O globo, n. 31364, 21/06/2019. País, p. 4

 

Do ministério para os correios

Gustavo Maia

21/06/2019

 

 

Um dia depois da edição de medida provisória em que mudou de mãos a atribuição de articulação política, o governo do presidente Jair Bolsonaro passou por outra mudança no Palácio do Planalto. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Floriano Peixoto, aceitou assumir o comando dos Correios, estatal que sofre com dificuldades financeiras e deve ser privatizada.

General da reserva do Exército, ele será o quarto ministro de Bolsonaro a deixar o cargo, sendo o segundo da mesma pasta. O anúncio deverá ser feito por Bolsonaro hoje, em evento no Palácio do Planalto. Até o momento, não se sabe quem assumirá o posto no lugar de Floriano.

A mudança se soma ao esvaziamento da Casa Civil, comandada por Onyx Lorenzoni, na relação institucional do Executivo com o Congresso. Esta tarefa passará a ser concentrada na Secretaria de Governo (Segov), que a partir de julho será chefiada pelo general Luiz Eduardo Ramos — substituto do ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido há uma semana. Também general da reserva do Exército, Peixoto era próximo de Floriano. As duas pastas ficam no quarto andar do Planalto, um acima do gabinete presidencial.

Bolsonaro havia anunciado a demissão do presidente dos Correios, o também general Juarez Aparecido de Paula Cunha, na última sexta-feira. Segundo o presidente, a exoneração foi motivada pela recente ida de Juarez à Câmara dos Deputados, a convite de partidos da oposição. Bolsonaro disse que o general se comportou “como um sindicalista” na ocasião e criticou fotos com deputados do PT e do PSOL.

Na última terça-feira, ele havia dito que não sabia quem seria o novo presidente da estatal, comentando que “a criança” estava nascendo. Em seguida, afirmou que havia “alguns nomes aparecendo”.

— Logicamente, o presidente que vai assumir vai cumprir o seu papel naturalmente. E o governo deu sinal verde para buscar a privatização, se bem que ela passa pelo Parlamento também.

Floriano chegou ao cargo substituindo Gustavo Bebianno, primeiro ministro a cair, ainda em fevereiro. No mesmo dia que comunicou a saída de Juarez, Bolsonaro foi questionado sobre a permanência de Peixoto e comentou que ele “ficou” no comando do ministério por ser secretário-executivo, o número 2 da gestão anterior.

O ministro da Secretaria-Geral não se pronunciou sobre a mudança. De perfil discreto e afeito à hierarquia militar, ele decidiu aguardar a manifestação do presidente. Deixar o comando de um ministério para assumir uma estatal é considerado um rebaixamento na administração federal. E esta opção já havia sido oferecida por Bolsonaro a Santos Cruz. Segundo o presidente, o ex-ministro não demonstrou interesse. Depois de uma saída turbulenta no segundo mês do governo, Bebianno também recebeu proposta para ocupar outros cargos, e também negou.

Nos últimos dez dias, Floriano foi o quarto militara deixar um cargo no governo. Além de Santos Cruze Juarez, outro general, o ex-presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, perdeu o cargo por pressão da bancada ruralista, no dia 11.

Na mesma MP que tratou da articulação política, a Secretaria-Geral ganhou mais relevância dentro do Planalto, recebendo a Subchefia de Assuntos Jurídicos(SAJ ), historicamente vinculada à Casa Civil. Ao órgão, hoje chefiado por Jorge Oliveira, um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro, compete verificara constitucionalidade e legalidade dos atos presidenciais.

Na chegada ao Palácio do Alvorada por volta das 18h50 de ontem, Bolsonaro desceu do carro, cumprimentou jornalistas e apoiadores, mas ignorou as perguntas sobre a saída de Floriano. Em transmissão ao vivo pelo Facebook, minutos depois, também não falou sobre o ministro, mas citou o novo chefe da Segov.

— Ontem a Bolsa (de Valores) ultrapassou 100 mil pontos. Quando cai, botam a culpa em mim, pois Bolsonaro falou isso ou aquilo. Quando sobe, ninguém fala nada na imprensa. Eu vou creditar os 100 mil pontos ao meu amigo, general Ramos, que está chegando para assumira Secretaria de Governo. Alô, Ramos! Tu começou com pé direito — declarou Bolsonaro. (Colaborou: Patrik Camporez)

"Até a noite de ontem, Bolsonaro não havia anunciado substituto de Floriano Peixoto"

Quem deixou a esplanada

Gustavo Bebianno

Gustavo Bebianno deixou a Secretaria-Geral da Presidência em 18 de fevereiro. O processo de desgaste começou com denúncias de supostas irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL e chegou ao estopim quando ele foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, por meio do Twitter. O ex-ministro nega as acusações.

Ricardo Vélez Rodríguez

O presidente Jair Bolsonaro demitiu em 8 de abril Ricardo Vélez Rodríguez do Ministério da Educação. O anúncio foi feito por meio do Twitter. Decisões polêmicas, como a revisão dos livros didáticos sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar e uma orientação para que as escolas filmassem os alunos cantando o hino, fizeram com que críticas recaíssem sobre a gestão.

Carlos Alberto dos Santos Cruz

Após dois meses de fritura, Jair Bolsonaro demitiu no último dia 13 o general Santos Cruz da Secretaria de Governo da Presidência. A decisão foi atribuída por um auxiliar do presidente a uma “falta de alinhamento político-ideológico”, além de embates com outros integrantes do governo. Ele foi alvo constante de críticas de Carlos Bolsonaro e da ala ideológica do governo.