Correio braziliense, n. 20464, 01/06/2019. Brasil, p. 6

 

Cidade mineira segue em alerta

Gabriel Ronan 

Cristiane Silva

01/06/2019

 

 

Uma notícia trouxe alento aos moradores de Barão de Cocais, na região central de Minas Gerais, ontem, em meio à apreensão que tomou conta da cidade há mais de uma semana. Na madrugada de ontem, uma pequena porção do talude norte da Mina de Gongo Soco, administrada pela Vale, se esfarelou e caiu dentro da cava do complexo minerário. Apesar do susto, o rolamento de terra não impactou a Barragem Sul Superior, em risco iminente de rompimento desde 22 de março, segundo a empresa.
A queda de menor proporção indica que a encosta deverá se desfazer aos poucos, sem maiores abalos que poderiam se propagar até a barragem, que se encontra em estado crítico, causando um mar de lama semelhante ao que arrasou áreas de Brumadinho, no início do ano. A distância entre as duas estruturas em risco é de 1,5 quilômetro. De acordo com a mineradora, a placa que se descolou tem 20 metros de largura por 30 metros de altura.
Segundo o tenente-coronel Flávio Godinho, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), o que o órgão classificou como desplacamento ocorreu por volta das 5h. “Foi um desprendimento de uma parte insignificante, segundo a Vale, que caiu dentro da cava e não trouxe nenhuma característica de gatilho ou possível tremor que viesse a ter consequências na Barragem Sul Superior”, destacou.
Ainda de acordo com Godinho, o desplacamento não altera em nada os trabalhos da Vale e da Defesa Civil, que vão continuar monitorando tanto o talude quanto a barragem hoje. A cava, que é o local de onde se extraiu o minério, tem cerca de 110 metros de profundidade, sendo que a água acumulada dos lençóis freáticos e da chuva está ao nível de 50 metros. O paredão em movimento apresenta inúmeras erosões, trincas e fissuras. Uma boa parte se encontra submersa.
“As primeiras avaliações indicam que o material está deslizando de forma gradual, o que até o momento corrobora as estimativas de que o desprendimento do talude deverá ocorrer sem maiores consequências”, informou a Vale, por meio de nota.
O talude que está ameaçando ruir tem 10 milhões de metros cúbicos. Segundo a Cedec, cálculos dos engenheiros contratados pela Vale para o monitoramento dessa estrutura mostram que a cava da mina pode comportar duas vezes e meia o volume do paredão. O pior cenário é um descolamento repentino da placa, que pode causar uma onda de choque capaz de fazer com que os rejeitos da Barragem Sul Superior entrem em processo de liquefação e o represamento se rompa.
Os cerca de 400 moradores da Zona de Autossalvamento (ZAS) da Mina Gongo Soco foram evacuados em 8 de fevereiro, quando a represa entrou no nível 2 de instabilidade. A preocupação fica, agora, com a Zona Secundária de Segurança (ZSS), que já passou por dois treinamentos de emergência. Em caso de colapso de Sul Superior, a onda de rejeitos chegaria à ZSS em uma hora e 12 minutos. Além disso, um possível desastre também contaminaria o Rio Doce, já arrasado pela tragédia de Mariana, em novembro de 2015.