O Estado de São Paulo, n.45908, 27/06/2019. Internacional, p. A14

 

No G-20, Bolsonaro acerta encontro com Trump e com o presidente chinês 

Beatriz Bulla 

Célia Froufe 

27/06/2019

 

 

Boas-vindas. Mulheres dançam hip hop para receber visitantes e líderes das maiores economias do mundo, na cúpula do G-20, em Osaka, no Japão

As mudanças de última hora na agenda do presidente Jair Bolsonaro em Osaka, onde ocorre amanhã e sábado o encontro dos países que formam o G-20, foram saudadas pela comitiva brasileira. O compromisso mais celebrado foi uma reunião bilateral de Bolsonaro com o presidente dos EUA, Donald Trump. Um encontro com o chinês Xi Jinping acabou sendo confirmado para o sábado.

Em março, nos jardins da Casa Branca, Bolsonaro mostrou alinhamento total de seu governo às políticas de Trump e evitou tomar lado na guerra comercial travada entre o presidente dos EUA e a China – um dos temas que o mundo observa com atenção em Osaka.

Trump e Xi devem se encontrar no sábado para mostrar em que pé estão as negociações entre os dois países. O resultado pode encerrar ou intensificar a escalada de tarifas dos dois lados. No início da semana, havia na agenda de Bolsonaro a previsão de um encontro com Xi, também à margem da cúpula. Apesar de já ter criticado abertamente o governo chinês, o brasileiro passou a adotar, desde que assumiu o governo, tom mais moderado para falar do maior parceiro comercial do Brasil.

Foi a comitiva chinesa que pediu a reunião com Bolsonaro, que ocorreria amanhã. O encontro bilateral foi um dos primeiros a ser confirmado, mas a equipe de Xi solicitou uma alteração de horário. Por fim, o encontro foi acertado para o sábado, depois da reunião entre Trump e o líder chinês.

A pouca flexibilidade na agenda do brasileiro não impediu a inclusão às pressas dos compromissos com Trump e uma reunião com o Grupo de Lima. Tradicionalmente, as reuniões do bloco que pressiona pela saída de Nicolás Maduro, na Venezuela, têm a presença do chanceler, Ernesto Araújo. Desta vez, no entanto, o próprio Bolsonaro representará o Brasil.

O ceticismo de Bolsonaro em relação ao investimento chinês no Brasil foi explorado na edição especial do Japan Times sobre o G-20. Sobre o presidente do Brasil, o texto menciona que, católico com o nome do

meio Messias, que significa “salvador”, ele chamou o cargo presidencial de sua missão de Deus. O jornal afirma que Bolsonaro é um oficial da reserva que tomou posse em janeiro com a promessa de reprimir a criminalidade e facilitar as leis de controle de armas. “O político de 64 anos é conhecido por apoiar o conservadorismo nacional.”

No início da semana, uma fonte do alto escalão do governo americano não mencionou a jornalistas o Brasil – nem a Venezuela – entre os temas prioritários da viagem de Trump.

Também de última hora, o Brasil agendou um encontro com o francês Emmanuel Macron e garantiu reunião bilateral com pelo menos um dos europeus presentes em Osaka. A agenda do presidente inclui ainda reuniões com Narendra Modi, primeiro-ministro indiano; com o premiê de Cingapura, Lee Hsien-Loong; com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita; e com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe.

OCDE. Com Trump, um dos temas que o presidente brasileiro pretende tratar é a entrada do País como membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Trump se comprometeu a apoiar a entrada do Brasil, na reunião na Casa Branca, mas de lá para cá a delegação americana oscilou nas demonstrações de apoio.

Em maio, os diplomatas americanos externaram o apoio brasileiro em reunião em Paris, mas para isso os EUA precisarão negociar com os europeus uma decisão sobre a adesão de novos membros. A chegada de Bolsonaro estava prevista para esta madrugada no Aeroporto de Kansai, onde os passageiros da América do Sul são recebidos com uma placa grande com um alerta sobre o vírus da zika.

A comitiva brasileira é mais enxuta do que o tradicional nesta reunião das 20 maiores economias do mundo. Bolsonaro vai se reunir com líderes e presidentes de instituições, como o Banco Mundial, sem a companhia de Araújo e também sem o ministro da Economia, Paulo Guedes. Araújo ficou com a incumbência de representar o País em Bruxelas. Já Guedes, após ficar de fora da reunião financeira do G-20, no início do mês, em Fukuoka, também desistiu de participar do encontro de líderes em Osaka, neste fim de semana. Em seu lugar, irá ao Japão como representante da pasta o secretário executivo Marcelo Guaranys.

Em semana decisiva para a votação da reforma da Previdência, Guedes preferiu permanecer em Brasília para acompanhar os desdobramentos do processo no Congresso Nacional. Ele também está focado na definição da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em um momento em que os bancos centrais das principais economias do mundo sinalizam um novo ciclo de afrouxamento monetário por causa da atividade e inflação sem força. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, também deve acompanhar o pai na viagem.

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Trump busca apoio em várias frentes externas 

27/06/2019

 

 

Donald Trump busca hoje em Osaka, no Japão, apoio para os vários desafios que enfrenta a política externa americana. Desde que chegou à Casa Branca, ele abriu uma série de frentes diplomáticas em diferentes crises, envolvendo Venezuela, Irã, Coreia do Norte e China.

No caso do Irã, a perspectiva de uma guerra no Golfo Pérsico não é descartada por analistas, que consideram arriscadas as movimentações militares na região. “É uma oportunidade para o presidente se envolver com vários líderes internacionais aliados para obter apoio e discutir como podemos incentivar o Irã a negociar e responder à diplomacia com diplomacia, em vez de terrorismo e chantagem nuclear”, afirmou um dos negociadores americanos, durante conversa reservada com jornalistas.

Para Heather Conley, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), Trump será questionado pelos europeus sobre os atritos com o Irã. “Os líderes vão pressioná-lo por clareza para tomarem decisões unificadas”, afirmou.

Com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, Trump deve buscar apoio para sua estratégia de pressão sobre Irã, Venezuela e Síria. “Não é um encontro formal, mas deve focar em questões de segurança regional”, disse um dos negociadores de Trump, sobre a reunião com o russo.

Com relação à China, Trump tem sofrido pressão interna de agricultores americanos para flexibilizar posições na queda de braço com os chineses. O presidente, porém, pressiona a China por mudanças estruturais para proteger a propriedade intelectual de empresas americanas de tecnologia.

A Coreia do Norte também fará parte da agenda. Segundo Michael Green, vice-presidente de Ásia e Japão do CSIS, uma declaração paralela do G-20 ajudaria a aumentar a pressão sobre Pyongyang, mas Trump não tem se engajado nisso. “Eu acho que ele vê as negociações com a Coreia do Norte como um ato solo”, afirmou Green./ B.B.