerã deteve cambistas que negociavam ilegalmente e que têm sido acusados de culpa na desvalorização da cotação do rial. “Segundo a avaliação do Banco Central, as pessoas guardam em casa uma grande quantidade de divisas e de ouro, o que tem um efeito negativo sobre a economia”, afirmou o chefe da polícia, general Esmail Ahmadi Moghadam, à agência France-Presse. Centenas de policiais foram mobilizados, e lojas de câmbio baixaram suas portas. Revoltadas, pessoas jogaram pedras nos oficiais e atearam fogo em latas de lixo.

O rial iraniano sofreu, na terça-feira, uma forte desvalorização em comparação ao dólar e atingiu uma queda histórica de 2% para 6%. Em um ano, as sanções petroleiras e bancárias contra o regime islâmico causaram perdas de 80% sobre o valor da moeda. As penalidades estão ligadas à pressão internacional contra o programa nuclear que o Irã alega ter objetivos pacíficos. Mas, sob o argumento de que a motivação seria militar, potências têm pressionado a República Islâmica a ser mais transparente. Diante da negativa de Teerã, os EUA têm liderado uma campanha de sanções e implodido a economia do país. Empresas e bancos estão proibidos de estabelecer relações comerciais com os persas, sob pena de serem excluídos dos negócios ocidentais.

Ato de guerra

O analista iraniano Ahmad Ghoreishi, do Departamento de Assuntos de Segurança Nacional da Escola Naval de Pós-Graduação (Califórnia), afirmou ao Correio que as sanções têm sido mais duras com seu país do que seria um bombardeio. “É quase um ato de guerra”, afirmou. Na avaliação de Ghoreishi, que deixou o Irã na época da Revolução Islâmica, em 1979, a situação é extrema e “não poderá durar muito”. A única maneira de conter a degradação econômica, em sua opinião, seria o governo começar a cooperar com as negociações sobre o programa nuclear. Ao admitir divisões internas no Irã, Ghoreishi afirmou que os militares e a economia estariam fazendo pressão para que o governo Ahmadinejad — conhecido por sua dura retórica contrária a Israel e a aos EUA — passe a se comprometer com o Ocidente. “A situação está muito ruim, e a população está pagando o preço”, disse.