O Estado de São Paulo, n. 45899, 18/06/2019. Política, p. A10

 

Carlos evita homenagem a Mourão e deixa prédio

 

 

 

Denise Luna

18/06/2019

 

 

 

Alvo de ataques do filho de Bolsonaro, vice recebe medalha na Câmara Municipal do RJ

 

Adnilton Farias /VPR

Medalha. O vice-presidente Hamilton Mourão discursa durante sessão em sua homenagem na Câmara Municipal do Rio

 

Sem a presença do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), de quem recebeu críticas e acusações pelas redes sociais, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, recebeu ontem a Medalha Pedro Ernesto, principal homenagem conferida pela Câmara Municipal do Rio a quem é de fora da cidade e se destaca de alguma forma na sociedade local. Carlos chegou a apoiar a iniciativa de conceder a medalha a Mourão, em fevereiro, mas ontem fez questão de deixar o prédio logo após a chegada do general.

Cercado de seguranças e sem dar entrevistas, Carlos saiu rapidamente da Câmara em direção ao carro que já o esperava do lado de fora. Mourão chegou à Casa também cercado de um forte esquema de segurança, e não permitiu a presença de repórteres na cerimônia e nem conversou com a imprensa no fim do evento.

Em um discurso de menos de dez minutos, o vice-presidente recordou a época em que morou no Rio de Janeiro “e saía com o dinheiro na sunga para jogar um futebol na praia”.

Nascido no Rio Grande do Sul, Mourão chegou ao Rio de Janeiro em 1958 e anos depois foi estudar no Colégio Militar, “para realizar um dos meus maiores sonhos, que era me tornar paraquedista”. A homenagem aconteceu um dia após Mourão receber o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre.

Sem citar temas atuais do governo, o general se limitou a mandar uma mensagem de otimismo para a cidade, que enfrenta grave crise financeira e altos índices de violência. “O Rio é a nossa capital cultural, e eu tenho certeza de que, com a melhora da situação do nosso país, o Rio irá ocupar o lugar que merece”, afirmou ele.

 

Atritos. Desde que ajudou a aprovar a homenagem, em sessão realizada em 15 de fevereiro, muita coisa mudou na relação com Mourão. O filho “02” do presidente da República entrou em guerra pelo Twitter com o vice, a quem acusou, entre outras coisas, de tentar assumir um lugar de protagonismo no governo e, assim, colocar em xeque a autoridade do presidente.

Após insinuações de que Mourão queria o lugar de Bolsonaro – na época, se recuperando em São Paulo de uma facada durante a campanha, em Juiz de Fora –, o confronto entre os dois se intensificou quando Mourão reagiu a críticas feitas pelo escritor Olavo de Carvalho, considerado “guru” da família Bolsonaro, aos militares. Carlos chegou a disparar 17 mensagens em rede social com críticas ao general em um único dia.

Outro ataque contra Mourão teve como pretexto a decisão do vice de aceitar participar de uma palestra nos Estados Unidos, organizado pelo instituto Wilson Center. À época, o texto do convite criticava o que a entidade via como paralisia do governo Bolsonaro, ao mesmo tempo que elogiava o desempenho de Mourão. “Se não visse não acreditaria que aceitou (o convite) com tais termos”, disse Carlos em uma publicação no Twitter no dia 23 de abril.

A crise social e econômica na Venezuela foi outro ponto de atrito entre os dois, depois que o vice-presidente fez comentários para que o País não se envolvesse a ponto de estimular uma guerra civil no vizinho.

Outra divergência ficou explícita, publicamente, quando o ex-deputado Jean Wyllys anunciou sua saída do Brasil, alegando ter recebido ameaças contra sua vida. Mourão afirmou que o País poderia protegê-lo. “Nosso governo não tem política para perseguir minorias, esse não é o jeito que nós nos comportamos”, afirmou o vice à época. Em reação, Carlos considerou a declaração uma demonstração de alinhamento do vice-presidente ao ex-parlamentar filiado ao PSOL. Wyllys mora agora na Europa.

 

‘Lugar que merece’

“Tenho certeza de que, com a melhora da situação do nosso país, o Rio irá ocupar o lugar que merece.”

Hamilton Mourão

VICE-PRESIDENTE