Título: Turquia quer o vice no comando
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Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2012, Mundo, p. 19
Em meio ao acirramento dos combates na Síria entre forças do regime e rebeldes na capital, Damasco, e em Aleppo, segunda cidade do país, o governo da vizinha Turquia voltou a revidar disparos de artilharia que atingiram seu território e a defender a saída do presidente Bashar Al-Assad. O ministro turco de Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, sugeriu ontem que Assad entregue o poder a seu vice, Faruk Al-Sharaa, que integra a cúpula do Partido Baath desde o governo de Hafez Al-Assad, pai do atual mandatário. %u201CAl-Sharaa é um homem de razão e de consciência e não se envolveu nos massacres na Síria%u201D, disse Davutoglu à imprensa na capital turca, Ancara. %u201CNinguém conhece melhor do que ele os meandros da política síria%u201D, completou. O vice de Assad é integrante da maioria religiosa muçulmana sunita, ao contrário do clã governante, ligado à minoria alauíta, considerada um ramo do islã xiita, predominante no vizinho Iraque e também no Irã. O regime do Baath, instalado no poder desde os anos 1970, segue uma orientação laica e acusa as forças de oposição, predominantemente sunitas, de serem infiltradas por extremistas %u2014 seja da Irmandade Muçulmana, seja da rede terrorista Al-Qaeda. A Turquia, um dos países vizinhos que receberam o maior contingente de refugiados da guerra civil na Síria, elevou o tom de suas colocações desde o início do mês, quando enviou tropas para a fronteira e passou a revidar bombardeios originados de território sírio. Depois da morte de cinco civis em um incidente, o governo de Ancara passou a ordenar a sua artilharia que responda imediatamente aos ataques. Na capital síria, um policial morreu na explosão de um carro-bomba na área de estacionamento do quartel-general da polícia. Até a noite de ontem, nenhum grupo havia reivindicado a autoria do atentado, semelhante a ações anteriores assumidas pela Al-Qaeda. Em Aleppo, tropas leais ao regime reforçavam os bombardeios de artilharia contra bairros com presença de rebeldes do Exército Sírio Livre. %u201CSão os piores combates que vimos desde o começo da batalha pela cidade, em julho%u201D, afirmou à agência de notícias France-Presse um morador de 20 anos, que não quis se identificar. Em um ano e meio de confrontos, a violência na Síria já deixou mais de 31 mil mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).