Título: Deu Chávez de novo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2012, Mundo, p. 18

Na disputa mais acirrada que enfrentou, com participação em massa nas urnas, presidente conquista mandato para mais seis ano

Hugo Chávez conquistou ontem seu quarto mandato consecutivo como presidente da Venezuela, ao fim da disputa mais acirrada que enfrentou em 14 anos de governo. Pouco depois das 22h (23h30 em Brasília), a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, anunciou o resultado oficial do pleito, com base na totalização de 90% dos votos: 54,4% para Chávez e 44,9% para o principal candidato da oposição, Henrique Capriles. A vantagem, àquela altura, era irreversível, no pleito ao qual compareceram 80,94% dos eleitores inscritos, a maior taxa das últimas décadas.

"Obrigado ao meu amado povo! Viva a Venezuela! Viva Bolívar! Graças a meu Deus! Graças a todos!", escreveu Chávez, minutos depois do anúncio, em sua conta no microblog Twitter. Capriles, que como o presidente prometera acatar o resultado oficial, havia se comprometido, em caso de derrota, a cumprimentar prontamente o adversário. "A primeira pessoa para quem vou telefonar será o presidente", afirmara o candidato em meio à tensa espera pelo pronunciamento do CNE. A proclamação da vitória do presidente foi o sinal de partida para a festa dos chavistas pelas ruas de Caracas e de outras cidades venezuelanas. Até então, militantes das duas campanhas se mantinham concentrados, com ambos os lados confiantes na vitória.

"Quem entra no jogo tem que aceitar as regras", disse Capriles depois de votar. Chávez, por sua vez, advertiu os simpatizantes a não fazerem "nada que possa manchar essa jornada". Em 14 anos de governo chavista, esta foi a primeira vez em que a oposição conseguiu representar uma ameaça real à hegemonia do líder bolivariano. O desempenho de Capriles, referendado por uma eleição primária organizada pela Mesa de Unidade Democrática (MUD), deixou evidente a divisão do país e a insatisfação de uma parcela significativa da população.

Chávez, que votara mais cedo no Colégio Manuel Palacios Fajardo, no bairro 23 de Janeiro, em Caracas, Chávez prometera acatar o resultado, "por um voto de diferença ou por três milhões". "Os atores políticos responsáveis devem reconhecer os resultados diante de um sistema eleitoral absolutamente transparente", disse, acompanhado de filhas e netos. Chávez citou o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e lembrou que o brasileiro elogiou o "excesso de democracia" na Venezuela. "Se há algum lugar no mundo onde a democracia renasceu com força, muita força, foi na América Latina", disse Chávez.

No mesmo tom, seu adversário declarou que a participação em massa dos venezuelanos foi uma demonstração de "confiança na democracia". Capriles prometeu que acataria "o que o povo dissesse" e afirmou que, depois dessas eleições, "não haverá nenhum povo derrotado". Na avaliação do cientista político Oscar Reyes, as afirmações demonstraram a "sensatez" dos candidatos e um amadurecimento político do país. "Estamos vivendo uma política de reconciliação", declarou, em entrevista ao Correio.

Reyes atestou que, embora os venezuelanos tenham ido às urnas em volume nitidamente superior ao verificado em eleições anteriores, o dia foi marcado por inesperada tranquilidade. A presidente do Tribunal Supremo de Justiça, a juíza Luisa Estella Morales, afirmou que o processo transcorreu "com normalidade". "Nossos compatriotas nos deram a oportunidade de encerrar as atividades nesta tarde sem que houvesse nenhum delito eleitoral", declarou ao jornal local El Universal.

No encerramento da votação, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, reiterou que a eleição foi conduzida "com tranquilidade e alegria". A maioria das urnas foi fechada às 18h (19h30 em Brasília), mas algumas permaneceram abertas até que o último leitor ainda na fila pudesse votar. "Devemos felicitar mais uma vez o povo da Venezuela, os eleitores e eleitoras desta magnífica jornada eleitoral. O povo venezuelano saiu, uma vez mais, para manifestar sua opinião e decidir com seus votos os destinos deste país", destacou Lucena. A segurança em Caracas e nas grandes cidades foi reforçada à noite, inclusive pelas Forças Armadas.

Apesar das afirmações de regularidade no pleito, jornais locais verificaram grandes filas e atrasos em alguns locais de votação. A organização não governamental Transparencia Venezuela denunciou, em um relatório divulgado em seu site, problemas em algumas seções. Os mais comuns foram urnas com defeito e evidências de boca-de-urna. O sistema venezuelano é 100% composto por urnas eletrônicas, assim como no Brasil.