O Estado de São Paulo, n. 45901, 20/06/2019. Política, p. A5

 

PF suspeita que hacker se passou por Moro

 

 

 

 

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

 

 

Investigação rastreou mensagem enviada em junho a funcionário do Ministério da Justiça

 

FELIPE RAU/ESTADÃO -1/4/2019

Procurador. Inquérito também apura invasão em celular de Deltan Dallagnol

 

A Polícia Federal identificou a atuação de um hacker que tentou se passar pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e mandou mensagens para terceiros em nome do ex-juiz da Operação Lava Jato. Uma das mensagens foi enviada no dia 4 de junho a um funcionário do próprio gabinete de Moro depois de ativar uma conta do Telegram – aplicativo de troca de mensagens via internet. O ministro da Justiça afirma ter saído do Telegram em 2017, quando sua conta foi excluída.

A reportagem teve acesso à mensagem na qual, segundo a PF, o hacker usa uma conta do Telegram vinculada ao número de Moro. No aparelho que recebeu, o nome aparece com “SFM”, abreviação de Sérgio Fernando Moro. Era 4 de junho, mesmo dia em que Moro acionou a PF para relatar ter recebido três ligações do seu próprio número.

“Boa noite. O que achou dessa matéria?”, diz o texto, anexado a uma publicação do site do próprio Ministério da Justiça sobre o projeto anticrime do governo. A mensagem foi enviada por uma pessoa próxima de Moro às 21h17, após sua conta aparecer no aparelho: “4 de junho. SFM entrou para o Telegram”. No aparelho do servidor aparece então a mensagem: “Vou ler”.

 

Clone. O celular do ministro foi invadido por volta das 18h do dia 4, conforme a PF. Após receber três telefonemas do seu próprio número, Moro acionou a PF, que instaurou inquérito para investigar ataques feitos por hackers. Outro inquérito foi aberto para apurar ataques aos celulares de procuradores da República – um deles foi o do coordenador da forçatarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Além de Moro e Dallagnol, outros nomes ligados à Lava Jato foram alvo de hackers. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação das investigações.

Ontem, a força-tarefa no Paraná informou que os procuradores desativaram suas contas do aplicativo Telegram em abril. Em nota, a Lava Jato relatou que, desde então, “vários de seus integrantes vêm constatando ataques a seus aplicativos”.

Diálogos atribuídos a Moro e a Dallagnol passaram a ser divulgados pelo site The Intercept Brasil. Segundo o site, eles indicariam suposta conduta irregular do então juiz e consequente comprometimento das decisões dos processos julgados. Moro e Deltan negam ilícitos e acusam “crime às instituições”.

Ataques

A Lava Jato diz que desde abril procuradores vêm sendo alvo de ataques às contas no Telegram, com sequestro de identidade virtual.