Título: Pressão por tarifas mais baratas
Autor: Martins , Victor
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2012, Economia, p. 14

Por determinação da presidente Dilma Rousseff, o Banco do Brasil deve comunicar em breve a redução de sete de suas tarifas. O anúncio deveria ter sido feito ontem, mas a instituição ainda não estava preparada para colocar em prática a nova tabela de custos. A medida foi vista no mercado como uma segunda etapa do embate entre Palácio do Planalto e bancos — por pressão, todo o setor pode reduzir tarifas. Em reunião no Ministério da Fazenda, dirigentes do BB tentaram dissuadir o governo, temendo impactos no balanço e nas ações do banco. Mas, devido a fragilidade da economia e a intenção de impulsionar o país por meio do crédito, foi mantida a ordem de reduzir os custos para o consumidor.

Semelhante ao ocorrido com os juros no início do ano, quando BB e Caixa diminuíram o custo do crédito, a presidência espera obrigar todo o segmento a baixar tarifas. No início da semana, após uma bronca da presidente Dilma, o Bradesco cedeu e foi o primeiro a diminuir os juros do rotativo do cartão de crédito. Enquanto o consumidor comemorou o começo do processo de redução da modalidade de crédito mais cara do país, os investidores e analistas chamavam a atenção para o impacto no resultado das instituições financeiras. As ações de todo o segmento despencaram durante a semana. Ontem, diante da expectativa de que o BB mudasse suas tarifas, os papéis dos bancos sofreram nova rodada de perdas. As ações do BB ficaram entre as cinco maiores quedas do dia, fechando em baixa de 3,88%. Na semana, somaram perda de 6,49%.

As mudanças nas tarifas mobilizaram durante todo o dia de ontem a Vice-Presidência de Negócio e Varejo do BB, comandada por Alexandre Corrêa Abreu. A missão era projetar possíveis perdas, eventuais ganhos de escala e os resultados disso no balanço. Também incluía apresentar quais tarifas poderiam ser cortadas e em qual percentual. A área de Relação com Investidores também teve bastante trabalho: recebeu grande número de ligações telefônicas de analistas que queriam entender o impacto da decisão no balanço do banco.

Segundo a última apresentação de resultados da instituição, no primeiro semestre do ano as rendas com tarifas bancárias chegaram R$ 10,3 bilhões. A cifra é recorde e ajudou a impulsionar o desempenho do banco, que obteve lucro de R$ 5,7 bilhões, 7,5% a mais que em igual período do ano passado. Os números da instituição mostram ainda que os ganhos com tarifas foram potencializados devido a reajustes no início de 2012. Enquanto a base de clientes cresceu 4,17% no segundo trimestre de 2012 na comparação com igual período de 2011, as receitas comerciais do BB avançaram 11,98% e as rendas de tarifas 15,30%.

Dados no site do Banco Central e do próprio BB revelam que realmente houve elevação do custo das tarifas. Tirar o nome do cadastro de emitentes de cheques sem fundos, por exemplo, ficou R$ 3 mais caro, passou a custar R$ 39,18. Uma das taxas para emissão de extrato passou de R$ 1,60 para R$ 2. "O ministro Guido Mantega ordenou a queda das tarifas, que por sua vez já tinham sido aumentadas no início do ano. Na verdade, elas precisariam passar por novos aumentos, não de uma forma abusiva, mas para recompor a inflação. Pelo menos sete delas tinham de ser elevadas", explicou o economista João Augusto Salles, da Consultoria Lopes Filho.

Para um técnico do BB, a redução das tarifas terá apenas "impacto simbólico" no balanço do banco. Ele acredita que, mesmo que haja algum desconto, não haverá grande perda sobre os R$ 10 bilhões obtidos no primeiro semestre com serviços. Já o mercado se mostrou preocupado. "Não é bom para o BB, porque denota ingerência política forte. E não é bom para os bancos privados, porque, de uma forma ou de outra, eles tendem a acompanhar o movimento", argumentou Salles.

O maior problema, ainda segundo o economista, está na dificuldade dos bancos em converter os juros baixos em expansão de crédito. "O momento é de volatilidade. Não vamos estranhar se as ações dos bancos continuarem em queda na semana que vem, principalmente as do BB", disse. Procurado pelo Correio, o BB não se pronunciou.

Compensação Não foi só o Banco do Brasil que elevou tarifas, enquanto os juros ao consumidor caíram cerca de 10 pontos percentuais no primeiro semestre. De modo geral, os bancos, na média, elevaram o preço dos serviços em 3,51% — uma estratégia para compensar a perda de margem de lucro.