Título: Novo round para Serra e Haddad
Autor: Correia, Karla ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2012, Política, p. 3

Petista aposta nos palanques ao Lado de Lula e Dilma, enquanto tucano tenta contornar o alto índice de rejeição. Apoio dos candidatos derrotados será crucial para definir quem governará a maior cidade do país pelos próximos quatro anos

A mais acirrada eleição da história de São Paulo en­cerrou o primeiro turno retomando, mais uma vez, a polarização entre o PT, de Fernando Haddad, e o PSDB, de José Serra, depois de uma virada que derrubou o então favorito, Celso Russomanno (PRB), de um patamar de 35% das intenções de votos para o terceiro lugar na dis­puta. Os dois adversários se lan­çam na segunda fase com pouco menos de dois pontos percen­tuais de diferença entre si: a con­tagem dos votos na capital pau­lista fechou ontem por volta das 21h com 30,75% dos votos para Serra e 28,98% para Haddad, in­dicando uma briga igualmente apertada na etapa derradeira.

Serra foi o principal beneficia­do com a dramática queda de Russomanno na preferência do eleitorado. Em 11 dias, o tucano saltou do terceiro lugar nas pes­quisas para o primeiro nos le­vantamentos de boca de urna, prognóstico confirmado pelo re­sultado da eleição. "No início, o eleitorado agiu na emoção, mas o Russomanno não tinha o que apresentar para se validar como próximo prefeito de São Paulo", acredita o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), coordenador de mobilização da campanha de Serra. "Sem ter essas propostas na mão, o eleitor optou pela pola­rização clássica", analisa.

Na cúpula do comitê eleitoral de Haddad, o debate em torno do bilhete único é visto como o prin­cipal motivo para a derrocada do candidato do PRB. "Não tinha co­mo justificar para o eleitor da peri­feria que quem mais precisa an­dar de ônibus, quem mais depen­de do transporte público, ia ter que pagar mais por isso. Os torpe­dos lançados contra essa proposta de Russomanno fez os votos que ele tinha na periferia migrarem para o PT", analisa o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), da coorde­nação da campanha de Haddad.

Para o segundo turno, o candi­dato petista deve contar com a presença mais intensa da presi­dente Dilma Rousseff em seu pa­lanque. A participação de Dilma, em conjunto com a do ex-presi­dente Luiz Inácio Lula da Silva, é vista no comitê de Haddad como elemento fundamental da arran­cada do petista na reta final do primeiro turno. Soma-se a isso a expectativa de aliança com a grande maioria dos partidos da base aliada na esfera federal.

"Entendemos que, se os parti­dos apoiam o projeto nacional e se nós queremos que esse projeto nacional tenha uma expressão forte em São Paulo, devemos buscar o apoio dessas legendas", afirmou Haddad, ontem. Já são contabilizadas, contudo, as ex­ceções do PR, independente no nível nacional, e do PTB, que tem o presidente do diretório paulista da legenda, Campos Machado, entre os aliados do governador de São Paulo, Geral­do Alckmin (PSDB). Os dois par­tidos são tidos como apoios cer­tos para a campanha de Serra.

Máquina

Além das duas legendas, o co­mitê do candidato tucano espera aglutinar os apoios do DEM, PPS, PSD e PV para enfrentar Haddad, além da ajuda significativa da máquina do governo paulista. O histórico de Serra na administra­ção estadual e municipal deve re­forçar a estratégia do tucano para o segundo turno. "Me especializei em resolver problemas e tirar ideias do papel para fazer aconte­cer", disse o tucano, já na entre­vista coletiva logo após da confir­mação de sua presença no se­gundo turno da disputa. "O Serra tem um ativo patrimonial para apresentar para os eleitores em São Paulo. Não é só currículo", observa Feldman.

Na avaliação do comitê tuca­no, o principal obstáculo no ca­minho do candidato do PSDB — o elevadíssimo índice de 45% de rejeição — tende a se reduzir nessa fase do pleito. A estatística seria, na avaliação da cúpula da campanha, uma resposta do eleitorado aos ataques simultâ­neos dos demais candidatos a Serra e da insegurança da popu­lação em relação à possibilidade de o tucano voltar a deixar o mandato pela metade.

"Esses pontos foram sendo respondidos ao longo do proces­so. O eleitorado já sabe que Serra vai governar até o fim do manda­to. Além disso, ele leva vantagem na hora de comparar ações de governo e o seu patrimônio éti­co", afirmou Feldman, deixando claro que, além das propostas pa­ra a prefeitura, o julgamento do mensalão continuará sendo uma arma nas mãos dos tucanos.