Título: Pesos e medidas das urnas
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2012, Política, p. 6

Diante dos resultados municipais de ontem, nomes de destaque na política brasileira testaram aforça de suas apostas. Lula, por exemplo, levou Haddad ao segundo turno, mas amargou derrotas em Belo Horizonte e no Recife

HELENA MADER

Nenhum dos ganhadores das eleições municipais de 2012 teve um triunfo ab­soluto e acachapante. O resultado do pleito de ontem foi um jogo de perde- ganha, em que os grandes caciques dos princi­pais partidos brasileiros comemoraram o êxito em algumas capitais, mas também amargaram o gosto da derrota em outros municípios impor­tantes. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, subiu ao palanque do candidato petista à prefeitura de Belo Horizonte, Patrus Ananias, mas não conseguiu levá-lo ao segundo turno. Lula, entretanto, teve êxito em sua princi­pal aposta para 2012: Fernando Haddad conti­nua na disputa em São Paulo e vai tentar bater o tucano José Serra daqui a três semanas.

O mesmo ocorreu com outro grande ganhador das eleições municipais: o governador de Per­nambuco, Eduardo Campos. Ele comemorou a vitória de seu candidato à prefeitura do Recife, Geraldo Júlio, mas viu seu partido naufragar em Curitiba, João Pessoa e Aracaju. Apesar dos fra­cassos pontuais, Lula e Campos têm em comum a vitória em seus principais fronts de batalha.

No Palácio do Planalto, as duas principais ministras da equipe da presidente Dilma Rousseff amanheceram com ânimos distintos. A chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, conse­guiu eleger o pedetista Gustavo Fruet em Curi­tiba. Já a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, se empenhou muito para tentar levar Ângela Albino à vitória em Florianópolis. Mas a candidata do PCdoB não conseguiu che­gar ao segundo turno.

QUEM GANHA

FHC

Ex-presidente da República e um dos principais caciques tucano, Fernando Henrique Cardoso ajudou a alavancar a candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo. Ele gravou mensagens para o programa eleitoral, participou de comícios e foi anfitrião de um evento que reuniu artistas e intelectuais em prol do correligionário. Em seus discursos, FHC explorou muito o escândalo do mensalão e tentou vincular a imagem do petista Fernando Haddad ao esquema de corrupção. Falou na necessidade de uma "recuperação moral" e afirmou que "São Paulo não aceita quem é tolerante com desvios de dinheiro público".

Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o grande avalista da candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. Teve de usar asuaforça para impor o nome do pupilo e enfrentou a resistência de petistas históricos. Uma derrota do ex-ministro da Educação seria sinônimo de fracasso avassalador para Lula. Poucos dias antes do pleito, ele declarou em entrevista que a disputa paulista deste ano era a mais difícil que já havia enfrentado. A frase foi encarada como uma demonstração de receio de Lula diante da possibilidade de derrota. Mas apesar de ter ocupado aterceira posição de todas as pesquisas, Haddad conseguiu uma vaga no segundo turno e vai protagonizar uma das maiores disputas eleitorais da história brasileira. Lula subiu também ao palanque do derrotado Patrus Ananias, em Belo Horizonte, e amargou o fracasso do ex-ministro do Desenvolvimento Social nas urnas. Lula deve concentrar esforços nas próximas três semanas para tentar eleger Haddad e manter intacto sua força e prestígio.

Aécio Neves

Depois do polêmico rompimento entre PSB e PT na capital mineira, o que levou à nacionalização das eleições de Belo Horizonte, o senador tucano Aécio Neves ganhou espaço na disputa. O candidato apoiado por Aécio, Márcio Lacerda (PSB), conseguiu levar a prefeitura de BH no primeiro turno, com 52% dos votos. Além disso, Aécio subiu no palanque de ACM Neto, candidato do DEM à prefeitura de Salvador, que, em um pleito apertado, terminou em primeiro lugar, com 40% dos votos. Ele disputará o segundo turno com o petista Pelegrino. Aécio também foi à capital paraibana para apoiar o candidato tucano à prefeitura de João Pessoa Cícero Lucena, que disputará o segundo turno contra o petista Luciano Cartaxo.

Gleisi Hoffmann

O candidato à prefeitura de Curitiba pelo PDT, Gustavo Fruet, teve o apoio da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. As pesquisas não indicavam a sua presença no segundo turno mas, ainda assim, Gleisi gravou mensagens para o pedetista e foi à capital paranaense, onde fez caminhadas e visitas a pontos de grande concentração de eleitores. O suporte da ministra, que é um dos braços direitos da presidente Dilma Rousseff ajudou. Fruet, que fazia oposição ao governo Lula mas trocou o PSDB pelo PDT, vai disputar o segundo turno com Ratinho Júnior, do PSC.

Eduardo Campos

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, venceu em seu principalfront de batalha. Seu candidato à prefeitura do Recife, Geraldo Júlio, levou o pleito ainda no primeiro turno, com 51% dos votos. Campos emplacou um candidato novato, que começou patinando nas pesquisas mas, em pouco mais de dois meses, subiu lentamente nas intenções de voto e bateu o escolhido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Humberto Costa. A vitória no Recife é simbólica e dá forças aos projetos de Eduardo Campos para2014.

Heloísa Helena

A ex-senadora Heloísa Helena, do Psol, se reelegeu para a Câmara Municipal de Maceió como a vereadora mais votada da capital alagoana. Esta é a segunda vez que ela lidera como candidata com maior percentual de votos na cidade. Nesta eleição, ela teve 4,6% de todos os votos. Ao todo, eram 456 pessoas na disputa por uma das vagas para a câmara. Expulsa do PT em 2003 e uma das fundadoras do Psol, Heloísa Helena ganha força para as eleições de 2014, seja como candidata, seja como apoiadora a um dos candidatos no pleito estadual.

QUEM PERDE

Mensaleiros

O impacto do mensalão nas eleições municipais não foi forte o suficiente para derrotar o principal candidato do PT, Fernando Haddad. Mas a Ação Penal 470 sepultou a carreira política e os planos eleitorais de boa parte dos mensaleiros. O ex-presidente do PT José Genoino tentou votar com discrição mas, diante do assédio da imprensa, partiu para o ataque. Ele chegou à zona eleitoral onde vota, no bairro do Butantã, logo depois da abertura do local, por volta das 8h. Desistiu de ir às urnas e só voltou meia hora depois. Votou acompanhado das filhas e, na saída, dedo em riste, disparou contrajornalistas. "Vocês são urubus que torturam a alma humana. Vocês fazem igual aos torturadores da ditadura. Só que agora não têm pau de arara, têm a caneta", bradou. Na semana passada, ele foi condenado portrês ministros do Supremo por corrupção passiva e absolvido pelo revisor, Ricardo Lewandowski. Faltam apenas três votos para que ele seja declarado culpado.

Marcelo Déda

O governador de Sergipe, Marcelo Déda, se empenhou na campanha do candidato do PSB à prefeitura de Aracaju, Valadares Filho, que acabou derrotado. Valadares terminou a disputa em segundo lugar, com 37% dos votos, o que inviabilizou a realização de um segundo turno. João Alves, do DEM, levou o pleito no primeiro turno, com 52% dos votos. Já internado em São Paulo para tratar um câncer, Déda chegou a gravar um vídeo de apoio ao candidato do PSB. Mas o esforço foi em vão.

Ideli Salvatti

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi onipresente na campanha da candidata do PCdoB à prefeitura de Florianópolis, Ângela Albino. Juntas, elas fizeram caminhadas em vários bairros e a ministra teve de ouvir queixas em relação à atuação do governo federal. Ontem, Ideli acompanhou a sua candidata na votação, mas não adiantou. Ela terminou a disputa em terceiro lugar, com 25% dos votos, e ficou de fora do segundo turno. A derrota afeta os planos políticos de Ideli, possível candidata ao governo de Santa Catarina em 2014.

Sarney

O candidato apoiado pelo presidente do Senado não conseguiu chegar ao segundo turno em São Luís. O petista Washington Luiz, atual vice-governador do Maranhão, tinha o suporte do governo federal e da família Sarney, mas acabou na quarta posição. O resultado das urnas é uma derrota dupla para o ex-presidente. Seu maior rival político no estado, o presidente da Embratur, Flávio Dino, fez campanha para EdivaLdo Holanda Júnior, do PTC, que conseguiu ir ao segundo turno e acabou a disputa em primeiro lugar. Com o resultado, Dino se fortalece para as eleições de 2014 e já representa uma ameaça ao domínio dos Sarney não só em São Luís como em todo o estado.

Michel Temer

O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), se empenhou para ampliar o espaço do partido em São Paulo. Para isso, lançou a candidatura do deputado Gabriel Chalita. Mas Temer não foi suficiente para colocar o deputado federal no segundo turno. Chalita ficou em quarto lugar, com 13% dos votos. O PMDB também esperava eleger pelo menos quatro vereadores em São Paulo. Mas o partido só conquistou uma das 55 vagas na Câmara Municipal: o peemedebista Ricardo Nunes foi o 41.

Humberto Costa

A candidatura do senador petista Humberto Costa à prefeitura do Recife começou controversa. Seu nome foi imposto pelo PT apesar da vitória do atual prefeito, João da Costa, nas prévias. Costa largou como favorito, mas despencou nas pesquisas. O senador sonhava com a presença de Lula, mas o ex-presidente alegou razões médicas para não ir ao Recife. Assim, Humberto acabou na terceira posição. Ele não foi o único representante do Senado derrotado nas urnas. Wellington Dias ficou em terceiro em Teresinae Inácio Arruda amargou a sétima posição em Fortaleza.

José Agripino

O presidente nacional do DEM, José Agripino, subiu ao palanque do deputado federal Rogério Marinho (PSDB), candidato à prefeitura de Natal. Mas o apoio não ajudou a alavancar a candidatura de Rogério, que terminou em quarto lugar, com 10% dos votos. O tucano contava também com o apoio da governadora Rosalba Ciarlini. Esta é a segunda grande intervenção frustrada do senador na política do estado. A atual prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), eleita com o apoio de Agripino, hoje amarga a maior rejeição do Brasil. Para 92% dos eleitores, sua gestão é ruim ou péssima.

Manuela D"Ávila

A deputada Manuela D"Ávila (PCdoB) começou a campanha pela prefeitura de Porto Alegre como favorita. Na pesquisa do Ibope divulgada em 1° de setembro, ela liderava com 37% das intenções de voto, contra 35% de Fortunati. Mas, nas últimas semanas, Manuela despencou nas sondagens e terminou quase 40 pontos percentuais atrás do novo prefeito da capital gaúcha, José Fortunati. Pouco depois das 18h de ontem, ela já reconhecia a derrota. "Voltarei ao meu mandato e farei o que for possível, como sempre tentei fazer, para ajudar Porto Alegre e o Rio Grande do Sul", declarou pelo Twitter.