O Estado de São Paulo, n. 45901, 20/06/2019. Economia, p. B1

 

BC vincula corte da taxa de juros ao andamento da reforma da Previdência

 

 

 

Fabrício de Castro

Eduardo Rodrigues

20/06/2019

 

 

Decisão. Copom manteve a Selic em 6,5% ao ano, pela 10ª vez consecutiva; apesar da economia fraca e da inflação baixa, o que abre e espaço para um corte de juros, comitê afirmou que, neste momento, risco de as reformas não passarem no Congresso é ‘preponderante’

 O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic (a taxa básica de juros da economia) em 6,5% ao ano, pela décima vez consecutiva, apesar da fraca atividade econômica. A instituição indicou que o andamento da reforma da Previdência no Congresso será fundamental para suas próximas decisões. Para economistas do mercado financeiro, o recado é de que somente com a reforma haverá espaço para o corte dos juros.

Apesar da fraqueza da atividade econômica no Brasil, o Banco Central decidiu não mexer nos juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve ontem a Selic (a taxa básica da economia) em 6,5% ao ano, pela décima vez consecutiva. Ao mesmo tempo, a instituição indicou que o andamento da reforma da Previdência no Congresso será fundamental para suas próximas decisões. Para economistas do mercado financeiro, o recado é de que somente com a reforma haverá espaço para cortar juros.

A manutenção da Selic no menor valor da história era esperada entre os profissionais do mercado financeiro, mas havia a expectativa de que, ao anunciar sua decisão, o Copom passasse indicações de que os juros podem cair nos próximos meses.

Em comunicado, o BC deixou claro que os índices mais recentes de atividade “indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos trimestres”. Em outras palavras, a recuperação da economia parou.

Além disso, o BC pontuou que o cenário externo está mais favorável, após as indicações de que os países centrais não vão elevar juros tão cedo. Na tarde de ontem, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que um corte de juros pode estar a caminho.

Estes dois fatores – a atividade fraca no Brasil e o exterior favorável – poderiam levar o Copom, em tese, a cortar os juros. Só que o colegiado disse ontem que, neste momento, o risco de as reformas não passarem no Congresso é “preponderante”. Na prática, o BC não vê risco maior de a reforma da Previdência fracassar, mas vincula eventual corte da Selic à aprovação da proposta.

“O momento do início do corte da Selic está vinculado à aprovação da Previdência”, avaliou o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. “Se a reforma passar na Câmara antes do recesso parlamentar (em julho), o Copom começa o ciclo de corte em juros. Caso a votação fique para agosto, a redução dos juros começa em setembro.”

Segundo o relatório Focus, as projeções médias no mercado financeiro eram de que o BC promoverá pelo menos três cortes da Selic em 2019, a começar justamente em setembro. Desta forma, a taxa básica terminaria o ano em 5,75% ao ano.

“Todos que preveem corte de juros condicionam esse movimento à evolução favorável das reformas”, reforçou o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall.

Os baixos índices de inflação parecem corroborar o cenário de uma Selic menor. Ontem, o Copom reduziu de 4,1% para 3,6% sua projeção de inflação para este ano – bem abaixo da meta de 4,25% (com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos)./ COLABOROU ANTÔNIO PEREZ