Título: Dilma confirmada no palanque paulistano
Autor: Braga , Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2012, Política, p. 2

A presidente Dilma Rousseff resistiu até o último momento, mas decidiu participar de um ato público de campanha ao lado do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Será na segunda, em um comício em Guayanazes, Zona Leste. Como sonha a campanha petista, o evento ocorrerá na periferia, próximo a Itaquera, onde está sendo construído o estádio do Corinthians. Segundo especialistas em eleitorado, "mais povão, impossível".

A confirmação veio no fim da tarde de ontem. Pessoas próximas à presidente já haviam feito uma consulta na quinta-feira para saber qual seria a agenda da campanha no sábado. Foram informados de dois comícios — um em São Miguel Paulista e outro em Cidade Tiradentes, todos na Zona Leste. Lula estará em ambos, mas Dilma não se entusiasmou.

A decisão de participar do comício na segunda-feira foi reforçada pela presença, já confirmada, da presidente em uma cerimônia de entrega de prêmios da revista Carta Capital. O comício será antes da festa, já que, em seguida, a presidente embarcará para Lima, no Peru, onde participará da Cúpula da América do Sul — Países Árabes. O comício de segunda tornou-se a última brecha encontrada na agenda da presidente para que ela pudesse participar da campanha de Haddad. Depois do Peru, ela terá um evento do Brasil Carinhoso no Palácio do Planalto na quarta e, a partir de sexta, não são mais permitidos eventos de rua.

Ao longo das últimas semanas, Dilma começou a amadurecer a ideia, mas resistia a subir no palanque. Gravou diversas mensagens para o candidato do PT à prefeitura paulistana, mas vinha postergando a presença física, deixando a tarefa para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula e o PT convenceram-na da importância do apoio in loco para dar a arrancada final que garanta a presença do petista no segundo turno das eleições paulistanas.

Mesmo sem subir nos palanques, a presidente não pode ser acusada de omissão nas eleições paulistanas. Ela foi essencial para convencer a então senadora Marta Suplicy (PT-SP) a aderir à campanha em São Paulo. Para premiá-la, demitiu a ministra da Cultura, Ana de Hollanda e colocou a petista no lugar. Ontem, após o encontro de Dilma com o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, Marta não quis adiantar se a chefe viajaria para São Paulo. Mas confirmou a presença dela própria.

Outro que está animado para ajudar Haddad é o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. "Eu vou amassar bastante barro lá", brincou. "Tem comício, tem uma agenda bem intensa de mobilização. Nessa reta final, vou me dedicar intensamente à campanha. Tem comício com o Lula também na Zona Leste. Eu não tenho de cabeça, mas é bastante coisa. O pessoal está bem animado", disse o ministro.

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também estará na capital paulista neste fim de semana, para uma caminhada ao lado do candidato do partido à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita. Será no bairro do Brás, região central. Na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, Chalita manteve a quarta colocação, com 9% das intenções de voto.

O peemedebista ainda acha possível o milagre da virada para figurar entre os dois candidatos que disputarão o segundo turno. Antes do início da campanha eleitoral, Chalita era visto por muitos analistas políticos como uma possível terceira via diante da tradicional polarização entre PT e PSDB que marcou as últimas disputas eleitorais em São Paulo. Mas enfrentou dificuldades enormes com a falta de capilaridade do PMDB na capital — o partido era forte no interior, principalmente nos tempos em que o ex-presidente da legenda, Orestes Quércia, era vivo.

Comparação Depois de decidir que atacaria Fernando Haddad para forçar um segundo turno com José Serra e atrair o apoio da presidente Dilma Rousseff, Celso Russomanno resolveu, agora, se comparar a Lula. A propaganda, que será apresentada no horário eleitoral, já está pronta e servirá como uma resposta a Haddad, que tem questionado a pouca experiência administrativa do candidato do PRB.

No comercial, Russomanno lembrará que Lula também não tinha nenhuma experiência no Executivo antes de assumir a Presidência da República. O candidato do PRB ainda quer constranger Haddad, questionando como o afilhado do presidente pode exigir bagagem administrativa de um rival.

Interlocutores do partido de Russomanno ainda questionaram a presença de Dilma no palanque de Haddad. Eles defendiam a neutralidade da presidente.

"Bicho predador" O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, durante comício em Campinas (SP), que "o tucano é um bicho político predador". Ele se referia ao PSDB, partido que sempre perdeu para a esquerda no município. Lula estava ao lado de Márcio Pochmann, candidato que o ex-presidente apadrinhou. "A cidade sempre votou em pessoas da esquerda" , acrescentou Lula, lembrando das votações expressivas alcançadas por ele e pela presidente Dilma Rousseff o município paulista nas eleições presidenciais.

Boca de urna Veja o resultado da última pesquisa Datafolha

30% é o percentual de Celso Russomanno

22% dos eleitores declararam votar em José Serra

18% é o índice de Fernando Haddad, que subiu três pontos em relação ao levantamento anterior

Análise da notícia Apoio exclusivo A presidente Dilma Rousseff demorou a participar presencialmente de um comício nas eleições municipais deste ano. Ao decidir fazê-lo na última segunda-feira antes do primeiro turno das eleições, ela definiu que sua presença só acontecerá na disputa pela prefeitura de São Paulo, considerada estratégica para os planos do PT.

Diversas capitais esperavam ansiosamente a presença da presidente. Ela prometera ao presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, que iria a Manaus para abraçar em um palanque a senadora Vanessa Grazziottin, que concorre com o tucano Arthur Virgílio. Não foi.

Poderia ter aparecido em Belo Horizonte, capital da qual ela participou ativamente da construção da chapa que tem Patrus Ananias como candidato a prefeito pelo PT e o PMDB na vaga de vice. A dobradinha aconteceu após o rompimento entre os petistas e o PSB do atual prefeito, Marcio Lacerda.

Dilma, pessoalmente, convenceu o vice-presidente Michel Temer a retirar a candidatura de Leonardo Quintão (PMDB). Patrus até passou dos 30% de intenção de voto para prefeito, mas ainda é pouco para impedir a reeleição de Lacerda já no primeiro turno.

A presidente escalou um grupo de ministros próximos para dar-lhes um mapa detalhado e atualizado da evolução das candidaturas dos aliados nas diversas capitais brasileiras. Evitou envolver-se nas disputas nas cidades onde mais de um candidato da base do governo disputa a preferência do eleitorado. São Paulo tornou-se exceção, para ciúmes de Celso Russomanno (PRB) e de Gabriel Chalita (PMDB). (PTL)