Título: Desejado capital político
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Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2012, Política, p. 3
Excluído do segundo turno da campanha pela prefeitura de São Paulo depois de sangrar a um ritmo de meio ponto percentual por dia ao longo de três semanas, desconstruído pelos adversários que exploravam a superficialidade das propostas contidas em seu programa de governo e, em particular, pela impopularidade do projeto do bilhete único — que puniria o eleitorado mais pobre com tarifas de transporte mais caras para o deslocamento dape- riferia para o centro da cidade —, Celso Russomanno (PRB) poderia ser descrito como o grande derrotado da corrida pelas prefeituras de 2012. Em vez disso, foi alçado ao posto de aliado em potencial, cobiçado pelos dois remanescentes na disputa pela capital paulista.
Sobre quem apoiará no segundo turno, Russomanno prometeu uma resposta rápida. "Vamos decidir amanhã (hoje). Zera tudo a partir de agora", disse, em entrevista coletiva após reconhecer a derrota nas urnas.
O caráter de excepcionalidade da eleição em São Paulo neste ano, que chegou indefinida, com três candidatos empatados no dia do primeiro turno de votação, ajudou a encorpar o apelo político de Russomanno para o segundo turno. Elemento inesperado na contenda, negligenciado como adversário pelos partidos tradicionais no início da campanha, o candidato conseguiu dominar a disputa a partir do fim de agosto, quando se descolou dos percentuais do tucano José Serra e conseguiu personificar—por um breve período — o "novo", para a fatia do eleitorado cansada da tradicional polarização entre PT e PSDB nas eleições municipais da capital paulista. Está fora da eleição, mas os pouco mais de 21% dos votos que conseguiu amealhar se transformaram em um ativo político mais do que desejado. Sobretudo em um cenário em que pouco mais de dois pontos percentuais separam o primeiro colocado, José Serra (PSDB), do segundo, Fernando Haddad (PT).
"Não temos problemas de diálogo com o PRB", diz o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que faz parte da coordenação da campanha de Fernando Haddad. O candidato petista elegeu a proposta do bilhete único de Russomanno como a principal munição para atacar o rival do PRB. "Mas os ataques foram programáticos, não houve nada de pessoal", argumentaTeixeira, que já contabiliza como certos os apoios praticamente todos os partidos da base do governo federal para a campanha petista.
Indefinicão
Ciente do capital político que o candidato derrotado tem hoje nas mãos, o coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, tem negado que o apoio do partido no segundo turno já esteja definido. A situação política do PRB colabora para essa indefinição, uma vez que a sigla pertence à base do governo Dilma Rousseff, mas também apoia o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na Assembleia Legislativa do estado.