O globo, n. 31363, 20/06/2019. Economia, p. 15

 

Entrevista - Renato Covelo: 'A marca avianca é nossa"

Renato Covelo

Leo Branco

20/06/2019

 

 

Desde maio, o advogado brasileiro Renato Covelo ocupa a presidência interina da AviancaHoldings, aérea colombiana que compartilha o nome com a Avianca Brasil, mas é gerida de forma independente. O mandato de Covelo, que termina em 15 de julho com a chegada do holandês Anko Van der Werff, exKLM, tem sido marcado pelo esforço de distanciar a empresa da “irmã” brasileira, em recuperação judicial.

Como a situação da Avianca Brasil afetou a situação da Avianca Holdings?

Tivemos um prejuízo de US$ 3 milhões com a recuperação judicial, além de custos de US$ 5,5 milhões para reacomodar 5.500 passageiros em outras companhias. Além disso, temos a marca, sobre a qual ainda não temos como avaliar o tamanho do impacto.

Com a Avianca Brasil parada, há planos de expansão da malha no país?

Estamos buscando entrar (com voos internacionais) em uma cidade no Centro Oeste e outra no Nordeste. Mas entrar no mercado doméstico do Brasil não está no nosso plano agora. O Brasil é um país difícil de operar, com custos de combustível e impostos altos. Os custos operacionais dos aeroportos brasileiros são altíssimos.

Qual sua avaliação sobre o futuro da Avianca Brasil?

Queremos que aconteça o melhor. Havia uma oportunidade de um leilão único, da Azul, que ia comprar uma operação inteira, com aviões, pessoal e slots .Oque estão vendendo agora são unidades produtivas isoladas, que não estão produzindo nada.

O plano da Azul era melhor?

A Azul ia levar a concessão, funcionários, aviões, tudo. Do jeito que foi feito, agora há uma disputa, mas não há um pacote completo, como era com o outro plano. É preciso ver qual vai ser o interesse dos competidores no leilão do dia 10 de julho.

Como fica o contrato de uso da marca Avianca pela Avianca Brasil?

Na segunda-feira, notificamos o juiz da recuperação judicial de que o contrato de concessão da marca está encerrado. Tinha uma regra do leilão que dizia que quem comprasse (os ativos) poderia usar a marca Avianca por mais 180 dias. Acreditamos que isso não vai acontecer. Se a Avianca Brasil quiser voltar a voar, não vai ser com a mesma marca. Terá que usar outra marca, porque esta é nossa.

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Fim de voo

Geralda Doca

Glauce Cavalcanti

Manoel Ventura

20/06/2019

 

 

Com alta de 30,9% nos bilhetes, Anac deve retomar autorizações da Avianca

Com aumento de 30,9% no preço médio das passagens aéreas no país em abril, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deve retomar os slots (autorizações de pouso e decolagem) da Avianca Brasil. Uma reunião da agência na próxima semana formalizará a decisão. Acrise da empresa teve impacto direto noval ordos bilhetes. A companhia aérea não conseguiu cumprir boa parte dos voos previstos e parou de voar no fim de maio.

A decisão pode aca barde vez com o leilão de bens da Avianca, marcado para 10 de julho. O ativo mais precioso da companhia dos irmãos José e Germán Efromovich são justamente as autorizações de voos em Congonhas. No mercado como um todo, a alta em abril foi de 30,9% na comparação com igual mês do ano passado e valor médio de R$ 445,85.

A decisão da Anac será comunicada ao juiz que está conduzindo o processo de recuperação judicial da Avianca, João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falência da Justiça de São Paulo. Segundo fontes da agência, ele já teria sido informado sobre o plano do órgão regulador.

Os números mostram que as concorrentes aproveitaram o cenário de saída gradual da Avianca para praticar preços mais altos. A Gol teve aumento de 38,2% e a Latam, de 41,4%. A Azul registrou alta de 19%.

Alta de 72 na ponte aérea

Nas rotas mais disputadas em que a Avianca tinha maior representatividade, os preços dispararam. Na ponte aérea Rio-São Paulo, considerada a mais rentável do mercado brasileiro, o aumento foi de 72%, para R$ 384,21. O trecho entre Rio e Salvador, a partir do Galeão, teve alta de 84,09%, para R$ 625,84.

Nicole Villa, especialista em direito aeronáutico do ASBZ Advogados, destaca que o aumento de preços é resultado de uma combinação de fatores:

—A saída de uma empresa do mercado traz impacto em aumento de preços. Pesa também o aumento do preço do petróleo e do dólar. O combustível representa 30% do custo operacional das empresas, e a base tarifária é composta em dólar.

O governo aposta na abertura do mercado, aprovada no Congresso este ano, para conter preços. Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o fim das restrições à atuação de empresas estrangeira sé a receita para baratear as passagens.

—A abertura de mercado foi extremamente bem-vinda. Vai trazer player novo, competição, evai ter reflexona tarifa. O problema da tarifa no Brasil é a falta de competição. Quando houver competição, a tarifa vai baixar —disse, destacando que o processo corre em paralelo coma concessão de a ero portos à iniciativa privada e que os novos concessionários vão trazer mais empresas.

De outro lado, a Anac tem critérios para a ocupação de aeroportos que já estão saturados. Para manter os slots, as companhias são avaliadas acadas eis meses quanto à regularidade dos voos. No caso de Congonhas, acada cem voos programados, as empresas precisam operar 92. Em abril, a Avianca cancelou mais de mil voos no país.

Com isso, a Avianca não conseguiu cumprir o requisito de regularidade em vários aeroportos onde operava, como Guarulhos e Galeão, por exemplo. Até o próximo domingo, ela deixa de cumprira exigência em Congonhas, o que dá respaldo à Anac para retomar todas as autorizações de pouso e decolagem.

Mudança de regra da ANAC

A Avianca tem 41 slots em Congonhas, e a distribuição deles tem efeito sobre os preços dos bilhetes, por seu papel central na malha aérea das companhias. A regra da Anac, que visa estimular o aumento da competição, prevê que uma nova entrante teria direito a 50% dos slots da Avianca em Congonhas. Sem anova concorrente, a regra prevê que as autorizações sejam distribuídas de forma igualitária entre as aéreas que já operam essas rotas. O problema é que isso fortaleceria a presença de Latam e Gol, que respondem por 88% das operações em Congonhas. Seguindo este critério, as duas passariam ater um duopólio com 92% dos voos.

Uma medida que está em análise pela diretoria seria privilegiara Az ulna redistribuição, que tem poucas operações no terminal. A Azul tem 26 slots, a Latam, 236, e a Gol 235. Para isso seria preciso revisara regra. Uma decisão deverá ser tomada em caráter emergencial para resolver o problema da oferta e reduzir o preço das passagens, segundo fontes do órgão regulador.

Para Humberto Bettini, professor de Engenharia de Produção da USP, o cenário de crise dificulta uma solução rápida para o caso:

—Com a crise, as empresas cortaram oferta. A ocupação está alta; as passagens, caras. Não é fácil ampliar oferta.

Perguntada sobre o aumento de preços, a Latam afirma que a escassez da oferta e o aumento da demanda com a crise da Avianca resultaram num desequilíbrio que deve durar de quatro a seis meses. Sobre a redistribuição de slots, a empresa afirma que aguarda o leilão da Avianca.

A Azul diz que os preços seguem fatores como sazonalidade, trecho, compra antecipada e disponibilidade de assentos, e ressalta o impacto do dólar e do valor do combustível. Sobre a redistribuição, diz que apenas duas companhias operam a ponte aérea e que espera que o órgão regulador tome a decisão que beneficia o consumidor.

A Gol afirma que, se o leilão da Avianca não ocorrer, espera que a Anac siga a regra atual. Sobre os preços, explica que os valores oscilam com o tempo e de acordo com a ocupação do voo, tornando a tarifa mais barata quando a compra é feita com antecedência.